Ao que consta, a lei que cria a autoridade administrativa independente para a regulação da Comunicação Social e o respectivo estatuto regressam, de novo, ao Parlamento para discussão e eventual aprovação. Espero que desta vez seja mesmo para valer, até para se poder cumprir o preceito constitucional introduzido na última revisão ordiária.
A convicção de que sector da comunicação social não constitui prioridade para os actores políticos, não importa o governo de turno, tem vindo a acentuar-se junto dos profissionais, não faltando exemplos que reforcem esse sentimento. Senão vejamos: Para que os jornalistas pudessem dispor de um título que os habilitasse a exercer a profissão, a tão aguardada carteira profissional, um imperativo da Lei da Comunicação Social publicada em 1998, tiveram que esperar largos anos, num processo que se arrastou de 2004 a Abril deste ano, isso para não falar na trapalhada que foi a criação da Comissão da Carteira; o pacote legislativo para a comunicação social atolou na indefinição e no desinteresse (meia culpa para os jornalistas que se limitam a lamentar), saltitando de tutelas, até que, de uma assentada, foi aprovado no ano passado, não estando isento de críticas, pois, ao contrário do que se pretendia, há aspectos que configuram retrocessos no ordenamento jurídico dos meios; continua-se ainda à espera de uma clarificção sobre o âmbito e o modelo de serviço público de rádio e televisão que se quer para o país, até porque, note-se, desde a criação da RTC, em Agosto de 1997, ainda não existe um contrato de concessão que balize as relações entre Estado e a empresa, e salvaguarde os interesses do cidadão que é quem, de facto, financia o serviço em mais de dois terços; desde 2006, aquando da realização, com pompa e circunstância, do fórum “Comunicação Social em Momento de Viragem”, diga-se, em abono da verdade, um dos debates mais profícuos e esclarecedores sobre o sector já realizados entre nós, continua-se a aguardar o prometido “Plano Estratégico” para os media nacionais... poderia citar vários outros exemplos, mas devido à exiguidade do espaço, prescindo de o fazer.
A modernização do sector da comunicação social, que poderia constituir uma prioridade para um país insular como Cabo Verde, tendo em conta as vulnerabilidades de vária índole, não o é. É verdade que o país tem ainda pela frente um sem número de desafios a vencer, de que se destacam, a infra-estruturação, a luta contra a pobreza e exclusão social, o abstecimento de energia e água, a insegurança, a criminalidade urbana, o narcotráfico, o desemprego, a qualidade do ensino, as incivilidades, etc. mas, convenhamos, nada disso se conseguirá sem uma comunicação social forte, livre, vibrante, com a noção clara das suas responsabilidades sociais. A aposta numa cada vez maior qualificação e especialização dos jornalistas é o caminho a seguir.
Infelizmente, constata-se que não existe qualquer interesse em recolocar os media na agenda da cooperação internacional, quer a nível bilateral como multilateral. Ouve-se falar de milhões provenientes, nomeadamente, do MCA (há mais um pacote a caminho, e, claro, à comunicação social não lhe toca sequer um tostão furado); a Parceria Especial com a União Europeia até já se presta a avaliações, e a imprensa não é nem tida nem achada. Nos contactos com os parceiros tradicionais há muito que a imprensa deixou de fazer parte do menu das negociações. A lógica é do ‘apoio orçamental’ onde a fatia do bolo para os meios é bastante sofrível.
Para os actores políticos a comunicação social está forte e vigorante quando as suas actividades politico-partidárias, a começar pelas declarações e conferências de imprensa são cobertas pelos media. Ou seja, quando nos sujeitamos ao papel acrítico de caixas de ressonância ou de correias de transmissão. Se por uma outra razão, que bem pode estar ligada aos constrangimentos organizacionais ou a critérios jornalísticos, não se vai a uma actividade de um partido, as coisas mudam de figura, e então brande-se o fantasma da manipulação. Não lhes interessa se as necessidades dos cidadãos em matéria de informação, formação e entretenimento estão a ser satisfeitas.
Temos todos assistido no Parlamento a acesos debates sobre temas variados como, por exemplo, energia, justiça, competitividade da economia, até sobre o orçamento privativo da Assembleia Nacional, mas quando o assunto é comunicação social, a discussão se extrema em quem controla ou manipula mais. Alguém já ouviu, por acaso, um debate a sério sobre o serviço público de rádio e televisão em Cabo Verde que ajudasse a esclarecer algumas questões como, por exemplo, a sua independência e autonomia, o modelo de gestão (governamentalizado, parlamentarizado, de sociedade civil, misto…), o financiamento, a qualidade da programação, etc?
Até perece que existe um pacto entre os maiores partidos em como não vale a pena levantar muita celeuma em relação à comunicação social, sob pena de não se beneficiar do status quo quando se ascender ao poder. Pois, qual é o governo que não tem a tentação de pressionar e manipular os media? Vejo que não falei da ARC, fica para a semana.
Carlos Santos
http://kriolradio.blogspot.com/
Meu amigo,eu pensei que os jornalistas queriam maior distância dos poderes políticos e que iam fazer pela vida, criando empresas privadas, em vez de ficarem presos às migalhas do Estado. Nos países livres e democráticos, inclusive Portugal que tanto vc cita nos seus textos, os jornalistas não esperam nem formação quanto mais qualquer apoio do Estado, vidé os jornais, rádios e tvs. Este é um retrocesso. A única coisa que o Estado deve fazer é definir, reduzindo ao que deve ser, o serviço público da RTC, nada mais. Pelo que vejo os jornalistas continuam esperando pelo Estado, como pedintes. Triste realidade
ResponderEliminarDaniel Santos (dsantos59@live.pt)
Respeito a sua opinião, embora discorde dela. No estádio em que se encontra ainda a comunicação social no nosso país, espera-se do Estado a definição de politicas claras para o sector, nomeadamente, no que tange à definição de um modelo de um serviço público de rádio e televisão, reforçando a sua autonomia e independencia, o que passa,entre outras coisas, pela a criação de um quadro regulatório claro, pelo financimento, pelos investimentos, e pela definição de um modelo de gestão afastado das lógicas politico-partidárias. A formação e a especialização de jornalistas não dependem apenas destes, mas do que o Estado quer para o sector enqunato um dos pilares da democracia. Aliás, não é atoa que a CR fala da necessidade de haver um SPRT. Como deve saber em Cabo Verde o Estado continua a ser o "grande grupo" de comunicação social e o sector privado, concentrando os recursos humanos e tecnológicos. Mercê da pequenez do mercado o sector privado é ainda bastante incipiente. Interpretar a fragilidade da paisagem mediatica cabo-verdiana só pelo prisma dos jornalistas é "ver a árvore, ignorando a floresta". Convem lembrar que, apsera do lado liberar da profissão, os jornalistas integram-se em organizações empresariais.
ResponderEliminarRespeito a sua opinião, embora discorde dela. No estádio em que se encontra ainda a comunicação social no nosso país, espera-se do Estado a definição de politicas claras para o sector, nomeadamente, no que tange à definição de um modelo de um serviço público de rádio e televisão, reforçando a sua autonomia e independencia, o que passa,entre outras coisas, pela a criação de um quadro regulatório claro, pelo financimento, pelos investimentos, e pela definição de um modelo de gestão afastado das lógicas politico-partidárias. A formação e a especialização de jornalistas não dependem apenas destes, mas do que o Estado quer para o sector enqunato um dos pilares da democracia. Aliás, não é atoa que a CR fala da necessidade de haver um SPRT. Como deve saber em Cabo Verde o Estado continua a ser o "grande grupo" de comunicação social, concentrando os recursos humanos e tecnológicos. Mercê da pequenez do mercado o sector privado é ainda bastante incipiente. Interpretar a fragilidade da paisagem mediatica cabo-verdiana só pelo prisma dos jornalistas é "ver a árvore, ignorando a floresta". Convem lembrar que, apsera do lado liberar da profissão, os jornalistas integram-se em organizações empresariais.
ResponderEliminar