sábado, julho 04, 2009

UMA RÁDIO REVOLUCIONÁRIA

A História da radiodifusão cabo-verdiana está indelevelmente associada ao processo que desembocou na Independência Nacional a 5 de Julho de 1975, cuja efeméride assinalamos no próximo domingo. No plano da informação e da formação, foi decisivo o contributo da rádio na consciencialização dos cabo-verdianos para a necessidade de “nô tma nôs terra na nôs mom”.

Por isso, o KRIOL RÁDIO, ciente da sua missão, orgulha-se de apresentar uma comunicação proferida pelo jornalista Carlos Lima, em Dezembro de 2005, no Mindelo, para assinalar os 31 anos da tomada da Rádio Barlavento. O repto é-lhe também dirigido: se conhece um pouco da história da radiodifusão cabo-verdiana, por ter trabalhado, colaborado, ou, simplesmente, se lembra de como era a rádio há alguns anos, partilhe a sua memória com os leitores deste blogue. A rádio é o património da memória colectiva.



Após o seu surgimento, a rádio conquistou, em apenas 40 anos, um lugar tão importante na vida intelectual e económica da maioria dos povos. A sua presença indiscreta insinuou-se de tal forma nos nossos hábitos que hoje o mundo sem rádio nos colocaria numa posição muito remota. Aliás, são incontestáveis os valores da rádio enquanto meio de comunicação de massas.

Trata-se de um órgão que muito mais que a televisão ou o cinema estende o seu poder e a sua magia por todas as partes do mundo e a todos os meios sociais. Posso mesmo concluir que a rádio conseguiu impor modificações profundas nos hábitos e na maneira de viver do homem moderno. Ou seja, acredita-se que a rádio pôs fim a uma espécie de isolamento no qual o homem vivia.

Muitos vivem hoje à espera das palavras e do som dos seus receptores. É esta magia que transforma a arte de fazer rádio numa forma de levar o saber, a cultura e a informação genérica a todas as casas numa das mais abertas democracias do mundo.

É na base destes conceitos de rádio que recordamos a data de 9 de Dezembro, marcada pela passagem do trigésimo primeiro aniversário da tomada a Rádio Barlavento aqui na ilha de S. Vicente, por um grupo de populares, maior parte, jovens revoltados pelos conteúdos da programação dessa estação emissora. Entre essas pessoas vamos aqui recordar o nosso amigo Carlos Évora e o saudoso Cuks que já não está entre nós, infelizmente.

Registada sob a sigla Rádio Barlavento, estação emissora de ondas curtas CR4AC, emitindo na faixa dos 75 metros, os sanvicentinos tomaram as instalações no antigo Grémio Recreativo Mindelo, na Praça Nova, e criaram uma estação do povo, para o povo e pelo povo, designada Rádio Voz de S. Vicente.

Hoje, se estamos aqui para marcar a passagem dessa data histórica é porque tivemos pessoas que se dedicaram à causa da rádio, algumas vivas, outras já falecidas, mas que também recordamos com muita saudade. Refiro-me aos Srs. Cândido Cunha, Pedro Afonso, Evandro de Matos, Teodoro Pias, Telmo Vieira, Aníbal Lopes da Silva, Francisco Tavares de Almeida, Zito Azevedo e muitos outros que poderíamos enumerar e aos quais rendemos sincera e respeitosa homenagem.

Outra estação emissora marcante na época que antecedia a Independência Nacional era a Rádio Clube Mindelo, também de ondas curtas, com a sigla CR4AB, que emitia na faixa dos 62 metros. A estação, situada na rua de Lisboa, foi uma verdadeira escola de locutores, os quais acabariam por trabalhar na Rádio Barlavento, na altura de maior expressão, devido a potência do seu emissor, 1Kw.

Voltando ao 9 de Dezembro, podemos dizer que inicialmente a funcionar com locutores e técnicos que viam na actividade radiofónica apenas um hobby, a Rádio Voz de S. Vicente permitiu uma virada na história da radiodifusão. Pode-se considerar que há 31 anos, a radiodifusão em Cabo Verde dava o seu primeiro passo no caminho do crescimento, da profissionalização e da modernização, com a contratação dos primeiros quadros a tempo inteiro e que, posteriormente, passariam à fase de formação no exterior.

Enquanto os quadros recebiam essa formação, outros carolas mantinha a estação no ar, elaborando noticiários, tanto a nível nacional como internacional através de um serviço de escuta das estações estrangeiras e também da prensa latina; produzindo programas, a maior parte sobre o processo da luta pela Independência, com as músicas de intervenção da época e poemas que clamavam pela liberdade.

Com a tomada da Rádio Barlavento, começava o processo de esclarecimento do povo quanto aos projectos da Independência, quanto ao pensamento e à obra de Amílcar Cabral, numa rádio revolucionária que acabou por ter o privilegio de noticiar a independência de Cabo Verde, a 5 de Julho de 1975.

Pode-se considerar que volvidos 31 anos, Cabo Verde tem hoje uma rádio renovada que passou por algumas fases de transformação. No início existiam a Rádio Voz de S. Vicente, no Mindelo, a Emissora Oficial, na Praia, e mais tarde, foi criada a retransmissora no Sal, que acabariam por fundir-se na Rádio Nacional de Cabo Verde, RNCV, que, por sua vez, foi extinta e criada a actual empresa RTC com a componentes rádio e televisão.

Hoje a Rádio de Cabo Verde chega a todos os cantos do país através de uma rede de emissores e retransmissores em modulação de frequência, com centros de produção na Praia, Mindelo, Espargos e Assomada, e foi materializado o sonho de estarmos no seio da nossa emigração através da Internet.

Os carolas de 1974, alguns ainda no activo, vêem agora no quadro de pessoal da rádio, técnicos licenciados em vários países, o que poderá ser considerado uma mais-valia no sentido da melhoria dos conteúdos da nossa emissão e programação.

Se hoje Cabo Verde tem uma rádio pública com expressão e com liderança de audiência é que foi dado o importante passo a 9 de Dezembro de 1974 no sentido da criação da Rádio Voz de S. Vicente. Uma data que, sem dúvida, faz parte da História do nosso país e que decerto continua a ser acarinhada pelo povo cabo-verdiano

Comunicação lida pelo jornalista Carlos Lima durante uma conferência realizada pela RTC na Biblioteca Municipal do Mindelo, a 10 de Dezembro de 2005.

sexta-feira, julho 03, 2009

PRÉMIO DE JORNALISMO CIDADE VELHA

PRÉMIO ANTÓNIO DA NOLI

A Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago institui o Prémio anual António da Noli, com o qual distingue o jornalista que, nos diferentes meios de Comunicação (imprensa, rádio, televisão ou informação digital), tenha publicado nesse ano a melhor peça jornalística sobre a Cidade Velha e/ou o Município onde a antiga capital de Cabo Verde se insere. Com este prémio, a CMRGS homenageia aquele que se supõe ter sido o navegador que, ao serviço do Infante D. Henrique, primeiro terá achado as ilhas de Cabo Verde (em 1460), em concreto a ilha de Santiago e o local que ficou conhecido como Ribeira Grande. Nascido em Noli, Itália, também designado em Génova como Antonotto Usodimare, foi o primeiro capitão donatário de Cabo Verde, por carta de doação datada de 19 de Setembro de 1462, usufruindo dessa mercê até 1496. Da Noli veio a falecer no ano seguinte, 1497, supostamente no que é hoje a Cidade Velha.
Para este Prémio António Da Noli, que se institui agora, adopta-se o seguinte Regulamento:

REGULAMENTO DO PRÉMIO ANTONIO DA NOLI

O Prémio António Da Noli é atribuído ao jornalista que, em cada ano, seja autor reconhecido da peça jornalística, editada na imprensa, rádio, televisão ou informação digital cabo-verdiana (do País ou da Diáspora) que o júri do Prémio entenda ter sido o melhor trabalho produzido sobre a Cidade Velha ou sobre o Município da Ribeira Grande de Santiago.

CANDIDATURAS

1. Os trabalhos concorrentes ao Prémio António Da Noli devem dar entrada na Sede da AJOC na Cidade da Praia, até ao dia 10 de Julho
a) os trabalhos devem ser apresentados em quatro cópias e com envelope anexo onde se referem:
b) o nome do autor, morada, contacto telefónico e/ou endereço electrónico, data da sua edição e o nome do órgão de Comunicação onde foi inserido
2. O nome do vencedor do Prémio António Da Noli é publicamente anunciado a 23 de Julho, Dia do Município da Ribeira Grande de Santiago
3. A entrega do prémio é feita em acto solene, em data a designar aquando do seu anúncio.
4. Os trabalhos não premiados ficam em arquivo da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, passando a integrar o espólio documental do Município.

VALOR DO PRÉMIO ANTONIO DA NOLI

5. O valor do Prémio António Da Noli é de 50 mil escudos.
6. O vencedor do Prémio António Da Noli, tal como o órgão de Comunicação onde o trabalho distinguido foi editado, recebe um diploma confirmador da distinção.
7. O vencedor do Prémio António Da Noli é único. Não haverá atribuição de prémios ex-aequo.
8. O júri é soberano, não havendo recurso para a sua decisão.
9. O júri pode decidir, se for esse o seu entendimento, a não atribuição do Prémio António Da Noli por falta de qualidade dos trabalhos candidatos apresentados esse ano.
10. A Câmara da Ribeira Grande de Santiago reserva-se o direito de republicar na sua revista o trabalho premiado, sem qualquer retribuição adicional.
JURI DO PRÉMIO ANTONIO DA NOLI
11. O júri será composto por três elementos: o primeiro em representação da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago; o segundo em representação da AJOC, Associação dos Jornalistas Cabo-verdianos, que para o efeito será convidada; o terceiro, uma personalidade independente, conhecedora do processo jornalístico, a designar por acordo entre os dois primeiros.
12. A presidência do júri cabe ao representante da Câmara Municipal da Ribeira Grande que, todavia, não terá direito a voto, excepto quando não haja acordo entre os dois outros elementos do júri sobre a atribuição do Prémio. Nessa circunstância, será ele o decisor entre as duas opções em presença.
13. É permitida a cada elemento do júri a declaração de voto, justificativa da sua opção.
14. A acta do Prémio António Da Noli, integrando as declarações de voto do júri, é tornada pública.


Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago

Comissão Organizadora da Festa do Santo Nome de Jesus

Cidade Velha, 6 de Janeiro de 2009

RCV LIDERÁ MAS PERDE NA CAPITAL

A Rádio de Cabo Verde é estação mais ouvida no País, alem de ser a que ostenta a maior notoriedade.

Os dados constam do segundo estudo da audiometria sobre os Órgãos de Comunicação Social, realizado pela empresa Afrosondagem e apresentado esta manha, na Praia pelo seu director Francisco Rodrigues.

Ainda no universo radiofónico, as pessoas ouvidas pela Afrosondagem exigem mais informação e uma programação mais variada.

No capitulo dos jornais impressos, o estudo aponta para um domínio claro do A Semana, embora o Jornal A Nação seja o que mais cresceu em termos de notoriedade.

A percentagem das pessoas que nunca leram um jornal está próxima dos 30 por cento.

Uma situação que, no entender de Francisco Rodrigues, é preocupante, embora esta proporção tenha baixado em relação a 2007.

No rol dos jornais on line, é O Semana que também se posiciona em primeira posição no estudo da Afrosondagem, que aponta o Liberal como sendo alvo de uma queda acentuada que viu diminuído, de forma significativa, o nível de notoridade.

No universo televisivo, a TCV é a mais vista, mas o canal que mais cresceu é a Record.
Este segundo estudo de audiometria sobre os órgãos de Comunicação Social foi realizado nos concelhos da Praia, Sal, São Vicente, Santa Catarina e São Filipe.

Foram ouvidas mais duas mil pessoas numa amostra representativa, com uma margem de erro de 5 por cento, sendo o intervalo de confiança de 95 por cento.

Fonte: RCV

quinta-feira, julho 02, 2009

RCRB INAUGURA NOVO ESTÚDIO DE EMISSÃO

Fotos do novo estúdio da Rádio Comunitária da Ribeira Brava. A inauguração teve lugar ontem e contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal. O espaço físico foi remodelado e criou-se uma sala para edição. Igualmente instalou-se um aparelho de ar condicionado dentro do estúdio. Agora a gestão da rádio está a envidar esforços no sentido de adquirir um emissor de feixe e um retransmissor com de maior potência. Em termos de periféricos, há novos equipamentos, como por exemplo, microfones, auscultadores, leitores de CD, tunner áudio, híbrido para telefone, aparelhos de MP3, monitores, PC, e outros. Portanto, já estão reunidas as condições para a RCRB fazer uma comunicação para o desenvolvimento virada para as comunidades. Parabéns.



segunda-feira, junho 29, 2009

QUEM DÁ PÃO DÁ CASTIGO


Li com preocupação a informação sobre o corte de publicidade da TACV e da Sociedade Cabo-Verdiana de Tabacos ao jornal A Semana. É evidente que os gestores das empresas, quer sejam elas públicas ou privadas, têm toda a legitimidade de desenhar e implementar a sua política de marketing, utilizando neste caso a publicidade através da imprensa.

Preocupa-me, isso sim, quando o rompimento do contrato de publicidade soa a revanchismo, a vingança, pelo facto de o jornal ter publicado alguma matéria (notícia ou reportagem) que eventualmente não tenha caído no agrado dos gestores das empresas. Na verdade, desde que a imprensa se tornou uma indústria existe sempre esta relação de “amor e ódio” com o mundo dos negócios e da publicidade.

Desde logo, os meios de comunicação social têm uma característica que quase os torna únicos no mercado: a maior parte das suas receitas não é obtida junto dos seus públicos, a quem prestam um serviço, mas sim dos anunciantes. A percentagem da publicidade no montante de receita dos media confere-lhe um protagonismo chave. Pelo contrário, o público que consome os media tem muito pouca margem de influência sobre os mesmos.

Esta peculiaridade dos meios de comunicação social gera, com alguma frequência, exigências opostas entre os interesses do público e os interesses dos consumidores. Como bem explicam Chomsky e Hermam “com a publicidade o mercado livre não oferece um sistema neutro no qual, finalmente, é o comprador que decide. As escolhas dos anunciantes são as que influenciam a prosperidade e a sobrevivência dos media”.

A importância da publicidade remonta ao aparecimento da imprensa de massas nas grandes metrópoles modernas, que foi substituindo, a partir da década de 1830, a imprensa vendida por assinatura, a qual mantinha uma relação muito mais estreita com o seu público. Sucedeu isto em finais do sec XIX, quando se consolidou e difundiu este modelo de imprensa industrial, considerada, como o nome indica, como mais uma indústria capaz de gerar grandes volumes de negócio através das receitas publicitárias.

A influência da publicidade pode assumir duas formas: em algumas ocasiões (embora menos frequentes) adopta a forma de uma pressão directa sobre os media ou sobre aqueles que neles trabalham. Os anunciantes com grandes volumes de investimento publicitário reclamam um certo direito a interferir na actividade dos media, pretendendo alterar o seu conteúdo, assim, a neutralidade e a independência dos jornalistas;

A publicidade gera um segundo tipo de influência, mais difusa, mas, simultaneamente, mais persistente e efectiva. Como principal fonte de receitas dos media, a publicidade gera um “deslizamento” mais ou menos permanente nos conteúdos.

Dado que o alcance da mensagem publicitária cresce com o valor de audiência do meio de comunicação social que lhe serve de suporte, a publicidade recompensa, com as suas receitas, os media e os conteúdos com maior difusão no mercado. Este efeito da publicidade favorece a homogeneização da oferta e é tão poderoso que costuma condenar ao desaparecimento os media que não seguem estes critérios generalizados.

Esperemos que isso não venha a acontecer com o jornal A Semana, pois, é inegável o seu papel no reforço do espaço público mediático em Cabo Verde, condição indispensável para o debate entre as diversas correntes de opinião, e, logo, para uma informação livre. Se a moda pega, pode estar em risco a imprensa privada no país, uma vez que o subsídio do Estado é insignificante e se mantém inalterável há vários anos… a não ser se existe alguma “mão invisível” a injectar capital, emenda que será pior que o soneto.

KRIOL RÁDIO