sexta-feira, maio 29, 2009

UM PIONEIRO DA RNCV

Na esteira do projecto de valorização da história da radiodifusão em Cabo Verde, o KRIOL RÁDIO orgulha-se de apresentar a primeira parte de uma grande entrevista (conversa) com o jornalista Orlando Rodrigues.

Pergunta: Como era a rádio quando começaste a trabalhar (os testes para a entrada na rádio, as hierarquias, o trabalho desenvolvido, a opinião dos ouvintes, as estratégias de programação e informação) e como é que se desenvolveu o teu percurso?

Resposta: Comecei a trabalhar na rádio em 1985, mais precisamente a 01 de Julho, nas vésperas do 10º aniversário da independência nacional. Fomos nessa altura um grupo de 12 candidatos que, após um concurso muito participado, foram escolhidos para, durante cerca de um ano, receber formação em jornalismo e em áreas complementares. Para além das técnicas e das regras de ética e deontologia da profissão, tivemos módulos de economia, política, ciências sociais etc. Houve igualmente uma parte da formação ministrada pelo CENFA, voltada para o conhecimento da Administração Pública cabo-verdiana, e outra sobre política internacional. A vertente jornalística da formação foi ministrada por profissionais portugueses, de que posso citar alguns nomes, nomeadamente o António Jorge Branco, então jornalista e integrante da Cooperativa de Comunicação Social TSF, que foi o coordenador de todo o curso, Emídio Rangel, Adelino Gomes, Carlos Cruz e Teresa Moutinho, entre outros. Também tivemos como monitores muitos quadros cabo-verdianos, entre os quais pontuava o falecido Renato Cardoso. Do grupo dos 12, faziam parte a Fátima Azevedo (actualmente na Cabo Verde Investimentos) e a Salomé Monteiro, que já trabalhavam na Emissora Oficial havia vários anos, e ainda a Elizabete Correia (a trabalhar actualmente na TCV), que tinha alguma experiência ao nível de produção na Rádio Educativa. Elas não participaram no concurso de acesso mas apenas no curso que se seguiu. Os restantes elementos do grupo eram o Valdemar Almeida, o Mário Almeida (cito estes em primeiro lugar porque, para além de mim e da Salomé Monteiro, são os que ainda trabalham na RCV), o Valdir Alves (actualmente nos EUA), a Laura Silva (actual quadro da TACV), o Nicolau Andrade (nos EUA), o falecido e saudoso Manuel Almada (Kaya), que depois iria integrar a redacção do jornal “Voz di povo”, o Renato Fernandes (actual oficial da PN) e o Emílio Borges (a viver em Portugal). Iniciámos o curso em Janeiro e um mês depois, já de posse dos primeiros rudimentos teóricos de jornalismo, começámos a trabalhar em simulador, tendo sido distribuídos em quatro turnos de trabalho. O primeiro (dois elementos), de que era editor o Valdemar Almeida, ia das 04H00 às 09H00 da manhã e produzia e apresentava as sínteses informativas das 05H00, 06H00 e 08H00, para além dos Títulos da Actualidade às 06H30 e o Primeiro Jornal às 07H00. O segundo turno (quatro elementos), que começava às 08H00, era coordenado pela Fátima Azevedo e fazia as intercalares hora a hora, os títulos das 12H30 e o Jornal da Tarde, às 13H00. A edição do terceiro turno (quatro elementos), que se ocupava das sínteses horárias ou flashes, como também lhes chamávamos na altura, dos títulos das 19H30 e do Jornal Noite, às 20H00, era assegurada pelo Valdir Alves. Finalmente tínhamos o último turno, que eu coordenava, e ia das 18H00 às 00H00, editava e apresentava as notícias intercalares das 20H00, 21H00 e 22H00, os títulos do Jornal às 22H30 e os títulos do dia, à meia noite. Tudo isto fazia parte da nossa formação, uma vez que, como já disse, tratava-se de um simulador. Saíamos à rua, procurávamos e reportávamos coisas do dia a dia do universo social da capital, cobríamos os acontecimentos da chamada agenda oficial, dávamos conta dos eventos desportivos e, com esse material de reportagem, produzíamos todo o conjunto de serviços informativos já descrito, embora em circuito fechado. Não íamos para o ar, estávamos apenas preparar-nos, e isto aconteceu durante meses, para o grande momento em que seríamos lançados para o éter em directo e sem outra protecção contra as críticas que aquela que derivasse da nossa capacidade de fazer um bom trabalho. Esse momento chegou no dia 01 de Julho de 1985, com a cobertura das actividades comemorativas do 10º aniversário da independência nacional. Estivemos no ar durante uma semana, com todo o leque de edições informativas que já tínhamos testado em simulador. Embora há quem não goste da palavra, e não querendo sobrevalorizar os acontecimentos tanto mais que neles fui participante activo, tratou-se de uma pequena-grande revolução na vida da rádio em Cabo Verde, a começar pelo facto de, pela primeira vez, ela produzir informação seleccionada, elaborada e hierarquizada com base em critérios puramente jornalísticos. Um exemplo disso é que rompemos com uma prática tradicional que consistia em dar conta, na abertura dos noticiários, das actividades do Presidente da República. Antes desse dia 01 de Julho de 1985, todos os serviços informativos abriam religiosamente da mesma forma: O secretário-geral do PAICV e Presidente da República recebeu hoje de manhã em audiência… e depois toda uma vasta lista de coisas que o chefe de Estado tinha feito ao longo da manhã, seguindo-se o anúncio do que viria a fazer à tarde, por menos interesse jornalístico que essas informações tivessem. Outro ganho introduzido dizia respeito à duração das peças, que deixaram de ter quatro, seis ou mesmo 10 minutos, passando a responder todas ao mesmo critério temporal de um máximo de dois minutos. O alinhamento das notícias nas edições informativas também passou a respeitar os critérios jornalísticos, e hierarquização das matérias era definida pelo próprio editor, em concertação com a sua equipa. Pela primeira vez na história da rádio em Cabo Verde uma notícia do desporto, uma ocorrência de âmbito social envolvendo cidadãos comuns e não os dignitários do regime ou, ainda, uma matéria de cariz internacional passaram a ter dignidade de “primeira página”. Tudo isto para não se falar já do grande fluxo de informação que era produzido, de hora a hora, quanto até aí a Emissora Oficial, em simultâneo com a Rádio Voz de São Vicente, apenas apresentava o Jornal da Tarde e o Jornal da Noite. Deve-se ainda salientar, como um advento não menos importante, os grandes avanços que a estrutura da rádio pública, a única que havia então, conseguiu. Foi nessa altura que a Emissora Oficial, a Rádio Voz de São Vicente e a Retransmissora do Sal (que se transformaria então, numa delegação) se congregaram e deram fundação à Rádio Nacional de Cabo Verde (RNCV), passando a constituir um órgão de informação único com uma estrutura descentralizada. Passou a haver uma programação nacional, uma produção informativa coordenada e dinâmica e uma rede de radiodifusão que já cobria, apesar das limitações técnicas e tecnológicas de então, a maior parte do território nacional e o grosso da população do país. Não tenho dúvidas em dizer que a informação radiofónica e o jornalismo cabo-verdiano, nessa altura, deram um passo importante, mesmo que pequeno, para começar a libertar-se das teias próprias de um regime de partido único. Foi a partir dessa época que, na rádio cabo-verdiana, se deixou de qualificar os elementos da UNITA como rebeldes e os da RENAMO como bandidos armados. Também foi a partir dessa altura que, embora tímida e gradualmente, se começou a expurgar da linguagem jornalística radiofónica o tratamento de “camarada”, então obrigatório nas referências aos dirigentes do país. Mas não estou a dar registo destes factos para reivindicar para nós, todos aqueles que começaram a fazer rádio em 1985, o estatuto de opositores ao partido único. Não, conto isto apenas para referenciar que professávamos um compromisso forte para com o jornalismo que tínhamos aprendido e que queríamos pôr em prática. Tanto mais que poucos ou nenhum de nós, à semelhança do que ocorria, aliás, com o grosso da sociedade cabo-verdiana, tinham uma percepção consciente do fenómeno e do ambiente políticos na altura, nem tampouco da perspectiva que se viria a concretizar cinco anos mais tarde, com a abertura política.

Pergunta: E como é que os ouvintes, e a sociedade no seu todo, reagiram a esses acontecimentos?

Resposta: Julgo que com alguma surpresa, por um lado, e com um misto de agrado e de um forte espírito crítico, por outro. Tínhamos feito a “Informação Especial 10º Aniversário da Independência Nacional” e depois retomámos a nossa formação. Foi um momento marcante nas nossas carreiras, e cada um haverá de recordá-lo à sua maneira. Um pormenor de que eu, pessoalmente me lembro bem, além, naturalmente do ambiente vivido e do gozo que a experiência proporcionou, é do genérico dos nossos serviços informativos. O jingle foi “construído” a partir de uma interpretação musical do Paulino Vieira, de que não recordo o título, e o off (Informação Especial X Aniversário da Independência Nacional) foi feito pelo Giordano Custódio. Mas a referência que guardo é que, depois dessas emissões especiais, houve muita gente que nos incentivou mas também houve pessoas que criticaram, com mais ou menos dureza, a nossa prestação, mas basicamente no domínio da apresentação.

Pergunta: Qual era o tom dessas críticas?
Resposta: Até a nossa entrada, os ouvintes estavam habituados a um tipo de serviço informativo apresentado por locutores (que se assumiam como tal) com largos anos de prática e que primavam por uma dicção cuidada. Na maior parte dos casos, esses locutores nada tinham a ver com o processo de produção jornalística e apenas tomavam contacto com os conteúdos na hora de os apresentar. Excepções a esses casos eram o António Pedro Rocha, o Carlos Gonçalves e a Fátima Azevedo. Tínhamos também o Francisco de Pina, considerado por muitos a melhor voz de sempre da rádio em Cabo Verde e o Ivo Vera Cruz mas que, embora sendo quadro da Emissora Oficial, não era jornalista. Para a apresentação dos noticiários fazia-se também recurso a pessoas de fora como o José Gonçalves e o Barreto Monteiro, igualmente excelentes locutores. Como se vê, os ouvintes estavam habituados a uma qualidade de apresentação que não podia ser garantida por pessoas que, como nós, não tinham qualquer experiência de microfone. Daí que a vertente apresentação do nosso trabalho tenha saltado à vista pela negativa, embora o nosso coordenador, o António Jorge Branco, nos dissesse sempre que o mais importante era a qualidade dos conteúdo, ressalvando sempre, no entanto, que tínhamos de esforçar-nos por fazer uma comunicação clara e convincente, mesmo que não tivéssemos a voz e a dicção de um Francisco de Pina ou de um José Gonçalves. Mas entre críticas e incentivos, lá fomos fazendo o nosso trabalho, procurando superar-nos naquilo em que tínhamos mais debilidades, nomeadamente na apresentação. Houve muitos comentários e, inclusivamente nos jornais se escrevia sobre as “novas vozes” da rádio. Lembro-me, por exemplo, de uma crítica feita pelo Jorge Alfama na coluna que assinava no jornal Tribuna, na qual nos chamava “Jornalistas de Meia Garrafa”. Confesso que não sei o porquê da escolha desta expressão mas caiu muito mal entre o colectivo, e tivemos que exercer o nosso direito de resposta. Lembro-me de ter sido eu a escrever o texto, que foi aprovado pelos colegas e publicado no mesmo jornal. A propósito ainda desta questão, consta que o Corsino Fortes (que era o secretário de Estado da Comunicação Social) e o Corsino Tolentino (na altura ministro da Educação), ter-se-ão encontrado numa cerimónia pública e, como um dos assuntos incontornáveis do momento era a nossa prestação na novel Rádio Nacional de Cabo Verde, o segundo terá perguntado ao primeiro:

- Mas oh, Corsino, onde foste buscar esses locutores que tens agora na tua rádio?
De forma serena e bem-humorada, como é seu timbre, o Fortes volta-se e responde:
- Onde havia de ser? Nos teus liceus.

Não sei se este episódio terá realmente acontecido mas ilustra bem as incompreensões que tivemos que enfrentar para nos afirmarmos. Muita gente não estava preparada para o jornalismo que introduzimos no universo da rádio em Cabo Verde, porque a principal preocupação não era com os conteúdos mas com a forma de que se revestiam para chegar até aos ouvintes. Mas as coisas viriam a piorar ainda mais quando o Ministro da Informação, Cultura e Desporto, David Hopfer Almada, ordenou a nossa retirada das antenas da RNCV, entregando a apresentação dos serviços informativos aos locutores profissionais. Devo dizer que isso constituiu um grande revés, na medida em que encarávamos o microfone como um complemento, se calhar não muito importante mas necessário, do nosso trabalho. Alguns de nós desistiram de vez dessa vertente do trabalho jornalístico radiofónico mas a maior parte persistiu e hoje somos os profissionais que todos conhecem, não digo nem bons nem maus mas, seguramente melhores do que no princípio.

(Continua…)




RÁDIO TEATRO

Não, não se trata de nenhum programa de jornalismo típico. O que gostaria de ouvir mesmo é algo nunca escutado na história das nossas rádios, pelo menos do pouco que eu conheço das nossas estações radiofónicas.Apetecia-me escutar programas de rádio teatro ou se quiserem de rádio drama. Se é ignorância minha dizer que nunca houve programas do tipo nas nossas rádios, peço desculpas e apelo a que me corrigem.

O que é afinal rádio teatro? Rádio teatro ou rádio drama é uma narrativa folhetinesca sonora, nascida da dramatização do género literário novela, produzida e divulgada em rádio.
Rádio teatro baseia no dialogue, na música e nos efeitos sonoros para ajudar o radiouvinte a imaginar a estoria. Costuma-se dizer que os grandes mestres da magia eram os sonoplastas, que para estimular a imaginação das pessoas, reproduziam todo tipo de sons e ruídos: o som da chuva, do telefone, da passagem de tempo, dos passos dos personagens.

Crê-se que rádio teatro surgiu na década de 1920 e rapidamente atingiu popularidade mundial. Em 1940 já era o entretenimento popular mais escutado.
Provavelmente o mais conhecido episódio na história do rádio teatro é a adaptação de Orson Welles do “The War of the Worlds” (a Guerra dos mundos de 1938) em que muitos ouvintes acreditaram ser real notícias difundidas sobre uma invasão vinda de Marte.
Na América o primeiro programa de rádio teatro foi ao ar em 1921 numa rádio de Pittsburg. Em 1930 programas de rádio teatro já eram populares nos Estado Unidos, nos seus diferentes géneros: comédias, novelas e de suspense.
Em Alemanha, o primeiro programa de rádio teatro “Magia na Rádio” estreou em 24 de Outubro de 1924.

No Brasil a primeira radionovela transmitida pela rádio aconteceu no dia 12 de Julho de 1941. O público pôde acompanhar durante quatro anos a novela "Em busca da Felicidade", pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O "Direito de Nascer", de autoria do cubano Felix Caignet e adaptado por Érico Silva para a mesma emissora foi também líder de audiência.

Em Portugal, especialmente nas décadas de 1930 a 1960, o teatro radiofónico praticamente tinha o papel social que hoje é representado pelas telenovelas. Segundo consta a primeira estação a transmitir uma peça de teatro foi a CT1DE - Rádio Lusitânia, em Fevereiro de 1930.
Com o advento da televisão em 1950, os programas de rádio teatro perderam alguma da sua popularidade, e em alguns países nunca mais recuperaram a grande audiência.

Hoje em dia este género de programa desapareceu dos autofalantes das rádios de muitos país. Na América algumas rádios limitam-se a passar programas feitos nas décadas passadas. Mas em países como Inglaterra continua-se a produzir programas originais de rádio teatro. Por exemplo a BBC produz e transmite centenas de novos programas todos os anos nas Radio 3, Radio 4,e BBC Radio 7.

Mas com o crescimento do fenómeno Podcasting, os programas de rádio teatro parecem estar a ganhar um novo alento e uma nova forma de sobrevivência através da Internet.
Já agora podcasting (contracção das palavras “ipod” e “broadcasting” às vezes chamado “podcast”) é uma tecnologia de divulgação de ficheiros multimédia (áudio, vídeo, foto, pps, etc...) pela Internet, através de um Feed RSS, que permite aos utilizadores acompanhar a sua actualização.

imagem:http://radioteatroimaginario.blogspot.comFontes consultadas:http://en.wikipedia.org/wiki/Radio_dramahttp://www.dw-world.de/dw/article/0,,314093,00.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Radionovelahttp://ouvidor.blogspot.com/2006/05/histria-do-teatro-radiofnico-em-livro.htmlhttp://pt.kioskea.net/contents/www/podcast-podcasting.php3

Casa dos Jornalistas

quinta-feira, maio 28, 2009

Cooperação francesa vai apoiar a Inforpress

A embaixadora da França em Cabo Verde, Christine Glasse, visitou esta semana a agência Inforpress. Uma visita que os responsáveis dessa empresa de comunicação, consideraram de muito positiva, já que a diplomata francesa manifestou a intenção de procurar parceiros para financiar alguns projectos que a Inforpess tem em carteira.


A inforpress que acaba de modernizar a sua redacção com a aquisição de novos materiais informáticos e de reportagem, pretende agora expandir as suas acções para a área do audiovisual. Nesse sentido está a procura de parceiros que possam ajudar na materialização desses projectos.

E o presidente do conselho da administração da inforpress, José Mário Correia, encara com satisfação a intenção da embaixada da França de ser interlocutora na procura de financiadores para ajudar a agência nacional de notícias a estender as suas acções a área do audiovisual.

A embaixadora Christine Glasse analisa de forma positiva o trabalho que a Inforpress tem desenvolvido, por isso se mostra disponível a ajudar agência de notícias cabo-verdiana a encontrar financiadores para a implementação do projecto audiovisual. Para já, fica o compromisso da embaixada em apoiar a agencia Inforpress no domínio da tradução de textos para a língua francesa.

Embaixadora da França em Cabo Verde, Christine Glasse, visita a Inforpress, e se disponibiliza a procurar parceiros para o financiamento de alguns projectos que a citada agencia tem em carteira.

quarta-feira, maio 27, 2009

OJE CABO VERDE JÁ ESTÁ NAS BANCAS

Cabo Verde já tem um Jornal Económico, o OJE Cabo Verde. O projecto apresentado ontem na cidade da Praia insere-se na estratégia de internacionalização do jornal Oje Portugal e revela, de acordo com o administrador Marcos Rodrigues, uma nova forma de abordagem da informação económica.

O Jornal OJE Cabo Verde, cujo primeiro número já se encontra nas bancas tem a pretensão de trazer uma perspectiva global sobre a economia do país e ser uma ferramenta útil aos decisores económicos. O jornal trará, em cada edição, conteúdos económicos, com destaque para uma grande entrevista além de artigos de opinião de empresários nacionais, e outras duas secções destinadas a variedades e ao desporto.

O administrador Marcos Rodrigues considera ser este um importante investimento na estratégia de internacionalização da edição portuguesa do OJE, lançada em 2006, e justifica, assim, a escolha de Cabo Verde como o primeiro mercado alvo.

Uma das inovações do projecto tem a ver com a distribuição, que será, numa primeira fase, gratuita, isso, garante o administrador Marcos Rodrigues, sem perigo de sustentabilidade do projecto. Outra novidade é a sua distribuição simultânea em Cabo Verde e Portugal.

O jornal OJE Cabo Verde será editado semanalmente à Quarta-feira, numa impressão totalmente a cores, e terá uma circulação de sete mil e 500 exemplares, distribuídos em cerca de 160 pontos da ilha de Santiago, entre empresas, organismos estatais, universidades e centros hoteleiros, nesta primeira fase e, posteriormente, nas outras ilhas.

O jornal terá, também, uma versão on line, em www.oje.publ.cv, numa estratégia de complementaridade e maior acessibilidade, particularmente para a diáspora cabo-verdiana. O investimento, de capital português e cabo-verdiano, está orçado em cerca de um milhão de euros.

Joana Olinda Miranda

terça-feira, maio 26, 2009

Gambôa: entre o elogio e a crítica


Mais um festival de música passou à história. Perduram ainda os comentários sobre o certame, sobretudo no que diz respeito à organização e ao cartaz apresentado este ano pela Câmara Municipal. Analisando as opiniões recolhidas pelos órgãos de comunicação social que fizeram a cobertura do festival, conclui-se que, no geral, a festa foi boa, mas podia ter sido melhor.

As pessoas ouvidas pelos media dão nota positiva aos aspectos ligados à organização (o cumprimento dos horários de actuação das bandas, reduzido tempo de intervalo, etc.), ao saneamento (brigadas de limpeza em permanência durante o show, colocação de contentores e sanitários ao longo do areal, etc.), à segurança (postos de acesso ao local do espectáculo, revistas para a detecção de armas brancas e de fogo), à localização das barracas de comes e bebes, que este ano ocuparam um dos lados da Avenida dos Combatentes, separando fisicamente o álcool da música.

As críticas mais ouvidas prendem-se com o reduzido tempo dos concertos (das 21 às 2 da manhã) e à pouca diversificação das bandas e artistas convidados para a edição deste ano. Isso já para não falarmos da redução dos dias de actuação, de três para dois.

Do meu ponto de vista, se o festival da Gambôa quer continuar a trilhar os caminhos que o hão-de integrar no circuito dos festivais do mundo, podendo ser uma referência para o continente africano, deve-se apostar na qualidade do cartaz dos espectáculos.

O Gambôa não pode transformar-se numa sessão de apresentação de finalistas do “Todo o Mundo Canta”, por mais simpatia que mereça a descoberta de talentos. Por que é que não se montou um palco alternativo para a actuação dos novos talentos, o que para já seria uma alternativa para as milhares de pessoas que estiveram durante toda a tarde/inicio de noite a deambular pela areia ou de barraca em barraca para matar o tempo?

Por que é que não se aposta também nos muitos e bons Djs que a cidade da Praia possui. Ninguém questiona a qualidade da Lura, do Tito Paris, do Boss AC, dos Ferro Gaita, do Jay (um dos momentos altos do festival) … mas apostar também em grandes nomes da música internacional só engrandece o Gambôa, que não pode descambar num provincianismo. O próprio Estatuto Especial que a cidade da Praia exige (e merece) obriga a que ela esteja de facto à altura das grandes capitais, pelo menos em termos de uma agenda cultural.

Está demonstrado que as Câmaras Municipais não têm competência técnica, nem tão-pouco vocação para organizar festivais, carnavais e quejandos. Por que não se avança para a exploração privada dessas actividades, apostando no profissionalismo daqueles que nessas lides?

Em relação ao horário de fecho do festival, a Câmara Municipal lá tem os seus motivos para acabar com o festival de forma tão abrupta, deixando os milhares de pessoas que acorreram ao Gambôa com o sentimento de um “recolher obrigatório”.

Para não variar, há sempre críticas por parte da comunicação social, sobretudo da rádio e da televisão, em relação às condições de trabalho e de liberdade de acesso ao espaço reservado aos artistas para entrevistas, antes e depois das actuações. Há quem fale mesmo em limitação da liberdade de informação. Da minha parte tenho sérias dúvidas.

Segundo o Estatuto do Jornalista, este goza, no exercício da sua função, do acesso às fontes oficiais de informação, com os limites previstos na lei; não ser detido afastado ou, por qualquer forma impedido de desempenhar a respectiva missão no local onde seja necessária a sua presença como profissional de comunicação social, nos limites previstos na lei; livre-trânsito e permanência em lugares públicos onde se torne necessário o exercício da profissão, etc.

Lá por nos ser vedado a entrada no camarim dos artistas para entrevistas depois da sua actuação em palco, não prefigura uma limitação ao direito de informação. Apesar de estarmos num local que se pode considerar público, a praia, a organização do evento é privada (esteve à cargo da empresa Everything is New), tendo, aliás, Super Bock entrado com 15 mil contos em forma de patrocínio). Os próprios artistas são pagos pela actuação. Uma coisa é recolher sons e imagens para a informação do público (peças para os jornais), outra coisa, bem diferente, é a transmissão em directo e integral do espectáculo (inclui entrevistas promocionais com os artistas) para a qual torna-se necessário assegurar os competentes direitos. Não me parece que tenha sido o caso. Talvez para a próxima seja bom negociar com a organização todos estes aspectos.