No post anterior demonstrei como aparecer na televisão é uma pré-condição para existir politicamente, mas a forma de aparecer na “caixinha mágica” pode ser fatal para uma ambição política.
Noutro dia um colega jornalista chamava-me atenção para o facto de os debates eleitorais não serem tão recentes por estas paragens, ao contrário do que se diz. Fez questão me lembrar que por altura da abertura ao multipartidarismo houve debates na rádio entre elementos das duas listas propostas, respectivamente, pelo PAICV e MPD.
Apesar de nessa altura ser um jovem imberbe nas lides do jornalismo radiofónico, recordo-me que esses debates se fizeram com figuras de segunda linha e não com os líderes dos maiores partidos, como aconteceu nas últimas eleições legislativas. E deste ponto de vista, não se pode deslustrar a iniciativa conjunta da rádio e televisão públicas que pela primeira vez sentaram à mesma mesa os dois candidatos a primeiro-ministro.
Pese embora ainda não existir um estudo sobre o impacto dos debates políticos no resultado das eleições em Cabo Verde, qualquer político com ambição não pode, se quiser alcançar sucesso, negligenciar a magia e a sedução da imagem, como instrumentos de criação de notoriedade e de formatação de mensagens simbólicas.
Uma coisa é certa, quando o debate termina, a “vitória” é atribuída ao candidato que se mostrou mais convincente, mais rápido e expedito, o que teve mais iniciativa ou, simplesmente o que falou melhor. Embora não se possa dizer que a televisão faz a eleição, os efeitos dos debates juntos dos eleitores indecisos podem ser importantes. São pessoas que não têm filiação ou simpatias partidárias e que acabam por definir o seu sentido de voto à última hora, influenciadas possivelmente pelas últimas imagens televisivas que guardam do debate, o acontecimento que “melhor configura a percepção pública dos candidatos!
O debate entre o presidente do PAICV e o líder do MPD transmitido no dia 18 de Janeiro presta-se a leituras de múltiplas perspectivas ou focalização: pode ser considerado, simultaneamente, um óptimo produto jornalístico (porque os jornalista formularam as questões pertinentes, de uma forma documentada, autónoma e incisiva); um magnífico acto de comunicação política (porque os dois políticos responderam com habilidade ou tiveram a astúcia de deslocar o debate para o terreno mais conveniente para a respectiva estratégia), e um bom trabalho de relações públicas (porque os gabinetes de comunicação o “colocaram” na agenda da televisão no momento mais adequado).
É preciso ter presente que o conceito de espaço público introduzido por Jurgen Habermas reporta-se ao séc. XIX, à época do iluminismo, sofreu uma mutação radical. As democracias de massas, queixa-se o autor, acarretaram o declínio deste modelo. “A esfera pública foi contaminada, através dos media, pela lógica de interesses particulares e transformou-se em instrumento de manipulação. A opinião pública deixou de desempenhar um papel crítico, ao serviço da razão”. Na situação actual, podemos falar em “espaço público mediatizado”, indissociável do funcionamento da comunicação social.
O grande plano e o plano aproximado são figuras privilegiadas da telepolitica: aos mecanismos de distanciação característicos do exercício do poder nos quadros legitimados pela tradição sucederam esquemas baseados na psicologização da vida política. Os mecanismos de identificação com a figura do líder político prevalecem sobre as tentativas de racionalização argumentativa. A complexidade dos problemas dissolve-se em combates de chefes, centrados nas imagens dos líderes recriados pela televisão.
Apesar de o debate reforçar as tendências políticas pré-existentes, ele beneficia o candidato com melhor imagem, aquele que evidenciar maior riqueza comunicativa. No debate é posta à prova a capacidade argumentativa do candidato. Ele tem que ser ágil nas respostas. Tem que dominar o discurso. Tem que mostrar que é o mais capaz e que tem as melhores soluções para os problemas.
Continua…