sexta-feira, junho 05, 2009

AJOC ABRE JANELA NA NET

A inauguração do site da AJOC é mais uma iniciativa que visa estimular o debate das questões ligadas à actividade jornalística em Cabo Verde. Na entrevista com a presidente da AJOC, a jornalista Hulda Moreira, destaque para o pacote legislativo do sector da comunicação social.


KRIOL RÁDIO: Para quando a inauguração do site da AJOC?
HULDA MOREIRA:
O site está praticamente pronto. Estamos na fase final da sua construção Já está inscrito na ANAC, como www.ajoc.org.cv. Estamos a ultimar os conteúdos para o colocar no ar. Aliás, já deveria estar a funcionar, uma vez que a intenção era fazer o lançamento ainda no mês de Maio, no âmbito das actividades do dia da liberdade da imprensa, o que não foi possível. Não queremos estabelecer uma nova data, mas acredito que a qualquer momento estará no ar. Queremos que seja em São Vicente, por altura da abertura do nosso espaço nesta ilha.

KR: Como é que vai funcionar (uma pequena visita guiada pelo site)?
HM:
Será essencialmente um veículo de comunicação da AJOC com os seus associados. Teremos um espaço para divulgar noticia, direccionadas a classe; o pacote legislativo ligado área a comunicação estará disponível para quem queira consultar; temos um espaço dedicado as perguntas frequentes, que está aberto a sugestão dos colegas. Espaço para divulgação de eventos e galeria de fotos vão fazer parte do site.

KR: De que forma os sócios, os jornalistas, podem participar?
HM:
Os associados vão ter um espaço de debate interno. Será um fórum para os jornalistas. Vamos colocar por exemplo um tema para debate entre os jornalistas. Os temos poderão ser também ser sugeridos pelos colegas. Pensamos que será um espaço interessante de partilha de opinião.

KR: A inauguração desse site é mais uma das actividades da AJOC para comemorar o dia mundial da liberdade de imprensa. Qual o balanço que fazes das comemorações?
HM:
Foi positivo. Com a excepção do site tudo o que esteve planeado aconteceu, apesar das dificuldades em conseguir apoios financeiros. As duas conferências, uma sobre serviço público e outra sobre liberdade de imprensa, proporcionaram momentos de aceso debate. Tenho certeza que quem esteve presente saio mais enriquecido. Destacaria a homenagem feita ao grupo de jornalistas que o longo dos 30 deram a sua contribuição a comunicação social em Cabo Verde e ainda a corrida, realizada no dia 3 de Maio, em que conseguimos mobilizar não só jornalistas, mas a sociedade civil a volta da causa da liberdade imprensa.

KR: Como está Cabo Verde em matéria de liberdade de imprensa?
HM:
Estamos fartos de dizer que o pacote legislativo em vigor no país promove a liberdade de expressão sem limitações, mas nós estamos cientes que cada um de nós, no nosso dia a dia, temos de colocar isso em prática e vigiar se estamos a ser limitados no exercício da nossa profissão e denunciar porque é só assim o que estiver errado pode ser melhorado. À AJOC não tem chegado queixas ou reclamação por parte dos jornalistas. Há um colega nosso que defende que o tipo de jornalismo que se faz em Cabo Verde, sem grandes investigações, acaba por gerar a sensação que o jornalista está cumprir o seu papel sem qualquer impedimento. Temos que reflectir sobre isso.

KR Quais são as questões ligadas ao sector da comunicação que neste momento mais preocupam a AJOC?
HM:
A carteira profissional sem duvida, porque é o que preocupa mais os jornalistas.
Todos estão a contar que a atribuição da carteira venha a disciplinar o exercício da profissão em Cabo Verde, saber quem pode exercer e quem não pode.
Este foi, aliás, um dos assuntos abordados na última reunião da direcção. Entendemos que a falta de carteira não pode servir de subterfúgios para não se não cumprir as normas do Estatuto do Jornalista.

KR: Depois de alguns encontros com jornalistas, em que pé se encontra a discussão sobre as propostas para o Estatuto dos Jornalistas e a lei da Comunicação Social?
HM:
Nós estávamos a espera de um encontro com tutela para fazer a entrega formal das propostas saídas dos vários encontros, mas como ainda não foi possível iremos enviar por via electrónica.
È bom que todos saibam que além destas duas leis que perguntas, nós já recebemos as alterações de todo o pacote legislativo, teremos de iniciar, a qualquer momento, debate entre nós os jornalistas.

KR: Como está a decorrer o processo de transformação da AJOC em sindicato?
HM: Neste momento, a Comissão mandatada pela Assembleia-geral da AJOC tem o Estatuto para analisar. Sei que por questão de agenda, de cada um dos elementos do grupo, não tem sido fácil o encontro. A comissão está ciente que o prazo é até o fim do ano termos o documento pronto para ser validado pelos jornalistas

quarta-feira, junho 03, 2009

CIDADANIA CULTURAL


“Creio que poderemos contribuir para a mitigação desta ideia redutora que temos da Cultura”. São palavras de Elisângelo Ramos. Abandonou o teatro e a produção cultural para se dedicar à Rádio. Jornalista da Rádio de Cabo Verde tem, agora, em elaboração um projecto para a TV. Terra Activa, diz-nos nesta entrevista, quer difundir a cultura que se faz nas principalmente nos bairros “lá onde os média nacionais nem sempre chegam”.


KRIOL RÁDIO: A cultura tem sido para ti uma grande paixão. Na calha tens mais um projecto de produção e difusão de conteúdos culturais. Em que consiste o “Terra Activa”?

ELISÂNGELO RAMOS (E.R.): Apesar de cabo Verde ser um País reconhecido por uma vasta cultura, temos poucos espaços de divulgação cultural nos meios públicos e privados de Comunicação Social.

Não raras vezes, todos os esforços dos produtores de informação cultural, centram-se no relato noticioso das actividades. Seja um filme, uma peça teatral, um espectáculo de dança, um fórum, uma exposição ou um livro; a informação se esgota na notícia em si. Falta a consideração de que a acção cultural só se completa, de facto, quando é compreendida pelo público.

O Fórum sobre a “Economia da Cultura”, em 2008, na Cidade da Praia, compreendeu e recomendou que se criem condições e estímulos à uma maior divulgação cultural nos Média cabo-verdianos.

Partilhando este mesmo sentir das autoridades, criadores e produtores culturais, decidimos pela elaboração, apresentação, produção e realização de um programa televisivo visando mitigar o actual cenário de quase ausência de “produção” cultural no audiovisual nacional.

Mais: este é um projecto que vai ao Cabo Verde real. Nos bairros propomos descobrir um País de braços descruzados a procura de satisfazer necessidades sociais, educativas e culturais; nem sempre relatadas à maioria dos cabo-verdianos.

KRIOL RÁDIO: Sem bem entendi, propões um mergulho cultural no país real. Por que esse interesse pelo pulsar cultural nos bairros periféricos?

E.R.: Desde há 16 anos que venho trabalhando sobretudo na reportagem especificamente de cariz cultural; artes e espectáculos. Num passado recente tive imenso gosto , juntamente com os técnicos Adão Brito, Paulo Mendonça, Carlos Pereira, Mariozinho Fernandes e, então na Rádio Nova, o Jornalista Augusto Oliveira, de fazer aquilo que considero terem sido as minhas mais bem conseguidas reportagens culturais. Visitei – juntamente com operadores de som – várias ilhas e tivemos oportunidade de realizar documentários de razoável valor.

Infeliz e doridamente triste os arquivos voaram da Rádio. Havia aí documentos importantes: testemunhos de gente que por aqui já não canta. Eram na verdade importantes documentos. Alguns desses trabalhos podem ainda ser refeitos … já agora com novas formas de edição. Por exemplo, fomos em 1996 (ou será 1995?) os primeiros a ter nos estúdios o Orlando Pantera e a sua percussão, no actual Estúdio de Produção da RCV, antigo Estúdio 2.

Pantera queria trabalhar ritmos como a Tabanca e o Batuco com recurso a percussão. Gravamos o primeiro dessa experimentação. Degustamos a génese da obra. O arquivo sumiu. Só depois veio ele preferir a guitarra em detrimento da percussão. Nunca me explicou os motivos embora tenhamos tido várias ocasiões para tal.

Veja: na véspera da morte de Ano Nobo o entrevistei de noitinha. Fui o último Jornalista com quem falou. Magoadamente não temos esse arquivo. Foi um convite do João Branco, responsável por esta minha incursão pela Rádio, que quis pegar Ano Nobo para um trabalho no âmbito da produção da obra Nação Teatro, livro que é um importante documento histórico. Para meu conforto julgo que o João deverá,ainda, estar na posse do suporte contendo a conversa com Fulgêncio Tavares. Há, ainda, as fotos, que são uma obra de arte e a serem utilizadas por todos como se tratasse d'algo de dominio publico. Na verdade, julgo, a entrevita com Ano Nobo foi o mais triste episódio da nossa vida profissional.Foi na terça a entrevista. Na quarta-feira morre. Sáimos de Lém Pereira já era noite. Ano Nobo gabou-se de boa saúde. Abriu-nos o baú das obras por publicar. Mal julgavamos que horas depois deixasse-nos sem se despedir. Até lá deverá ainda estar um gato que ele nos doou. Nunca mais lá voltei. Estou a dizer isso, para tentar ou procurar defender a ideia de que a cultura em Cabo Verde é vista assim divulgada como sendo a agenda de artes e espectáculos. Do Património (material e imaterial) nada se fala. Alías, não tem havido, por parte dos promotores da Cultura, essa necessária disponibilidade e/ou "espertice" para com o Jornalista criar uma rede de difusão cultural nos Média. Por cá, pelo que divulgamos, eu incluindo, tem-se resumido ao entretenimento e alguns aspectos das festas de romaria, festas municipais - na sua vertente baile - e uma certa literatura.


Há por aí gente com alma e brio a produzir arte e cultura de qualidade. Veja os penteados novos que as moças exibem, veja o modo como o mercado livre está a mudar radicalmente a nossa vestimenta. Veja a forma como todos se comportam perante a flora e fauna cabo-verdianas. Veja o movimento de hip-hop, rap, dança, escrita. Nos bairros ditos periféricos há delinquência.

Entretanto a maior riqueza está nos jovens, homens e nas mulheres que diariamente, sem que saibamos dão cultura ao povo da zona. A Comunicação lá não está. Quero mostrar aos cabo-verdianos a dinâmica nos bairros da Cidade, incluindo o Platô. Claro, também, irei aos habituais centros de exibição cultural e explorarei os aspectos que fazem de nós cabo-verdianos.

KRIOL RÁDIO: Num país onde só é cultura as manifestações que tenham a legitimidade das elites, não receiam que o Terra Activa seja votado à indiferença pelos habituais produtores de cultura?

E.R.: Por esta e restantes putativas “indiferenças” proponho promover o debate de questões relevantes para a compreensão da Cultura cabo-verdiana, com realce para a preservação do Património.

Contribuir para a materialização de parte substancial das recomendações saídas do “Fórum sobre a Economia da Cultura”, realizada em Novembro de 2008 na Cidade da Praia.

Constituir-se num desafio aos demais produtores para que à Cultura seja dado o devido e merecido destaque no panorama audiovisual cabo-verdiano, quer seja Televisão ou Rádio.
Informar produtores e agentes culturais das ferramentas que propiciem e fomentem um mercado cultural que seja a um tempo enriquecedor da nossa identidade nacional e contribua para a sustentabilidade económica do País e sua Cultura.
Ser um espaço para a divulgação e, ao mesmo tempo, de promoção dos novos talentos e das novas tendências na área das artes e do espectáculo.

Com a difusão televisiva do programa os criadores e, sobretudo, os produtores e agentes culturais ficarão na posse de conhecimentos que lhes permitam, por exemplo, saber: elaborar e formatar projectos de âmbito cultural; enquadrar projectos na Lei do Mecenato; saber os factores que valorizam projectos; conhecer as fontes de financiamento; proceder convenientemente à captação de recursos e laborar planos de marketing cultural.


KRIOL RÁDIO: Sendo editor cultural da Rádio de Cabo Verde, responsável pela produção de um Jornal e um Magazine, porque este piscar de olhos à Televisão?

E.R.: Quero ter um programa com esta ambição que expliquei. Rádio ou Televisão é-me indiferente. Agora há cerca de 14 anos que não trabalho em cinema. Fiz várias formações entre as quais produção cinematográfica. Julgo oportuno experimentar esta nova “cara”.



KRIOL RÁDIO: Concretizar semelhante empresa requer a mobilização de recursos de vária ordem. E estamos a falar de um país onde os patrocínios e o mecenato cultural são bastante incipientes…

E.R.: O Programa visa também as empresas, pois por mais que o investimento na Cultura tende a crescer são, ainda, incipientes as iniciativas empresariais de financiamento, patrocínio e apoio às actividades culturais. Assim sendo, esperamos, através da informação, levar os decisores privados a compreenderem a importância do patrocínio cultural na economia da Empresa.

Para a materialização de Terra Activa, em termos de recursos financeiros, vai a Produção propor o financiamento deste projecto à instituições públicas e privadas.

Em contrapartida propomos, através de um pacote que inclua publicidade no início do programa e na Ficha Técnica bem assim nas promoções do mesmo (em cartazes, camisolas e convites) reforçar a imagem institucional das marcas e/ou instituições públicas ou privadas que financiem ou patrocinem o presente projecto.

Propomos ainda destacar o incentivo que esses financiadores fazem a promoção da Cultura nacional, em espaços, num ângulo de abordagem em que destacamos o compromisso dessas entidades com a Cultura.
Estou em crer que tudo vá dar certo. Julgo estrear o programa ainda em finais de Julho ou meados de Agosto deste ano. Creio que poderemos contribuir para a mitigação desta ideia redutora que temos da Cultura.