Ao mesmo tempo que inauguraram novos estúdios digitais na Praia com toda a pompa, os responsáveis da empresa pública de televisão não cumprem compromissos com a sua representação mindelense, deixando jornalistas, operadores e técnicos impotentes para dar resposta às necessidades de informação
Praia, 21 de Novembro 2001 – A TCV acabou de inaugurar, com pompa e circunstância, discurso do Primeiro-ministro e bênção do Bispo, as novas instalações e estúdios digitais na Praia. Foi no passado dia 18, sexta-feira, num dia “abrilhantado” com programa em directo – de discutível qualidade, diga-se de passagem -, autêntica encenação de propaganda da administração e do Governo que se fartaram de dar loas à “introdução de uma solução tecnológica de ponta”, alegando estarem “criadas as condições para o aumento da produção, melhoria da qualidade e diversificação da oferta” do canal público de televisão.
Porém, os profissionais da TCV no Mindelo (São Vicente) acham que não passam de “bazófias de uma administração incompetente”, segundo disse a Liberal uma fonte da delegação mindelense que, por razões não difíceis de deduzir, pediu o anonimato.
À pompa, à modernização e ares de grande empresa virada para o futuro, confronta-se a inexistência de meios e condições dignas para os profissionais no Mindelo poderem exercer a sua actividade de forma eficaz e com critérios mínimos de qualidade. Liberal teve acesso a um e-mail dirigido à administração da TCV, por uma jornalista, e que é esclarecedor: “Olá, congratulo-me com mais este upgrade da RTC - pena que não seja transversal. Enquanto na sede se avança no século XXI, aqui na divisão da TCV Mindelo, retrocedemos para os idos do século XX. Estamos a montar no sistema analógico, nas cassetes BETACAM. As duas unidades de edição digital estão estragadas - uma teve de ir para a Praia, para o conserto, e a outra está bloqueada, sem condições de uso. Até quando?”
As broncas sucedem-se, a título de exemplo, por altura da abertura do Fórum Nacional de Artesanato, a câmera utilizada na reportagem acabou por não registar nenhuma imagem, e para se poder cobrir o primeiro workshop do Fórum, houve necessidade de alugar equipamento que, no entanto, não teve qualquer préstimo porque não estava programado para o sistema utilizado na TCV… A solução foi socorrerem-se de imagens cedidas pela organização do evento.
Num relatório, a que Liberal teve acesso, é evidente a frustração que campeia entre os profissionais da TCV no Mindelo, “pela falta de condições mínimas de trabalho”, e onde se considera que “não seria assim se a administração cumprisse o compromisso tantas vezes reiterado, de enviar um equipamento de filmagem para uma delegação com CINCO jornalistas e QUATRO operadores de imagem”.
Frustração e desesperança, diga-se de passagem, bem expresso no final do documento: “Este relatório não vai mudar absolutamente nada: vamos continuar a usar as DUAS câmaras de estúdio. Gostaria era de convidar o corpo administrativo da RTC e da TCV para que nos acompanhassem no terreno, num fim-de-semana de cobertura aqui na delegação. Será a única forma de conseguirmos algum respeito da vossa parte?”
O “projecto de modernização da Televisão de Cabo Verde”, anunciado pela administração no final da passada semana, parece ser, pelo menos no que respeita à delegação mindelense, “conversa para boi dormir” – como sói dizer-se na nossa terra…