sexta-feira, maio 15, 2009

A RCV + JÁ ESTÁ EM S. VICENTE

As emissões da RCV+, o canal jovem da Rádio de Cabo Verde, já podem ser ouvidas nas ilhas de S. Vicente, S. Antão e S. Nicolau.

A apresentação pública da RCV+ Mindelo está prevista para este sábado, dia 16, numa mega-emissão em simultâneo com a RCV, a parti das 10 horas, em directo da Laginha. MÚsica e muita animação são os condimentos festa de arromba.

Apesar de não ter sido convidado, o KRIOL RÁDIO associa-se à festa e dá-lhe a conhecer os rostos da RCV+.
Germano Lima, gestor da RCV +


Samir Santos, animador


Paula Fortes, animadora

Nany, cantora e animadora

Gil Noro, animador



Em Mindelo, a coordenação da emissão vai estar a cargo do Rito Afonso, a voz do TOP AS DEZ MAIS.



AS FOTOS QUE SÓ EU TENHO

A rubrica “As fotos Que Só Eu Tenho” traz hoje alguns momentos de trabalho radiofónico e de convívio entre colegas. Instantâneos registados pelo jornalista Orlando Rodrigues e que reflectem algumas facetas interessantes do nosso trabalho.




Santos Nascimento, Graça (Protecção Civil), Orlando Lima e Emanuel Sanches, durante uma emissão especial da RCV realizada no “djeu” de Santa Maria, na Praia, em Outubro de 2003.

Manuel Lopes confecciona um short para o Germano Lima.


Manuel Lopes aplica a experiência ao Carlos santos, perante o gozo do Orlando Lima e da Carla Lima.





Carla Lima com colegas de outros órgãos, Agílio Santos e Tony Teixeira (TCV) e João do Rosário (na altura jornalista da INFORPRESS) à espera de transporte para a redacção depois de uma reportagem no Palácio do Governo.



Orlando Lima e Santos Nascimento com Rui Machado, Djosinha e Nhô Balta depois de uma entrevista no Estúdio de Emissão da RCV.

quinta-feira, maio 14, 2009

RCV JÁ TEM CONSELHO DE REDACÇÃO


O Conselho de Redacção da Rádio de Cabo Verde, eleito no dia 9 de Abril, deverá reunir-se em breve, na sua primeira sessão ordinária. Nessa reunião, o órgão que representa todos os jornalistas da estação pública, deverá analisar todos os aspectos ligados ao funcionamento actual da RCV, com destaque para o sector da informação. Integram o conselho de redacção os jornalistas, Carlos Santos, Astrides Lima, Nélio dos Santos, Albertino Brito, Carlos Monis e Orlando Rodrigues.

A Lei da Comunicação Social estipula no art. 24º, nº 2, que “nos órgãos de comunicação social com mais de cinco jornalistas, estes elegem um conselho de redacção por escrutínio secreto, segundo um regulamento por eles aprovado.”

O Conselho de Redacção tem as seguintes competências: Pronunciar-se sobre a designação ou demissão pela entidade proprietária do Director e do Director-Adjunto; Dar parecer sobre a elaboração e as alterações ao estatuto editorial; Cooperar com a direcção do meio de comunicação social na orientação e politica editorial; Pronunciar-se sobre a responsabilidade disciplinar dos jornalistas profissionais.

O Conselho de Redacção (também designado comité de redacção ou comissão profissional) é eleito democraticamente pelos membros da redacção, tornando-se assim, no “órgão de representação profissional perante a direcção e a empresa. Através dele, a redacção pode pronunciar-se a respeito das decisões que afectam a sua actividade profissional.

Na prática, trata-se de “um acordo voluntário entre os profissionais de uma meio de comunicação social e a respectiva empresa com pelo menos duas funções: criar vias de comunicação entre a redacção e as direcções do meio de comunicação e a empresa; e reconhecer uma série de direitos e obrigações dos profissionais e da empresa, que as ambas as partes se comprometem a salvaguardar e a respeitar.”

Todos estes requisitos (e alguns outros de menor relevância) podem garantir que a eleição seja plenamente democrática e que os eleitos representem e defendam os interesses da maioria da redacção. Todos os estatutos estabelecem que os membros do conselho não podem ser sancionados nem despedidos pelo exercício da sua função, sendo este mais um mecanismo para garantir a sua independência. Aliás, esses estatutos reconhecem-lhes, para além disso, os mesmos direitos que a qualquer representante sindical.

O regulamento estabelece determinados canais de participação da redacção nas questões profissionais que possam afectá-la. Nestes casos, o conselho funciona como veículo de comunicação entra empresa e a direcção do meio de comunicação social.

Em primeiro lugar, o conselho actua como interlocutor perante a empresa, servindo como um canal reconhecido para transmitir a opinião da redacção. Para conhecer esta opinião, o conselho pode convocar a assembleia da redacção, quando a considerar oportuno (desde que não interfira com o funcionamento do meio de comunicação social).

Outra função essencial do conselho é transmitir à empresa a opinião da redacção sobre as nomeações para os cargos directivos do meio de comunicação social, em particular do director. Trata-se de um passo importante no reconhecimento de um certo direito de participação da redacção na escolha dos ocupantes de certos cargos, por muito limitado que seja, e que supõe um primeiro passo em direcção à democratização interna dos media.

Alguns regulamentos que instituem o CR em vários órgãos de comunicação social estrangeiros estabelecem que o conselho de redacção pode fazer chegar a sua opinião fundamentada sobre a nomeação de um novo director quando dois terços ou mais da redacção não estiverem de acordo com a proposta da empresa. O órgão incumbido de tomar a decisão (o Conselho de Administração, a Assembleia-Geral de Accionistas, etc.) deverá ter em conta esta opinião, embora ela não seja vinculativa. O mesmo acontece nos casos inferiores, em que cabe ao director dar a conhecer as propostas e escutar a opinião da redacção.

É certo que os profissionais não podem decidir a nomeação dos cargos do meio de comunicação social nem mesmo impor um veto que vincule a empresa. Mas não deve ignorar-se a importância deste direito de emitir uma opinião sobre as nomeações (em particular quando existe uma oposição maioritária).

O carácter não vinculativo da opinião da redacção reduz a sua margem de influência, mas não a anula: não é muito provável que uma empresa decida impor uma nomeação (ou que o próprio implicado a aceite) contra a vontade de quem vai ter de colaborar estreitamente com o nomeado. O estatuto do El Mundo, por exemplo, vai mais longe: estabelece que, caso aconteça, a referida oposição de dois terços à nomeação, um representante do conselho de redacção deve ser ouvido pelo Conselho de Administração ou Assembleia-Geral da empresa, que tomará a decisão final quanto à nomeação. Além disso acrescenta que o conselho pode tornar pública a posição da redacção nas páginas de opinião do diário, nos quatro dias seguintes à nomeação.

Assim, não só se facilita a transparência, em caso de conflito interno, como também se reforça indirectamente a capacidade negociadora da redacção, já que a empresa procurará sempre evitar que se chegue a adoptar essa medida. Em todo o caso, qualquer avanço na transparência interna dos media, para que o publico disponha de informações do que ocorre no interior, onde se elaboram os conteúdos que recebe, é essencial para a promoção de meios de comunicação social mais éticos e independentes.

O Conselho de Redacção também age como interlocutor junto do director do meio comunicação social, fazendo-lhe chegar as exigências, sugestões, opiniões, etc., de carácter profissional da redacção. Isto não afecta o papel que o director desempenha em qualquer meio de C.S. e que os estatutos reconhecem. Um meio de comunicação social requer uma redacção bem organizada, com responsabilidades e tomadas de decisões hierarquizadas, de molde a que se consiga um resultado unitário do trabalho colectivo.

Neste sentido o estatuto da redacção destaca o papel decisivo do director e reconhece o seu direito de veto sobre os conteúdos do órgão de comunicação social. Não é função do conselho questionar ou interferir no trabalho do próprio director, mas sim servir de canal de diálogo sempre que possam surgir discrepâncias relevantes, tanto individuais como colectivas. Por isso, o conselho pode convocar a qualquer momento reuniões com a direcção, embora seja talvez mais importante o facto de estas reuniões se celebrarem periodicamente (mensalmente) para serem mais eficazes

Por outro lado, a empresa deve comunicar qualquer mudança empresarial, dos accionistas ou de outro tipo susceptível de afectar o meio de comunicação social. Igualmente, o director deve informar sobre os projectos, reorganizações, novidades tecnológicas, etc., que afectem a actividade profissional dos jornalistas, além de discutir, dentro do possível, a sua aplicação com o conselho. Reconhece-se assim o direito moral dos profissionais a serem informados sobre o que possa afectá-los profissionalmente.

Frequentemente encarados com bastante reserva por parte das empresas, os estatutos de redacção, ao tornarem possível a comunicação entre a empresa, direcção e redacção, deveriam ser considerados de uma forma mais positiva, como um contributo essencial ao espírito construtivo que deve presidir ao trabalho de um meio de comunicação social.

O CR deve também poder desempenhar uma função mediadora em caso de conflitos particulares, por exemplo, quando um profissional invoca a cláusula de consciência. O conselho converte-se na primeira instância a que podem recorrer as partes afectadas nestes casos. Dado o carácter democrático da sua eleição, podemos considerar que o conselho actua em defesa dos interesses e direitos dos profissionais, contribuindo para implementar a sua sensação de segurança e favorecendo, assim, o ambiente propício para levarem a cabo o seu trabalho. Por seu lado, a empresa deveria ver com bons olhos a existência de um mecanismo que ajuda a evitar conflitos mais graves.

Finalmente, convém mencionar uma função do conselho de redacção que não aparece relata nos estatutos (regulamentos) mas que é induzida pela própria criação desta figura. Na verdade, na medida em que o conselho é formado e reconhecido como representante qualificado da redacção pode assumir também este carácter representativo fora do meio de comunicação social.

Em Portugal os Conselhos de Redacção da RDP e da RTP foram ouvidos pela comissão de peritos criada pelo governo PSD-CDS/PP em 2003, que tinha como missão propor medidas para a reestruturação da Radiotelevisão portuguesa. Há que pensar que, no futuro, o mesmo pode acontecer também noutras áreas, como o conselho de comunicação social (ou outra entidade reguladora que se vier a criar) ou mesmo os tribunais.

Para além dessa cooperação com a direcção nas funções de orientação editorial, deve-se reconhecer ao CR competências para emitir recomendações e pareceres, designadamente no domínio da deontologia. Talvez fosse igualmente importante a consagração do poder de pronunciar-se acerca da responsabilidade disciplinar nos processos abertos pela Comissão de Carteira Profissional do Jornalista relativamente a jornalistas pertencentes ao corpo redactorial do respectivo órgão de informação.

Os jornalistas da Rádio de Cabo Verde orgulham-se de assumir voluntariamente a auto-regulação profissional como condição indispensável à responsabilidade social da sua função, ainda que bastante insuficiente. Essa disponibilidade não pode iludir a ausência de uma verdadeira carta de auto-regulação (o Livro de Estilo e o Estatuto Editorial podem ajudar na prevenção de deslizes deontológicos) ou código de conduta no interior do órgão RCV.

KRIOL RÁDIO



quarta-feira, maio 13, 2009

MAIOR DINAMISMO NA RCV


O jornalista Odair Santos assume, a partir de hoje, a chefia da programação da Rádio de Cabo Verde.

O até ontem editor do Jornal da Noite garante que as mudanças na grelha de programas da estação pública devem acontecer, paulatinamente, até para não haver alterações bruscas, devendo as mexidas na grelha basear-se nos dados científicos disponíveis. “Por tradição a RCV apresenta aos ouvintes uma nova grelha em Outubro, vamos manter essa tradição e dar-lhes algo diferente a partir do último trimestre deste ano.”

Para a programação de verão, Santos afirma ter já partilhado com os restantes membros da Direcção da RCV as linhas gerais de uma programação mais leve, que aposta na interactividade com os ouvintes, destacando igualmente todos os eventos desportivos de uma forma ágil e dinâmica, por forma a não saturar a audiência. “Também, a programação deve ter a voz dos cabo-verdianos, de modo a que todos os ouvintes se identifiquem com a estação”, acrescenta o novo chefe de programas da Rádio de Serviço Público.

A aproximação da RCV às comunidades é uma outra prioridade de Odair Santos, que explica os segredos para a descentralização das emissões: “A rádio cada vez mais próxima dos ouvintes, fazendo um jornalismo cívico. Neste período pretendemos falar da segurança nas praias, do desenvolvimento do turismo, da emigração e das problemáticas como alcoolismo, sida, delinquência juvenil, pobreza, etc. Dar voz à sociedade e aproximando as autoridades locais dos munícipes através dos regionais, cujo conteúdo deve ser fortalecido e não alargado.”

O novo chefe do departamento de programas e produção da RCV afirma que a Rádio de Cabo Verde tem excelentes profissionais e é com esses jornalistas, técnicos e animadores que espera contar para a realização das emissões interactivas fora do estúdio

A emissão nocturna da Rádio Nacional vai igualmente ser repensada e reorganizada, pois, “não pode continuar como está.” Para já, a ideia é o espaço passar a ter mais música cabo-verdiana, desde da tradicional à moderna, fazendo o acompanhamento das noites cabo-verdianas.

O jornalista Odair Santos promete ainda repensar a transmissão dos festivais musicais que, para além da actuação dos artistas e de entrevistas com os artistas, deve dar destaque também a reportagens que retratem o ambiente nas praias, a segurança, o saneamento, a convivência e os pequenos negócios.

O início de funções do novo chefe de programas põe fim a um período de 10 meses em que a programação da Rádio de Cabo Verde esteve sob a alçada do director da estação, em regime de acumulação.

KRIOL RÁDIO




RCM PODERÁ FICAR FORA DO AR



Os animadores da RCM, Rádio Comunitária para o Desenvolvimento da Mulher, ameaçam abandonar aquela estação emissora no próximo sábado, caso a Ami-Paul, entidade gestora, não estipular um contrato de trabalho para os sete jovens que ali trabalham.

Desde 30 de Junho de 2005 que a RCM vem transmitindo em modelação de frequência 96.9 MHz e ate então o trabalho é de carácter voluntário cabendo aos animadores uma pequena gratificação que nem sempre chega no tempo oportuno.

A porta-voz do grupo, a animadora Eneida Pires, classifica a situação por que passa a Rádio Comunitária para o Desenvolvimento da Mulher de insustentável.

Sabe-se que a RCM está a passar por uma fase difícil e as receitas não abundam face as despesas. Perante o descontentamento os 7 animadores da Rádio Comunitária do Paul ameaçam abandonar a estação emissora já no sábado caso a Ami-Paul entidade responsável não lhes der uma decisão satisfatória

Neste momento a rádio transmite apenas música. Uma situação que preocupa os ouvintes, como é o caso de José Lucas que não esconde a sua indignação perante tal situação

Contactado, o Director da RCM, Ricardino Évora, não quis prestar declarações, alegando que o responsável máximo da Rádio Comunitária para o Desenvolvimento da Mulher, Pires Ferreira, não se encontra na ilha de Santo Antão.

Por: Rui Costa

segunda-feira, maio 11, 2009

UM HOMEM DA RÁDIO


Na prossecução do seu principal objectivo de resgatar a história da radiodifusão em Cabo Verde, o KRIOL RÁDIO orgulha-se de apresentar na íntegra as respostas a um questionário enviado ao jornalista Fonseca Soares (Tchá para os colegas e amigos). Um jornalista experiente, um comunicar por excelência, e um verdadeiro homem da rádio (radialista). Sem dúvida uma referência para a actual geração de jornalistas de rádio.

Ajude-nos também a contar a história da Rádio em Cabo Verde.



KRIOL RÁDIO: Como era a rádio naquele tempo quando começaste a trabalhar?

Fonseca Soares: Encontrei uma Rádio que aprendi a reconhecer como profissional, apesar da estrutura amadora. Uma pequena estação emissora emitindo em Ondas Curtas – depois em simultâneo também Frequência Modulada – com três períodos de emissão diários, perfazendo um total de oito horas/dia. Mas começando pelo início, a Rádio Barlavento que descobri no ano 1971, era bastante bem organizada a ponto de ter concebido testes específicos para triagem de candidatos a estágios de radialistas. Para discotecário, para ajudante de estúdio (operador de som) e para locutor (apresentador). Na altura ainda não havia a classe de jornalistas na colónia.

No caso do candidato a locutor, além de habilitações literárias era necessário passar por um teste de leitura e gravação de ‘papéis utilizados’ nos jornais da estação, com um colectivo de júris (reconhecidos homens da literatura) a aquilatar do mínimo de condições para se ser aceite em estágio. Notava-se desde logo, que havia um perfil bem definido para radialista crioulo que começava pelo timbre da voz e acabando na dicção e um certo nível de cultura geral.

Nunca me esquecerei do dia em que – após várias noites de desassossego – chamado para os resultados do teste de admissão, o director executivo da estação, Telmo Bárrio Vieira, me confidenciou o seu dilema: “que eu tinha conseguido boas notas e passado nos testes mas que não podia me admitir sequer para estágio como locutor, pois não tinha idade para ser chefe de ninguém; que do organigrama da estação se aferia que o locutor era quem assumia a chefia da equipa de serviço… e que eu nem podia ser chefe de mim mesmo. Fiquei mudo e quedo.

Na mente, em turbilhão, o cenário de um desmoronar precoce do sonho que me habitava há muito, não obstante os meus quinze anos na altura. Perante o meu silêncio, o sr. Telmo sentiu-se obrigado a avançar com uma proposta alternativa. O máximo que podia fazer por mim… era deixar-me entrar para o estágio de ‘ajudante de estúdio’… que assim sendo já estaria na ‘casa’… quem sabe se dali a alguns anos já poderia ‘entrar’ para locutor… Sem pensar, acho que a resposta nasceu mesmo na boca: “Sim senhor, eu quero!”
Isto já serve para dar uma ideia da organização da então Rádio Barlavento. Com hierarquias bem definidas. Um director que quase nunca víamos (um Dr. Aníbal Lopes da Silva mais preocupado com arranjar os meios, além da direcção do Grémio); um director executivo e técnico omnipresente; equipas de serviço formadas por uma dupla de locutor e ajudante de estúdio; com horários pós laboral pré-definidos e em escalas próprias.

Afora isso, uma discoteca/bandoteca bem gerida e bem servida, com o papel de programar todas as músicas de cada das rubricas da programação global da estação. De realçar que só em ‘programas de autor’ se tinha o ónus de poder rodar músicas do gosto da equipa de serviço. Aliás uma Programação de onde se poderia aferir da preocupação em ter um política de rodagem/passagem de música: à volta de 50% do tempo se rodava a chamada ‘música da nossa terra’; uns 30% de música portuguesa; e o restante, para música estrangeira que, também ela, era muito rica na discoteca pois era alimentada por acordos/contratos com distribuidoras portuguesas (da então ‘metrópole’).

No que à Informação diz respeito, tirando o facto de notícias locais serem quase que inexistentes (e só em momentos especiais merecerem honras de notícia – para mais, escritas fora da estação!), o mesmo se poderá avançar em relação à forma como, todos os dias, e em todos os jornais (das treze e das vinte) se apresentavam notícias nacionais (Portugal) e do Mundo, à luz do controlo e da censura na escolha dos ‘papeis e estórias’ apresentados nos mesmos, de acordo com a conjuntura da época.

E as ‘notícias’ chegavam através da recepção via morse dos textos e alinhamentos enviados da capital portuguesa, recebidos e descodificados pelo saudoso Francisco Tavares d’Almeida (Chico Escuta) … e lidos depois pelos locutores da Rádio Barlavento. Na sequência da tomada da Rádio Barlavento e consequente instituição da Rádio Voz de S.Vicente, aconteceu uma mini-revolução em termos de informação e programação – estes agora virados para a terra e pelo nosso continente.

Focalizando agora os ouvintes dessa estação emissora, pode-se dizer que a audiência tinha como único limite o custo dos receptores de rádio que eram rádios a válvula, raros e caros… nem todos podiam dispôr em suas casas… pelo que muita gente escutava a rádio à janela de vizinhos ou em lugares públicos - de que se destaca a ‘corneta’ da Praça Nova - no Mindelo. Estava-se já na altura no que se pode chamar de ‘anos de ouro’ da rádio em Cabo Verde. Todos se interessavam ou estavam mesmo ‘enfeitiçados’ pela caixinha que falava e tocava.

Desnecessário será então referir do profissionalismo, organização, seriedade dessa estação emissora – não obstante ser uma rádio amadora – com gente a trabalhar em regime de ‘part-time’.


KRIOL RÁDIO: Qual a comparação com a rádio de hoje?

A comparação maior que se pode fazer em relação à rádio de hoje… resume-se neste antagonismo: por um lado, uma rádio amadora com cariz profissional; versus uma rádio profissional com cariz amador. Salvaguardando, com certeza, as devidas proporções e conjunturas, porque na realidade não são situações nem organizações comparáveis. Oito horas de emissão por dia – divididas por três períodos… versus 24 horas/dia; uma pequena equipa de amadores a laborar nas horas de lazer… versus uma equipa bem grande de profissionais, na sua maioria com formação específica e superior na matéria;

Já em termos técnicos e de equipamentos… a diferença é abismal, tanto em meios humanos como em meios técnicos. No entanto, é de realçar que os meios para a manutenção e renovação não progrediram de acordo com a estrutura. Ontem como hoje, continuam a depender e muito, da conjugação de esforços externos à estação sobretudo em tempos de penúria, e mediante a convocação de todos os deuses… Nunca me esqueço do tempo em que – nas emissões - se anunciava uma determinada peça ou programa, fechava-se rapidamente o microfone para se poder dar o competente ‘soco/play’ no gravador para se poder ter de seguida a entrada do RM ou gravação do programa ou spot.

E isto diz tudo em relação a meios. Há que reconhecer que se registou uma evolução extraordinária a nível global na rádio pública deste país. Mas não como ignorar que ainda hoje há sectores que têm muito a aprender com a prática da rádio d’outrora. Sobretudo na organização, seriedade, entrega… em resumo no profissionalismo. Há coisas que continuam a acontecer hoje mas que não são mais admissíveis.

KRIOL RÁDIO: Como profissional com mais de 30 anos de actividade, qual a tua opinião sobre a rádio que se faz hoje em Cabo Verde (a rádio de serviço publico e as outras que estão no mercado)?
Temos hoje uma rádio pública, após um período bom e de crescente qualidade, estagnada há pelo menos uns dez anos. Digo isto porque a minha experiência mo diz, e foi mostrando ao longo dos anos que a Rádio Nacional evoluiu a reboque e acompanhando a própria vida do país. Cumpriu sempre nos tempos ‘especiais’ como é o caso do período de transição para a Independência e nos primeiros anos da construção deste país, exercendo um papel fundamental na conscientização deste povo e sobretudo no despertar para realidade sócio-política das ilhas.

Ajudou e cumpriu nos tempos da criação do país com o redescobrir da nossa identidade e cultura nacionais… e mesmo no montar das estruturas todas do novel Estado. Foi ajudando, e mesmo em certos momentos, empurrando (facilitando) … estamos a pensar nos tempos de partido único. Mais tarde, voltou a cumprir e ter papel de destaque na instauração do multi-partidarismo, e continua – sobretudo em momentos chave como os das eleições – a dar o seu quinhão para o desenvolvimento das ilhas. Mas posso dizer que há já bons anos que estamos em momento crucial – hesitantes – à espera de dar o necessário passo (salto) em frente… que teima em não acontecer.

A Rádio Nacional precisa tornar-se mais profissional, mais da Nação e assumindo equidistância dos partidos, especialmente os do poder. Em suma, a RN precisa emancipar-se (através da assinatura de contratos-programa de serviço público) e ter uma agenda própria, de acordo com os desígnios e exigências da Nação, tanto em termos de Informação como de Programação. No sentido de uma maior proximidade em relação às populações de todos os cantos do país. Uma informação e uma programação ao serviço do desenvolvimento das gentes das ilhas – e não de interesses pessoais, de poderes económicos e partidários, conjunturais e mais a ver com estratégias de poder.

A Rádio de Cabo Verde precisa passar a ser, através de uma decisão firme e um investimento programado de acordo com uma estratégia sábia e científica, uma Estação Profissional de Rádio Pública. Com os contratos-programa normalizados e normatizados a serem cumpridos na íntegra. Cumprindo com o seu papel de órgão estatal de informação e formação, com programas que ajudem a enformar a sociedade civil desejada que, por sua vez, irá criar uma nova mentalidade de participação na vida pública do país e na produção de mais valias para o tal Cabo Verde novo que todos almejamos e merecemos.

Quanto às outras rádios, infelizmente, nota-se a mesma superficialidade em relação aos problemas do país, e uma atenção quase que exclusiva à passagem de música comercial, e com uma programação sem outro objectivo que não seja o puro divertimento.

KRIOL RÁDIO: Na tua opinião, quais os grandes desafios que se colocam à rádio que se faz hoje em Cabo Verde?

O já mencionado desafio da profissionalização no verdadeiro sentido da palavra, dando a devida atenção às produções factual, cultural e educacional, com a eficiência exigida num país de parcos recursos.
Resumindo, a montagem de redacções a funcionar em pleno, com vida e agenda próprias… alimentadas pelo ritmo de desenvolvimento e pelos desafios do país. Criar a capacidade de emitir em directo, regularmente, em todo e qualquer ponto do país. Tratar de todos os ângulos o sem número de preocupações e problemas do dia-a-dia das populações – dar vez e voz à Nação Caboverdiana.


KRIOL RÁDIO: Se tivesses que dar algum conselho aos jovens que estão a iniciar funções na rádio, o que é lhes dirias?

Antes de mais gostaria de dizer isto: Ao futuro da Rádio Pública se deve dar muito mais atenção, com a definição de um perfil global do homem de rádio. Desde a inscrição nos RH’s até ao final de um estágio específico. Porque se nota que Cabo Verde já teve, em períodos circunscritos, o que se pode chamar de ‘anos de ouro da rádio’. É preciso cuidar da passagem de testemunho, sem a perda de valores, de qualidade.

E aos jovens que se iniciam na carreira de jornalistas de rádio, chamamos a atenção para a necessidade de ‘trabalhar a língua’, trabalhar a voz, a dicção, sem esquecer a escrita/redacção específica para Rádio, essa tal escrita quase que falada – que infelizmente parece estar a perder-se irremediávelmente. Digo isto porque me parece que está visível para todos a perda de qualidade nesse campo.
E, para terminar, peço aos jovens radialistas que sejam exigentes consigo próprios, que estudem sempre, que aprendam no seu dia-a-dia, que estejam atentos e ligados à sociedade para a qual trabalham.

KriolRádio