quarta-feira, dezembro 23, 2009

OS DIAS DA RÁDIO I

Na senda da sua missão de colaborar, ainda que de forma modesta, para que se conheça a história da radiodifusão em Cabo Verde, o KRIOL RÁDIO, reproduz, com a devida vénia, uma comunicação proferida pelo Dr. Rolando Martins, um dos decanos do jornalismo radiofónico cabo-verdiano, antigo director da Rádio Voz de S. Vicente. Como sempre, contamos com a colaboração de todos aqueles que fizeram rádio no passado (ou que ainda se encontram ao microfone) ou que de alguma forma possam acrescentar elementos outros que nos possam ajudar a descodificar o percurso da rádio em Cabo Verde.

Em Maio de 1945, curiosamente no ano em que os alemães se renderam, instala-se a primeira emissora cabo-verdiana, primeiro com a designação de Rádio Praia e, depois, de Rádio Clube de cabo Verde, graças ao entusiasmo de privados, em que se destacam técnicos ligados às telecomunicações, como o director dos CTT, Rogado Quintino, Tomas Barros (o pioneiro da rádio em Cabo Verde) e Telmo Barros Vieira, que montou o segundo emissor da Rádio Praia.

O enorme interesse manifestado pela informação da rádio sobre o desenrolar da guerra (IIGM) em todo o arquipélago que, segundo testemunhos, levavam as pessoas a aglomerarem-se à volta dos poucos receptores existentes, terá contribuído para esta histórica iniciativa. Na época, a Praia é descrita, em 1951, por um visitante, em comparação com o Mindelo, como uma cidadezinha provinciana, mas mais pitoresca e graciosa, enquanto outros destacavam que as suas ruas eram, de uma maneira geral, limpas, arejadas e bem calçadas. É nessa pequena cidade que tem início a radiodifusão em Cabo Verde.

Em 1949, o Rádio Clube de Cabo Verde utilizava um emissor de ondas curtas de 500 Watts na frequência de 4000 quilociclos/ segundo, banda dos 75 metros, inicialmente durante hora e meia, das 18:30 às 20 horas, aumentando depois o tempo de emissão para duas horas. Cobria em condições deficientes uma parte do arquipélago. Recebe a colaboração de figuras da intelectualidade cabo-verdiana, como Jaime de Figueiredo, Arnaldo França, Guilherme Rosteau, o próprio Amílcar Cabral, e tantos outros. Com a independência passou a designar-se emissora oficial de Cabo Verde e, depois, Rádio Nacional de Cabo Verde.

Dois anos depois, mais precisamente a 27 de Maio de 1947, inaugura-se o Rádio Clube de Mindelo, com emissões inicialmente às terças, sábados e domingos, das 18 horas às 19:30, depois diárias, por iniciativa, sobretudo, de alguns pequenos comerciantes portugueses e elementos da pequena burguesia mindelense.

Com um emissor de ondas curtas de fraca potência, transmitia na frequência dos 4755 q/s na banda dos 62 metros, cobrindo quase exclusivamente a ilha de S. Vicente. Evandro de Matos, mais conhecido por Evandrita, é um nome incontornável na história desta emissora.

Merecem ainda uma referência as emissões da chamada Rádio Pedro Afonso, surgida por volta de 1950. De existência curta, cobria uma faixa pequena da cidade. O calco é feito por observação pessoal porque a Rádio Pedro Afonso funcionava na rua Machado no prédio defronte onde funciona hoje a Policia Judiciária.

Em 30 de Junho de 1955, após um mês de emissões experimentais, inaugura-se a Rádio Barlavento, propriedade do Grémio Recreativo Mindelo, então presidido pelo Dr. José Duarte Fonseca. No acto de inauguração, o Dr. Adriano Duarte Silva, deputado por Cabo Verde, destaca a iniciativa da Direcção, e o nome do Sr. Mendo Barbosa da Silva, é apontado como o grande obreiro da sua concretização.

Creio ser consenso entre as pessoas que conheceram por dentro e por fora a actividade da Rádio Barlavento que o Dr. Aníbal Lopes da Silva veio a ser o Director de referência da referida emissora… sem desdouro para outros dirigentes, pela forma digna e profícua como dirigiu a emissora, a apesar das fortes limitações impostas pela política sufocante do regime salazarista.

A Rádio Barlavento transmitia com um emissor de ondas curtas de 1000 Watts. Era o mais potente emissor de Cabo Verde e que, de facto, cobria o país. Um emissor adquirido por subscrição dos sócios do Grémio, emitia na banda dos 50,2 metros, depois dos 75 metros, mas foi aumentando o seu período de emissão até atingir as seis horas diárias. Mais tarde passou também a emitir em frequência modulada.

Com a sua ocupação a 9 de Dezembro de 1974, no auge da luta politica que então se travava, surgiu no seu lugar a Rádio Voz de S. Vicente, mais tarde integrada no sistema nacional de radiodifusão, como “Estúdios do Mindelo”, decisão que não teve a aprovação geral – já agora devo acrescentar que não teve a minha aprovação pessoal, porque pensava que se podia manter a Rádio Voz de S. Vicente, embora integrando a cadeia nacional.

Continua...

terça-feira, dezembro 01, 2009

Liberdade de Expressão

A Constituição da Republica de Cabo Verde distingue e trata de forma separada a liberdade de expressão, como um direito de todas as pessoas, qualquer que seja o meio utilizado (artigo 47º) e o exercício daquela liberdade, através dos meios de comunicação social (artigo 59º).

No nº 1 do artigo 47º da CRCV consagra-se a liberdade de expressão do pensamento, na linha do modelo clássico da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, substrato das constituições liberais, tendo sido acolhido em Cabo Verde pela primeira vez na Constituição de 1992.

De resto, trata-se de um princípio que segue, no essencial, o disposto no art. 19º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”

Significa isto dizer que todas as pessoas têm o direito de manifestar, exteriorizar, dar a conhecer a outras pessoas o seu pensamento. Inversamente gozam também do direito de não o exprimirem, sem que daí se possam extrair quaisquer consequências.

Vem tudo isto a propósito do comentário do Sr. Kakoi em relação ao artigo sobre a taxa do SP de rádio e televisão. Entende o leitor que Nha Balila – uma ouvinte assídua de tudo quanto seja programa da RCV aberto à participação do auditório – devia ser banida (censurada) de participar nos programas de rádio por não ter absolutamente nada de substancial (leia-se por ser uma analfabeta) para dizer. Ora, sejamos tolerantes, estamos em democracia!

Se um ouvinte se inscreve para participar num programa com o intuito de expressar a sua opinião, como qualquer outro cidadão em pleno gozo dos seus direitos, que legitimidade tem o director da estação, ou o jornalista/coordenador do Espaço Público, de o impedir de exercer a sua liberdade de expressão e de participação cívica?

Apenas um esclarecimento: o tempo de intervenção no programa destinado a cada ouvinte inscrito é de, no máximo, três minutos, e é dentro desse tempo que Nha Balila faz as suas habituais intervenções.

segunda-feira, novembro 23, 2009

A taxa do SP da Rádio e Televisão

De quando em vez vem à colação a questão da taxa do serviço público de rádio e televisão. Já houve quem defendesse que o Estado devia retirar parte desse montante para custear a iluminação pública, cuja proposta de criação de uma taxa, como se sabe, foi declarada inconstitucional; houve quem, por sua vez, considerasse que as receitas da taxa deviam contribuir para a diminuição do défice público, que está em crescendo; responsáveis da RTC que se pronunciaram publicamente pela sua eliminação, desde que o Estado compensasse a RTC por essa perda; enfim, vaticínios os mais diversos.

Há dois anos, na conferência comemorativa dos 10 anos da criação da Radiotelevisão Cabo-Verdiana, o delegado do Governo na empresa, Eurico Pinto Monteiro, foi cristalino ao explicitar a posição do executivo em relação a esta matéria.

“O Estado vai assinar o contrato de concessão de serviço público, mas, antes disso, temos que tomar uma posição em relação ao financiamento da RTC. O Estado, além de alocação orçamental, subsídio, está a reformular a actual taxa da RTC. Vamos até mudar a sua designação, passando a chamar-se “contribuição para a Rádio e Televisão”. Mas nessa mesma lei há um princípio de limitação da publicidade. A RTC não vai poder fazer publicidade intensivamente porque nós estamos em economia de mercado, o sector privado terá que ser apoiado e portanto o Estado agora vai procurar compensar a empresa com outros meios financeiros, talvez elevando ou triplicando ou quadruplicando o actual subsidio de indemnização compensatória, mas a publicidade vai ser reduzida – não vamos fazer concorrência às televisões privadas, porque o estado não é comerciante.

Portanto, o Estado tem meios para fazer subsistir a empresa, mas sem beliscar os privados. E a taxa será cobrada com ética. Recentemente o nosso parlamento aprovou uma lei sobre a protecção dos utentes de bens essenciais, e, essa lei, apesar do protesto do PCA da RTC, não vai ser revista. A empresa que fornece electricidade vai tomar providências para combater a fraude no consumo de energia eléctrica. Para isso, muito brevemente, o Conselho de Ministros vai aprovar uma lei que previne e reprima a fraude no consumo de energia eléctrica. Portanto, com essa lei, o número de consumidores vai aumentar e muito porque, sabe-se, mais de 40 por cento do consumo na Praia é clandestino. Consequentemente vai aumentar a receita da RTC, mas não se vai mexer na lei sobre a protecção dos utentes de bens essenciais porque se trata de uma lei de cidadania.”

A perda acelerada de receitas pela via da taxa era, deveras, uma situação que incomodava a anterior administração da RTC, como de resto tratou de esclarecer na ocasião o anterior PCA, Marcos Oliveira: “Eu não contestei a lei aprovada pelo Parlamento, até porque essa lei não atendeu uma situação específica que é a da RTC; porque ela não elimina a taxa da Rádio e Televisão apenas dá a possibilidade a um pagador de pedir a desagregação da factura e não teve em conta o modelo de recebimento da taxa da RTC e sem esse modelo, que já está instituído, não vai ser possível à RTC arrecadar as receitas que tem que arrecadar.

Há que encontrar uma solução. Os estudos que estão sendo feitos indicam claramente que a RTC não deve abdicar nem da taxa (…) deve quadruplicar o subsídio de compensação, nem da publicidade - que deve ser racionalizada - sob pena de não haver sustentabilidade para a empresa.

Ou se quer manter a empresa para cumprir a sua missão de serviço público ou então não se tem a empresa nem o serviço público. A questão fica neste ponto. Portanto o estudo é inequívoco em relação a isto: manter a taxa, criando eficiência na sua cobrança, manter a publicidade e aumentar o subsidio de compensação que está desactualizado há dez anos.”

Embora não tenhamos a pretensão de criticar a justeza da lei que protege os utentes de bens essenciais, o que é certo que a iniciativa parece ter acelerado o aumento da evasão ao pagamento dessa taxa que sustenta e garante a independência do serviço público de rádio e televisão. Se antes as pessoas inventavam mil e uma artimanhas para não pagarem a taxa da RTC, isso já para não falar nas ligações eléctricas clandestinas que ficam de fora da cobrança, agora, não há duvida, o processo burocrático para o cidadão se desobrigar desse compromisso foi simplificado.

Terá o Estado Cabo-Verdiano condições para compensar a RTC pela crescente perda de receitas adveniente da evasão à taxa? Que mecanismos de financiamento contemplará o contrato de concessão que deverá ser assinado em breve?

segunda-feira, novembro 16, 2009

Os Integrados

Tenho recebido, com insistência inusitada, apelos de alguns colegas e amigos para que continue a partilhar as minhas reflexões sobre a comunicação social cabo-verdiana através do meu blogue.

É claro que estes sinais de encorajamento não me deixam indiferentes, por os reconhecer verdadeiros, porquanto – e digo-o sem quaisquer veleidades - os media cabo-verdianos não são (nunca foram) terreno apetecível para críticos, académicos, investigadores e muito menos para opinion makers. Quanto aos políticos, com raríssimas excepções, quando se dão ao trabalho de vir ao espaço público, na maior parte das vezes, fazem-no com o estrito propósito de criticar, do tipo deitar a baixo e meter todos os órgãos e jornalistas no “saco de larau” da mediocridade.

Quando criei o KRIOL RÁDIO, com as especificidades de um blogue temático virado, não apenas para a rádio, mas para a análise da paisagem mediática cabo-verdiana (quanta pretensão!!!) não me dei conta de que estava a entrar num debate que ainda permanece aceso e que se prende com o papel e a importância das novas tecnologias de comunicação e informação, de um modo geral, na consolidação da democracia dos nossos dias.

De momento não me parece oportuna entrar na liça, em que se perfilam, de um lado, aqueles que ostentam posições mais convencionais, os “apologistas da sociedade de informação” e do extremo oposto, os cépticos, com os seus cenários mais ou menos catastróficos sobre o futuro tecnológico das nossas sociedades.

Se tivesse que clarear a minha posição nesta contenda, teria que me alinhar ao lado dos integrados, para utilizar a expressão do italiano Umberto Eco. E isso por considerar a Internet um instrumento democrático altamente idealizado, em detrimento dessa visão redutora que vê nas novas tecnologias uma força demoníaca, capaz de destruir a cultura democrática profundamente enraizada na nossa actual experiência politica e social.

Igualmente não me parece sensato neste post embrenhar-me nos desafios que a Internet veio colocar aos jornalistas e aos media. Nem pretendo, com ligeireza, discorrer sobre o jornalismo cidadão ou participativo, uma corrente hoje muito em voga, e que tem nas novas tecnologias uma ferramenta altamente eficaz.

Há quem considere que há possibilidades para todos neste processo: para o jornalista, para o produtor de informação (fonte) e para o activo “consumidor” de notícias que não está satisfeito com o produto actual – ou que deseja produzir algumas notícias, também.

É verdade que a vulnerável profissão de jornalista encontra-se num momento raro da sua história de séculos, no qual, pela primeira vez, a sua hegemonia como gatekeeper de notícias está ameaçada, não apenas por novas tecnologias e novos concorrentes, mas, potencialmente, pela própria audiência que serve. Armada com ferramentas da Web fáceis de usar, conexões permanentes e equipamentos portáteis cada vez mais eficientes, a audiência online tem os meios para se tornar um activo participante na criação e disseminação de notícias e informações. O problema é que está a fazê-lo justamente na Internet.

Pois bem, estamos de novo na estrada. No entanto, lembro que o KRIOL RÁDIO não pretende ser um projecto pessoal, uma espécie de bloco de notas ou agenda (porque fica refém da minha disponibilidade), mas sim um espaço público para a análise e o debate do fenómeno da comunicação social em Cabo Verde. A imprensa, no seu sentido lato, é um assunto demasiado importante para estar apenas nas mãos dos políticos!


terça-feira, setembro 15, 2009

E tudo a chuva levou...

Elisângelo Ramos
O Festival de Música, este fim-de-semana, na Praia de Santa Maria, no Sal. Consequência da chuva que Sábado e Domingo bateu sobre o País. A suspensão do certame põe, entretanto, a nu as fragilidades da produção cultural no País. Apupada pelos festeiros - desiludidos - a Organização - também triste - pediu desculpas e deu vivas a chuva. A este propósito publicamos o comentário do Jornalista Elisângelo Ramos, emitido esta segunda-feira, 14 de Setembro de 2009, no Pulsar Cultural da RCV.

A queda do Festival deveu-se a necessidade de garantir a segurança – de pessoas e bens. Por esta razão se procurou justificar a suspensão do evento. Uma justificação, diga-se, subjectiva. A única culpada pelo episódio seria a chuva que felizmente do alto do céu não tinha acesso ao microfone para se defender.

Os factos: após se ter reunido com artistas, técnicos de som, palco e iluminação a Organização decidiu pela suspensão do certame. A comunicação da decisão ao público no areal de Santa Maria, para quem ouvia a RCV, era algo indesejado para Jorge Figueiredo. Para um político é sempre difícil ser portador de más notícias.

A seu aparente favor tinha a chuva. A Empresa responsável pela sonorização dos espectáculos contava já alguns equipamentos danificados e apontava outros em estado de observação.

Embora seja legitimo julgar que esses equipamentos devam estar cobertos por algum seguro é de se compreender as razões que levaram o responsável pelo sistema de som a optar pelo seguro. Tanto mais que recordou: água e electricidade nunca fizeram casamento. Nada podia ser feito aquela hora – tudo era para ser feito antes, muito antes. E é aqui que as justificações para tanto investimento sem retorno (antes pelo contrário Santa Maria terá que reconquistar a credibilidade perdida) não colhem do ponto de vista da produção cultural.

O ocorrido vem abrir – caso haja gente aberta a fazê-lo – dizíamos, vem lançar o debate sobre em que condições logísticas são realizados os festivais de música em Cabo Verde.

É sabido - é tradição: festivais de música no País quanto mais sobre a boca do mar – melhor, e todos os festivais por cá realizados em época das chuvas – têm sido autênticos desafios a força da natureza e da resistência humana, cientifica e tecnológica.

O programador e planeador de qualquer evento deve ter sempre como primeira abordagem de trabalho uma equação transversal que não se resume ao espectáculo em si mas que concorrem para o sucesso ou desastre do mesmo.
Os poderes instituídos sempre podem dizer que em Cabo Verde inexistem espaços para eventos semelhantes. Real e tristemente não existem. Apontar no País um espaço cultural que garanta, pelo menos, a resposta às múltiplas exigências; de segurança, acústica, alimentação, saneamento, protecção ambiental e mesmo de transporte.

Todas as instituições que são chamadas – as vezes tardiamente – na realização deste ou daquele festival – são quase sempre contactadas em cima dos joelhos. Um trabalho que face a ausência de espaços paridos para esse tipo de evento acaba por ser defeituoso para todos.
O trabalho de improviso e/ou as pressas impera, em detrimento da programação e do planeamento.

Daí que os prejuízos económicos e financeiros resultantes do episódio deste fim-de-semana na Ilha do Sal sejam assacados aos promotores do evento. Não se pode culpar a natureza pela ausência de um acto humano. A atitude e decisão do planeamento, calendarização, logística e programação do Festival foram obra humana. O Homem erra. Mas convenhamos que os prejuízos poderiam ser evitados caso as condições logísticas fossem encaradas como rubricas fundamentais no desenho e na orçamentação do Festival.

É que nem sempre - e desta vez ficou provado – nem sempre é o artista o dono do espectáculo. O planeamento combinando a natureza e a criação humana bem poderia ser uma resposta eficaz as eventualidades climatéricas.

Mais: os acontecimentos de Santa Maria interpelam os poderes políticos para a necessidade de se dotar o País de infra-estruturas culturais para a realização dos Festivais de Música; combinando os interesses financeiros, ambientais e culturais. Em resumo: a tão propalada indústria cultural não se compadece com uma agenda de adiamentos sucessivos.

Nunca se saberá quanto o País perde com a suspensão do Festival, assim como nunca há de se saber porque motivo muitos apuparam a Organização do Festival que mesmo não tendo total responsabilidade pelo facto não deixa de ser a principal visada.

Cabo Verde tem excelentes produtores e agentes culturais capazes de assegurar os caprichos do céu. Portanto vir dizer que a chuva estragou tudo é desculpa que não colhe, por ser o Festival de Santa Maria um evento de teor profissional e longe do amadorismo de outros tempos. O trabalho de casa começa exactamente na proposta de orçamento municipal e na aplicação da política cultural autárquica, e do Governo que sabe também da sua quota-parte de responsabilidade; não fosse a segurança em toda a sua plenitude, também, uma função do Estado.

Os Festivais de Música em Cabo Verde são – hoje – um elemento de promoção cultural que ultrapassa de longe os limites do entretenimento e de lazer. Mais do que dar música ao vivo nas praias de Cabo Verde são provadamente uma importante fonte de receita ao bolso público e de milhares de cidadãos; de muitas famílias que apenas vivem desse expediente. Depois de meses de trabalho e milhares de contos investidos o Festival de Santa Maria morreu na Praia. Resta saber se o contribuinte será, uma vez mais, chamado a pagar o prejuízo.

terça-feira, agosto 18, 2009

Sobre o mau uso da língua portuguesa entre nós, e não só

Não pretendemos com este artigo trazer ensinamentos da língua portuguesa a ninguém, nem tão pouco meter foice em seara alheia, pois existe gente com qualidade, formação e em quantidade suficiente para o fazer.

Porém, constata-se que ela tem sido tão maltratada, e a sua utilização, seja na modalidade escrita ou falada, tem sido recheada de erros tais e tantos, que de tão repetidos, levam-nos a, não raras vezes, pensar se somos nós que desaprendemos ou se houve inovações que ignoramos.
Dantes, em grupo reduzido de amigos, ora de forma fortuita, ora provocada, reuníamo-nos e em encontros informais, trocávamos ideias sobre a problemática.

Da nossa parte, depois de tanto ver e ouvir, optámos por nos distanciar da questão e conseguimo-lo, embora parcialmente. Entretanto, a situação ganhou tamanha dimensão, o que nos levou a quebrar o nosso silêncio para chamar a atenção de quem de direito, para que a situação não se agudize mais, especialmente agora que a língua cabo-verdiana está num processo de oficialização, que esperamos seja para breve.

O português continua a ser a língua oficial do país e, como tal, deve ser tratada com mais respeito, até porque, em nosso modesto entender, com os faladores do português que existem e proliferam entre nós, vemos poucos dotados das condições mínimas para o ensino da língua crioula.

Repare-se que de entre o vasto leque de professores que enformam a classe docente, não muitos conseguem construir uma frase em português, curta que seja, sem erros. Diga-se, em abono da verdade, que também os há que o fazem tão bem, que até fazem inveja a muitos, especialistas na matéria e que exclusivamente a isso se dedicam no seu país, que se proclama, e com razão, como berço da língua em apreço. A excepção só vem confirmar a regra.

Não pretendemos ultrapassar com essas reflexões as fronteiras deste país, para não contrariar o que no início dissemos (não meter a foice em seara alheia), mas não resistimos à tentação de citar alguns exemplos de erros que frequentemente nos chegam, através dos meios de comunicação social, seja do pais “berço”, seja do nosso.

Vejamos alguns:

Eles hadem vir, quando devia ser eles hão-de vir (este mais lá do que cá)
Os meus alunos obteram boas notas nos exames, em vez de obtiveram…….
Ele foi um dos que se esforçou ao invés de ele foi um dos se esforçaram.
Pedro interviu intensamente nas discussões, quando devia ser interveio intensamente
Enfim, haveria múltiplos exemplos desses que poderiam engordar essa lista, mas não é esse o nosso objectivo e não cabe no âmbito deste artigo.

A sua verdadeira razão (do artigo) prende-se com parte do noticiário que na TCV ouvimos e vimos ontem (dia 12) durante o qual convivemos com o à vontade com alguns responsáveis nos brindaram com determinados e graves erros, atropelando impiedosamente a língua que Camões e vários outros, incluindo não poucos cabo-verdianos, tão bem souberam glorificar. Iremos tentar reproduzir dois desses momentos, pecando talvez pela não precisão das frases proferidas (não foram gravadas), mas não no essencial, que constitui a causa deste apontamento.

Disse-se:

1) O festival teve a aderência de grande parte….. O festival não pode ter aderência, mas sim adesão.
2) Os objectivos traçados pelo Partido X, no âmbito da juventude, vão de encontro ao plano traçado pela organização que dirijo.….. Ir de encontro significa embater, chocar, portanto discordância. O político em causa com certeza que quereria dizer: os objectivos…. vão ao encontro de, que significa coincidem com.

Infelizmente erros destes ouvem-se por todo o lado e a toda a hora, mas preocupa-nos mais, quando na classe política, por exemplo, um Deputado (o que acontece com frequência) diz que ele está ali para defender interesses que vão de encontro às pretensões daqueles que o elegeram, ou então quando um Advogado em defesa de um cliente e argumentando em pleno Tribunal, diz que a dissertação da acusação foi ao encontro da dele e portanto das acusações de que o seu cliente é objecto. Obviamente que uma boa interpretação da afirmação da defesa confundiria qualquer Juiz.

Cuidemos mais e melhor da língua que, embora não seja a nossa, é a que temos por oficial. Se se proporcionar numa próxima oportunidade voltaremos ao assunto.

Óscar Ribeiro
Fonte: asemanaonline

segunda-feira, agosto 10, 2009

Raposas da Rádio


Adorei ter ouvido anteontem uma entrevista, aliás, para ser mais rigoroso uma conversa entre o Carlos Lima e o Fernando Carrilho. Sem dúvida, duas referências incontornáveis do panorama radiofónico cabo-verdiano. O pretexto do “Conversas ao Café” era mergulhar na poeira do tempo e trazer à tona as diversas facetas da vida do homem e jornalista Fernando Carrilho.

No entanto, ao invés de uma mera uma sessão de perguntas e respostas, assistimos a um contar de “estórias” de um percurso praticamente comum. Carlos Lima, contemporâneo do Carrilho na rádio – os dois terão começado a carreira quase na mesma altura, embora o Lima, salvo erro, ter-se-á estreado ligeiramente mais cedo na Rádio Clube do Mindelo – não se coibiu de partilhar também com os ouvintes algumas etapas da sua carreira de quase 40 anos.

Um excelente momento de rádio, como há muito não se ouvia. O Carrilho, não obstante ter-se retirado das lides da rádio, por motivos de saúde (esperamos não por muito tempo, pois o bichinho da rádio não se conforma com afastamentos tão prolongados e ainda para mais de forma abrupta, como foi o caso), continua um excelente comunicador, um radialista na verdadeira acepção da palavra, um exímio contador de “estórias”. E hoje a rádio pertence àqueles que sabem fazer rir e emocionar os públicos. É espantosa a forma como Carrilho conta “pirraças” no seu português, ora arrevesado, ora misturando com bom gosto algumas expressões em crioulo.

Como não podia deixar de ser, a conversa se deteve durante alguns minutos sobre a façanha da tomada da Rádio Barlavento. Quanto mais se conta este episódio que marca de forma indelével a história recente da radiodifusão e de Cabo Verde, mais me parece pertinente uma investigação (académica ou jornalística) que faça luz sobre assunto. Penso que volvidos quase 35 anos desse acontecimento, é tempo de conhecermos um pouco mais, não apenas o assalto à rádio (um rádio privada, lembre-se) mas os motivos, os actores, os mandantes, e as consequências, politicas e sociais, que isso terá tido no processo de independência de Cabo Verde e, quiçá o mais importante, até que ponto esse acto revolucionário terá condicionado a evolução da paisagem radiofónica em Cabo Verde.

Se se aponta como o principal motivo para o assalto à Rádio Barlavento a sua atitude colaboracionista com o regime colonial, isso tem que ser demonstrado com recurso a casos concretos, quer através da análise da oferta em termos dos conteúdos (a grelha de programas), como da estratégia e linha editorial da Rádio Barlavento.

Pergunta-se: a tomada da Rádio Barlavento era mesmo inevitável para o processo de formatação de consciências, visando granjear o apoio incondicional ao PAIGC e do processo de reconstrução nacional, ou esse trabalho ideológico poderia fazer-se utilizando uma outra rádio expressamente criada para o efeito, replicando, aliás, a experiência da Rádio Libertação?

Continuo a defender que ainda não se analisaram de forma aturada as consequências da tomada da Rádio Barlavento, trabalho imprescindível se quisermos entender o estádio de desenvolvimento da radiodifusão em Cabo Verde. Acredito que, caso a RB não tivesse sido nacionalizada, neste momento Cabo Verde teria uma oferta radiofónica muito mais rica e diversificada, fruto de uma concorrência que é hoje francamente incipiente, para não dizer inexistente.

S. Vicente teria a sua voz autónoma que lhe foi cerceada. Em vez de janelas na programação da Rádio Nacional – solução encontrada para o espelho das realidades regionais – S. Vicente teria uma rádio à altura da ambição, das expectativas das suas gentes, da sua idiossincrasia e multiculturalidade. Isso, se prejuízo de uma Rádio Nacional de serviço público que aposte na universalidade, na promoção da cultura e identidade nacionais e da coesão social.








terça-feira, agosto 04, 2009

Carlos Santos de volta à direcção da RCV


De acordo com o administrador da RTC, Álvaro Ludjero Andrade, a nova direcção da rádio vai ter a missão de relançar a estação...

Praia, 03 Julho - O jornalista Carlos Santos acaba de ser nomeado Director da Rádio de Cabo Verde (RCV), cargo que volta ocupar um ano depois de se ter demitido.
Esta informação foi avançada ao início da tarde de hoje pela estação de rádio estatal e, ao que parece, sem rupturas com Paulo Lima, o director cessante.

De acordo com o administrador da RTC, Álvaro Ludjero Andrade, a nova direcção da rádio vai ter a missão de relançar a estação e continuar a liderar as audiências em Cabo Verde.
“É uma equipa, na qual apostamos muito. Já definimos as orientações a ter nos próximos tempos. A rádio está numa fase do seu relançamento e vamos avançar com novos padrões, tornar a RCV uma rádio actual, que continue a liderar”, espera Ludjero Andrade.

Sobre a substituição da direcção liderada por Paulo Lima, por esta de Carlos Santos, o administrador põe de lado cenários de ruptura.

“Estávamos a trabalhar com a direcção que encontramos e que na altura não encontrámos motivos para mudar. Depois de 8 meses, décimos avançar com uma nova equipa, precisamente para marcar as directrizes, deixar a marca do Conselho de Administração que tem um mandato”, explica, reconhecendo o trabalho da direcção cessante que tinha ainda Júlio Vera-Cruz Martins como Chefe do Departamento de Informação e Odair Santos na Programação.

Odair Santos que, entretanto, vai continuar no cargo, ao lado de Nélio dos Santos, a dirigir a partir de amanhã, 4 de Agosto, a informação.

sexta-feira, julho 24, 2009

PARABÉNS RCV

A Rádio de Cabo Verde foi ontem distinguida com um prémio pela cobertura jornalística que vem dedicando à Cidade velha. Foi a forma encontrada pela autarquia da Ribeira Grande de Santiago de reconhecer o trabalho desenvolvido pela RCV que, nos últimos tempos, tem de facto centrado a sua atenção no berço da nacionalidade.

Pese embora o simbolismo deste prémio, tem, pelo menos, o mérito de nos mostrar que é possível fazer mais e melhor. Isso passa, obviamente, por uma melhor organização interna, pelo derrube de alguns constrangimentos que interferem na engrenagem da produção informativa; por uma aposta na formação dos profissionais; na especialização por editorias; numa gestão de informação assente numa visão estratégica…

O mais importante: melhorar a motivação dos jornalistas e demais profissionais. Isso passa, claro, por desbloquear a carreira dos jornalistas (paralisada há quase dez anos), apostando no mérito e na competência, o que se consegue com a avaliação de desempenho. Colocar toda a gente no mesmo saco só contribui para a apatia e desmotivação gerais.

É de elementar justiça frisar que a distinção com que a Câmara Municipal da Rª Grande de Santiago achou por bem presentear a Rádio de Cabo Verde, no dia do município, se deve ao desempenho do jornalista Elisângelo Ramos (um dos mentores deste blogue) que, apaixonado pelas questões culturais, tem produzido excelentes reportagens sobre a cidade-berço. De entre estes trabalhos destacamos a série de reportagens especiais “Cidade Velha: Pedras que falam”.

Ainda no passado domingo, o jornalista produziu e apresentou um documento extremamente valioso sobre a atribuição à Cidade Velha do estatuto de Património da Humanidade. “O Sorriso da Nação”, assim se chama a grande reportagem que recupera esse género infelizmente desaparecido da rádio.

O Elisângelo fê-lo explorando as virtualidades da acústica da rádio, permitindo ao ouvinte experimentar outras sensações que não apenas através da audição. Ao ouvir a reportagem, vêem-se as grossas bátegas de água a acariciar a terra, rolando depois pelas ribeiras ressequidas; o céu a desabar com grande estrondo sobre a rua banana e o pelourinho; as caravelas a aproarem para junto da praia; sente-se o gemido contido do negro ao ser chicoteado junto da picota. De repente, ouve-se o repicar dos sinos na Sé; o céu abre-se num sorriso de alegria. É o sorriso das gentes simples que doravante só querem ver a sua vida melhorada… sim porque a cidade velha está na boca do mundo.

Lamento que o jornalista não tenha submetido esta grande reportagem ao prémio de jornalismo António da Noli. Por falar nisso, talvez o concurso ganhasse mais participação e competitividade se houvesse uma divisão por categorias: uma para a rádio, outra para a televisão e uma outra para a imprensa. Já agora que se aumente o valor do prémio. Jornalismo de investigação dá trabalho e custa dinheiro.

Na era da imagem, torna-se difícil, senão mesmo impossível, a rádio bater a televisão neste tipo de concursos. Por mais criativa que a reportagem da rádio seja. A televisão continua a fascinar com o poder demolidor da imagem. Não é à toa que é conhecida pela “caixa mágica”. Muito difícil será a tarefa para os jornais.

Ainda assim, gostaria de dar os parabéns a Isabel Silva Costa pelo excelente trabalho sobre a Cidade Velha. Uma série de pequenas peças, reportagens, bem elaboradas, numa escrita acessível, simples, própria da televisão. Isso demonstra que às vezes os recursos técnicos não são tão importantes. A criatividade, a inovação e a qualidade fazem toda a diferença. Para quê investir em megas produções, sumptuosas em termos de recursos técnicos e humanos, de orçamentos milionários, para o produto ser visto por meia dúzia de elites que acham que a televisão é cultura de massas?





quinta-feira, julho 23, 2009

OUVINTES MAIS EXIGENTES

Ao contrário do que acontece com as rádios temáticas, Praia FM, Crioula FM e Cidade FM, as rádios generalistas não procuram ter como alvo um público específico (p.e. jovens) na sua área de difusão, mas satisfazer o conjunto do público.

Isso obriga as rádios a considerarem os hábitos de audição e exigências de cada um dos públicos potenciais. Os jovens, os reformados, os desempregados, as donas de casa, os amantes de música jazz, de desporto… terão todos uma ou mais emissões que lhes são dedicadas, programas que vão ao encontro dos seus hábitos de audição radiofónica.

As rádios generalistas precisam de uma equipa de competências tão variadas quanto as suas emissões: informações, magazines, deporto, produção de programas culturais, económicos, políticos, animação de antena, etc. Em traços gerais, são rádios que se escutam com mais atenção do que as rádios musicais que simplesmente se ouvem.

No nosso panorama radiofónico, podemos apontar como exemplos de rádios generalistas, a Rádio Nova, a Rádio Comercial, a Rádio Educativa e a Rádio de Cabo Verde. Apesar de terem uma audiência delimitada, pela natureza da sua missão, as rádios comunitárias devem ter uma programação generalista. Contudo, cabe à RCV uma definição clara da sua programação devido ao compromisso que mantém com o Estado no sentido de prestar aos cabo-verdianos um serviço público de qualidade.

A exigência de um serviço público de rádio está, aliás, inscrita na Constituição da Republica (art. 9º) e desdobra-se na restante legislação do sector, com destaque para a lei da comunicação social (lei nº 56/v/98) e da rádio (lei nº 10/93).

Como muito bem disse há tempos neste blogue um seguidor atento, não existe diferença acentuada entre jornalistas da rádio e da televisão públicas e jornalistas dos órgãos privados, embora àqueles que trabalham nos órgãos de comunicação social de serviço público lhes seja exigido o cumprimento escrupuloso das normas éticas e deontológicas da profissão, bem como uma maior consciência da responsabilidade social adveniente do estatuto de operador público.

De igual modo, pensamos que não há um jornalismo para o serviço público de rádio e um jornalismo para as estações privadas. Mas, pode (e deve) haver uma informação que será mais específica aos operadores públicos. Até porque, uma estação pública e uma estação privada não seguem, pelo menos teoricamente, a mesma engenharia de programação e as mesmas prioridades.

Significa isso dizer que a grelha de um canal generalista de serviço público, no que diz respeito à informação, não pode ser saturada de conteúdos de entretenimento, nomeadamente em horário nobre, devendo, antes, ocupar esse segmento com formatos que contextualizem acontecimentos, que promovam o debate social e que ajudem a dar relevância a realidades que permanecem na sombra.

Embora seja difícil encontrar uma única definição que nos remeta para a essência de uma informação de serviço público, podemos expor algumas linhas de acção para uma programação de informação para os canais públicos. Assim devem:

Proporcionar uma visão global e contextualizadora dos factos;
Procurar o contraste de fontes diversificadas;
Fazer uma rigorosa depuração dos factos;
Promover o aprofundamento das consequências sociais, politicas e económicas dos factos;
Debater-se por um equilíbrio na cobertura territorial, social e cultural;
Introduzir um enfoque pluralista e imparcial nas opiniões veiculadas.

Será que estamos a fazer isso? Não é essa, pelo menos, a opinião das pessoas ouvidas em sede do segundo inquérito à satisfação e audimentria dos órgãos de comunicação social. Exigem que os conteúdos (a começar pelas notícias/programas de informação) sejam variados e de qualidade.

terça-feira, julho 21, 2009

OS DIAS DA RÁDIO

Nuno Sardinha (RDP-África) e Carlos Santos (RCV)
O último inquérito à satisfação e audimentria dos órgãos de comunicação social traz alguns dados que nos interpelam a uma reflexão crítica aturada. Tarefa que cabe a todos, profissionais, ouvintes, leitores e telespectadores mas, sobretudo, aos responsáveis pela gestão dos órgãos.

Não é minha intenção fazê-lo neste blogue. De todo o modo, apraz-me tecer alguns comentários, tendo, desde logo, como ponto de partida, os resultados da pesquisa sobre as rádios.

Uma vez que a pesquisa se realizou em Março deste ano, não se percebe por que não existem, em todo o estudo, quaisquer referências à RCV+, o canal jovem da Rádio de Cabo Verde. Espera-se que a direcção da RCV tenha já requerido explicações plausíveis à Direcção Geral da Comunicação Social, promotora do estudo, e que esteja em condições de no-las apresentar.

A RCV+ está no ar desde os finais de Dezembro de 2007, tem uma programação própria, de 24 horas non stop, dirigida preferencialmente ao segmento jovem do público. Tem frequência própria, 95.5, a mesma que é também sintonizada em S. Vicente e arredores.

A não inclusão da RCV+ na medição do grau de satisfação dos ouvintes e de audimetria beneficia directamente a Praia FM, estação que aliás consolidou a sua posição de liderança na capital e alargou a sua notoriedade dirigida a nível nacional. Aliás, diga-se em abono da verdade, a jovem estação é a que, de acordo com os dados, mais subiu, apesar de a RCV ter mantido a sua posição de líder de audiência a nível nacional.

Ora, acreditamos que caso a RCV+ fosse tida em conta no questionário, a Praia FM não teria os resultados que alcançou. Convém não esquecer que em Cabo Verde o efeito novidade conta muito. A Praia FM está há dez anos no ar e já apresenta alguma saturação em termos do formato. Isso não significa que a RCV+ não precisa reavaliar a sua estratégia, aproximando-se mais das expectativas do seu público.

Não deixa contudo de ser estranho que a RCV+ não apareça sequer na “notoriedade espontânea”. Ou seja, quando se pede ao ouvinte que indique os nomes (aqueles de que se recorda) de algumas rádios que costuma ouvir. Ninguém se ter lembrado da RCV+, é obra!

Muito estranho. A RCV+ é silenciada e inclui-se no estudo uma rádio que há um ano está fora do ar: a Mosteiros FM. Como é possível que se peça aos inquiridos que se pronunciem sobre a programação de uma rádio que, no momento da realização do inquérito, está fechada devido ao acumular de constrangimentos técnicos e financeiros?

Quando é que em Portugal se ia meter num estudo da audiência apenas a RDP, esquecendo-se que ela se divide em canais: Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP-Africa, etc? A própria RR tem também o seu canal jovem, a RFM que é, aliás, líder de audiências. Bom, deixemos este descaso para os responsáveis.

O estudo mostra que há ainda em Cabo Verde um número considerável de pessoas que ouvem a rádio mais de 6 horas por dia, mas há, contudo indicações de que esse cenário está a mudar. Com o passar dos anos, com a massificação da Internet, com uma oferta televisiva cada vez mais de qualidade, a rádio irá gradualmente perder audiência, embora jamais deixará de ser ouvida. O que é certo que as audiências não serão tão astronómicas como as que se registam hoje.

O estudo faz uma divisão de águas em relação a audiência das várias rádios. Mostra que a RCV e, em menor grau, a Rádio Nova, têm a preferência dos adultos (mais homens) e sobretudo daqueles que possuem o pós-secundário. A Praia FM e a Crioula FM são mais apreciadas pelos jovens, o que não surpreende, uma vez que são estações temáticas (música e publicidade) direccionadas à faixa dos 14 aos 25 anos.

Falemos dos conteúdos. Os inquiridos pedem programas variados e de qualidade. As notícias devem ser melhoradas dizem os ouvintes que, para já, dão preferência à música. Os programas de debate, culturais e educativos merecem a preferência de apenas (pasme-se) 7% dos inquiridos. Isto dá que pensar, por isso deixo-o para o próximo post.

segunda-feira, julho 20, 2009

Brasil: diploma de jornalismo já não é obrigatório

O Supremo Tribunal Federal brasileiro acaba de decidir que o diploma de ensino superior como condição para o exercício legal do jornalismo não pode mais ser considerado obrigatório. A notícia acaba de ser dada por Rogério Christofoletti, no blog Monitorando, mas está em muitos outros sítios.

Esta decisão segue-se a anos de polémicas e de processos em sucessivas instâncis do sistema judicial brasileiro. O assunto dividia claramente as opiniões no sector dos media, ainda que se notasse uma clivagem de posições entre uma boa parte da classe jornalística e de pesquisadores do jornalismo), por um lado, e os responsáveis de empresas mediáticas e respectivas associações, por outro. Estes últimos defendiam, claro está, a liberalização do processo de entrada na profissão.

Este assunto é muito interessante, do ponto de vista da análise comparativa. Na Europa, por exemplo, na esmagadora maioria dos países, a exigência de requisitos para além dos básicos, não é aceite. E quando o legislador quer tornar obrigatória a titularidade de um diploma, como aconteceu recentemente em Portugal, a oposição surge de imediato. A questão coloca-se entre o direito e a liberdade de informar, que as constituições democráticas consagram, e que não pode ser objecto de limitações, e o direito dos cidadãos a uma informação de qualidade, necessária, inclusive, ao exercício esclarecido da própria liberdade e direito de informar e do exercício da cidadania, em geral.

Recorde-se que, em processo paralelo a este, nos últimos meses, tem decorrido, também no Brasil, um debate para a definição de directrizes curriculares para a formação superior em Jornalismo. O processo é coordenado por uma comissão nomeada pelo Governo Federal e presidida pelo prof. Marques de Melo. Depois de várias reuniões com parceiros e audições públicas, está previsto que o relatório final seja entregue em Agosto próximo.

Fonte: Jornalismo e Comunicação

terça-feira, julho 14, 2009

DJARMAI LIVRE NO AR

Dr. Di, Animador

Apesar da incerteza que paira sobre o futuro das rádios comunitárias, caso não surjam mecanismos exequíveis e transparentes com vista a sustentabilidade financeira das suas actividades, elas continuam decididas em investir na formação dos responsáveis e animadores.

Não obstante o reduzido número de horas por vezes dedicadas às acções de formação, as rádios comunitárias sabem que só com o conhecimento teórico e o saber prático estarão em condições de responder com satisfação às necessidades das comunidades em matéria de informação, formação e entretenimento.

Neste sentido, a “Rádio Comunitária Voz di Djarmai” acaba de realizar mais uma recliclagem destinada ao director, aos membros do conselho comunitário e aos animadores. Durante 20 horas os participantes receberam noções relativas à escrita para a rádio; a leitura/falada (com as componentes, entoação, modulação, vocalização/dicção, respiração, tom, timbre, ritmo); o directo e a animação de antena.
Carlos Santos, Sansy, Di

Espera-se que RCVD passe a prestar a partir de agora um melhor serviço público à comunidade, dando corpo às obrigações constantes do regulamento das actividades das rádios comunitárias. A Rádio Comunitária Voz di Djarmai, cuja emissão é escutada praticamente em toda a ilha através da frequência 89.5, é gerida pela Associação Para o Desenvolvimento do Morrinho e tem como director o jovem dinâmico Sansy Silva Moreno.

A RCVD é a única que cumpre escrupulosamente a lei das rádios comunitárias: abre às 7:30 e termina a sua emissão às 19:30, imagine-se com direito ao hino nacional de manhã à noite; não faz publicidade (spots), apenas pequenos anúncios não comerciais, dependendo o seu funcionamento do voluntarismo dos animadores, dos membros do conselho comunitário e de pequenos patrocínios.

Embora não haja qualquer estudo científico, depreende-se que os programas e os locutores da RCVD são muito apreciados pela comunidade. A grelha não difere muito das outras rádios que têm como referência a Rádio de Cabo Verde.

segunda-feira, julho 13, 2009

Ainda o Estudo de Audimetria

Como forma de melhor se perceber o nível de audiência e a satisfação dos ouvintes em relação à prestação das rádios em Cabo Verde, o KRIOL RÁDIO inicia hoje a divulgação faseada, e posterior analise, do estudo. Contamos com os seus comentários.

Notoriedade Espontânea
A RCV continua a ser a rádio mais citada espontaneamente pelos inquiridos. À semelhança de 2007, foi indicada espontaneamente por cerca de 4 em cada 10 inquiridos, sendo que as proporções acima da média foram registadas no Sal (69%) e em S. Vicente (52%), enquanto que em Santa Catarina, somente 1/5 dos entrevistados, apontaram espontaneamente o nome dessa rádio. A Praia FM é a segunda mais indicada, alcançando os 21%, ou, seja, comparativamente a 2007, aumentou em seis pontos percentuais, sendo Praia e Santa Catarina, os principais responsáveis por esse desempenho.

De resto, importa referir que não se registou nenhuma alteração na ordem das citações, relativamente a 2007, seguindo as duas rádios já mencionadas, a Rádio Nova (18%), a Crioula FM (11%) e as demais rádios com pouca expressão. Os homens são os que mais indicaram espontaneamente a RCV (44%, contra 32% das mulheres), enquanto que a Praia FM e a Rádio Nova, foram lembradas em maiores proporções pelas mulheres. Para a crioula FM, não se registou diferença entre os sexos.

Numa análise por nível de instrução, constata-se que a RCV foi mencionada em maior proporção pelos indivíduos com o nível pós-secundário, enquanto que Praia FM e a Crioula FM, foram citadas mais vezes entre os de nível secundário. Quanto à Rádio Nova, nota-se que é indicada especialmente entre os indivíduos sem nenhuma instrução. A citação espontânea da RCV e da Rádio Nova cresce com a idade, e para a Praia FM e a Crioula FM, regista-se o contrário, ou seja, são citadas espontaneamente em maior proporção entre os jovens, e à medida que aumenta a idade dos inquiridos, diminui a citação a essas rádios.

Notoriedade Dirigida
No que concerne à notoriedade dirigida, nota-se que praticamente todas as rádios diminuíram a sua performance relativamente a 2007, à excepção da Praia FM, Crioula FM e as rádios comunitárias. Deste modo, a Crioula FM é a rádio mais conhecida com 82% de citações, juntamente com a RCV que alcançou os 81%, menos doze pontos percentuais comparativamente a 2007. A Praia FM viu crescer a sua notoriedade dirigida a nível nacional, passando de 63% em 2007, para 72% actualmente. É a rádio com maior notoriedade dirigida, quer na capital (97%), quer em SantaCatarina (89%), enquanto que a RCV é a mais conhecida em S. Vicente (98%) e no Sal (95%).

A Praia FM é mais conhecida entre as mulheres, ao contrário da Crioula FM que recebe a maior proporção de citações entre os homens. Para a RCV e para a Rádio Nova, não se registou nenhuma diferença em termos de sexo. A Crioula FM e a Praia FM são citadas mais vezes entre os jovens, enquanto que a RCV e Rádio Nova conhecem melhores resultados entre os inquiridos com mais idade. A RCV, a Crioula FM e a Praia FM, alcançam níveis de notoriedade dirigida expressiva entre os indivíduos de todos os níveis de instrução, com destaque para aqueles que têm o nível pós-secundário, ao contrário da Rádio Nova, que atinge a sua maior performance entre os inquiridos sem nenhuma instrução.

Frequência com que Sintoniza a Rádio
A RCV é a rádio sintonizada com mais frequência por mais de metade dos cabo-verdianos, com 54% a afirmarem que têm o hábito de sintonizar essa rádio, seguida pela Praia FM (31%), Crioula FM (30%) e a Rádio Nova (29%). A RDP África foi citada por cerca de 11% dos cabo-verdianos, a Mosteiros FM, a Rádio Morabeza e a Rádio Educativa por 8%, ex-aequo e a Rádio Comercial por 7%. Relativamente a 2007, praticamente todas as rádios aumentaram as respectivas audiências, contudo, importa salientar que no ranking das classificações, a Crioula FM foi ligeiramente ultrapassada pela Praia FM ao nível nacional, devido sobretudo à liderança das audiências conseguidas por esta última na Praia, com cerca de 59% de citações.

A RCV é sintonizada com mais frequência pelos homens, enquanto que a Praia FM e a Rádio Nova são mais ouvidas pelas mulheres. Para a Crioula FM a audiência é repartida de forma igual entre os dois sexos. A Praia FM e a Crioula FM continuam a disputar o segmento mais jovem, pois, são sintonizadas com mais frequência entre os indivíduos com a idade compreendida entre os 15 a 24 anos, ao contrário da RCV e da Rádio Nova que são sintonizadas preferencialmente pelos indivíduos mais idosos. A audiência da RCV é maior entre os indivíduos com o nível pós-secundário, enquanto que os de nível secundário concentram as suas audiências basicamente na Praia FM e na Crioula FM.

Tempo que escuta a Rádio Diariamente
Os cabo-verdianos de uma forma geral continuam a dispensar muitas horas a escutar a rádio. Assim, cerca de 1/5 assumem escutar a rádio diariamente, em média mais de 6 horas, e praticamente metade (48%) dedica mais de 3 horas por dia a escutar a rádio. É na Praia que os indivíduos dedicam mais tempo a escutar a rádio, com 6 em cada 10 a declararem que em média demoram mais de 3 horas diariamente, sendo que destes, 27% dispensam mais de 6 horas por dia.

Relativamente a 2007, aumentou a proporção dos que dedicam menos de 1 hora por dia a escutar a rádio, passando de 10%, para 20% actualmente, ao mesmo tempo que aumentou a proporção dos que dedicaram mais de 6 horas, passando de 15% em 2007, para 21% em 2009.

São os mais jovens, isto é indivíduos com a idade compreendida entre os 15 a 24 anos, aqueles que dedicam em média mais de 6 horas diárias a escutar a rádio. Por nível de instrução e por sexo, não se nota diferenças dignas de registo.

Programas da sua Preferência
A música e a notícia são os programas de preferência da maioria dos ouvintes da rádio, à semelhança do que se constatou em 2007. Assim, cerca de 41% indicaram os programas musicais como sendo os seus preferidos, contra 33% que apontaram a notícia. Esta é indicada em maior proporção no Sal (40%) e no Fogo (37%), enquanto que a música atrai mais ouvintes em Santa Catarina (44%) e em S. Vicente (36%).

Os programas de debate, culturais e educativos foram indicados por somente 7% dos inquiridos. O debate, assume alguma expressão entre os ouvintes do Sal, alcançando os 9%. Os noticiários ganham maiores preferências entre os indivíduos acima dos 45 anos, enquanto que a música é por excelência preferida entre os mais jovens, alcançando os 56% entre os indivíduos com a idade compreendida entre os 15 a 24 anos, contra os 21% registados entre aqueles com 55 anos e mais. Os noticiários alcançam maiores audiências entre os indivíduos sem instrução, e a música é mais preferida por aqueles que possuem o secundário. A música também é mais preferida pelas mulheres do que pelos homens, enquanto que a notícia é preferida de forma igual pelos indivíduos de ambos os sexos.

Programas das suas Preferências
Os programas indicados como os preferidos são escutados em maiores proporções na RCV, Praia FM e Crioula FM, com 37%, 18% e 13%, respectivamente. Relativamente a 2007, a RCV apesar de continuar a sua liderança, perdeu algum espaço essencialmente para a Praia FM, que aumentou em sete pontos percentuais a proporção dos que escutam os seus programas preferidos nessa rádio.

Os jovens escutam em maiores proporções os programas das suas preferências na Praia FM e na Crioula FM, contrariamente à RCV e à Rádio Nova que foram mais citadas à medida que aumenta a idade dos inquiridos. Os homens escutam em maiores proporções os programas de suas preferências na RCV, contrariamente às mulheres que indicaram a Praia FM e a Crioula FM.
Programas da sua Preferidos
A fidelidade demonstrada pelos inquiridos aos programas de suas preferências continua elevada, com mais de metade (56%) a declarar que escuta sempre o seu programa, sobretudo no Fogo (70%) e na Praia (63%). Contudo, aumentou a proporção dos que afirmam que poucas ou raras vezes escutam esses programas, passando de cerca de 6% em 2007, para 13%, actualmente, sobretudo em Santa Catarina, onde alcança os 23%. Não se detectou nenhum padrão definido, quer em termos de idade, de instrução ou de sexo.


Frequência com que Escutou Rádio nos Últimos 3 Meses
Cerca de 2/3 dos cabo-verdianos escutam a rádio todos os dias, especialmente no Sal (74%) e no Fogo (73%). Em Santa Catarina, a proporção é de 46%. Entretanto, ao compararmos com o ano de 2007, verifica-se que diminuiu em cerca de doze pontos percentuais a proporção dos que confirmam escutar a rádio todos os dias, ao mesmo tempo que aumentou a dos que declaram escutar a rádio entre 2 a 3 dias por semana, passando de 10%, para 19%, no mesmo período.


Horário que Escuta a Rádio
As rádios continuam a ter os seus piques de audiência no período de manhã com (49%), aumentando em cerca de seis pontos percentuais a proporção dos que indicaram esse período, comparativamente a 2007. O período da tarde também apresenta uma audiência considerável, com 33%, seguido pela noite que fica nos 18%. O período de manhã é o preferido no Fogo e em S. Vicente, por cerca de 56% e 55%, dos entrevistados respectivamente, enquanto que o período da tarde é mais apreciado no Sal, com 43% e o da noite, atinge a sua melhor performance em Santa Catarina, com 32% de indicação.

As mulheres normalmente costumam escutar a rádio principalmente de manhã, enquanto os homens fazem-na à noite. No período da tarde a audiência está repartida de forma
equilibrada entre os dois sexos. A audiência de manhã aumenta com o nível de instrução, isto é, é mais baixa entre aqueles sem instrução (44%) e mais elevado entre os que possuem o nível pós-secundário (60%). À tarde, verifica-se o contrário, ou seja, é maiorentre os indivíduos sem instrução (40%) e diminuí à medida que aumenta o nível de instrução, alcançando os 24% entre os de nível pós-secundário.


Locais onde Escuta a Rádio

A casa continua a ser o local onde a maioria dos cabo-verdianos escutam a rádio, com 92% de citações, o que representa um aumento de seis pontos percentuais, comparativamente a 2007. É em S. Vicente (96%) e em Santa Catarina (94%) que se regista as proporções acima da média, contra os 90% na Praia e no Fogo. O local de trabalho é o segundo lugar mais citado, com cerca de 12%, sobretudo no Sal, onde alcança uma proporção considerável (22%), contra os 13% registados em S. Vicente e no Fogo e os 10% na Praia.

São os indivíduos com os níveis mais elevados de educação, que escutam a rádio em maior proporção no local de trabalho. Em casa não se regista um padrão definido. A proporção de mulheres que costuma escutar a rádio em casa é superior a dos homens, enquanto que no trabalho verifica-se o contrário, ou seja, a proporção de homens que declara escutar a rádio nos seus locais de trabalho (15%) é superior ao das mulheres (9%).
Em que locais costuma escutar rádio Praia Fogo Total
Cerca de 8 em cada 10 cabo-verdianos afirmam que nas suas casas, entre 1 a 4 pessoas costumam escutar a rádio habitualmente, representando um aumento de dez pontos percentuais, comparativamente a 2007. As proporções acima da média foram registadas em Santa Catarina (81%), no Sal e no Fogo, com 80% ex -aequo e na Praia, com 79%. Em S. Vicente, continua expressiva (26%), a proporção dos que declaram que entre 5 a 9 pessoas costumam escutar a rádio nas suas casas.

Avaliação da Qualidade dos Programas
A qualidade dos programas da rádio de uma forma geral é considerada como sendo boa/muito boa, por cerca de 77% dos inquiridos. Comparativamente a 2007, nota-se uma aumento de doze pontos percentuais na avaliação positiva, ao mesmo tempo que diminuiu de 35%, para 23% a percentagem dos que classificaram-na de razoável. As avaliações mais positivas foram registadas em Santa Catarina (87%), na Praia (84%) e no Fogo (80). A proporção da avaliação boa/muito boa tende a diminuir com o nível de instrução e é mais elevada entre os indivíduos com idade igual ou superior a 55 anos. As mulheres são as que avaliaram mais positivamente a qualidade dos programas da rádio (72%, contra 69% entre os homens).


Avaliação da Qualidade dos Jornalistas da Rádio
A qualidade dos jornalistas da rádio também é considerada de boa/muito boa, por cerca de 73% dos inquiridos, melhorando substancialmente a sua performance comparativamente a 2007, em cerca de dezasseis pontos percentuais. Os valores acima da média foram registados em Santa Catarina (86%), na Praia (79%) e no Fogo (78%).

À medida que aumenta a idade dos inquiridos, aumenta a proporção dos que atribuíramuma classificação de boa/muito boa à qualidade dos jornalistas da rádio. Contudo, esta performance diminui com o nível de instrução, ou seja é mais elevada entre os indivíduos sem instrução (86%) e mais baixa entre os que possuem o nível pós-secundário (48%). As mulheres também são mais benevolentes na classificação dos jornalistas, comparativamente aos homens (76%, contra 70%).


Principais Aspectos a serem Melhorados na Rádio
Maior variedade e qualidade dos programas (23%) e mais informações de qualidade, são os aspectos que os ouvintes da rádio consideram que poderiam ser melhorados. Os resultados indicam claramente, que os ouvintes da rádio continuam a reivindicar uma melhor qualidade nos serviços de notícia da rádio. Permaneceu praticamente idêntica a proporção dos que são de opinião que nada precisa ser melhorado (20%), ao mesmo tempo, que cerca de 9% apelam para mais formação aos jornalistas. Mais informações de quali dade é reivindicado em maior proporção entre os indivíduos sem nenhuma instrução, enquanto que aqueles que possuem o nível pós-secundário gostariam que se introduzisse uma maior variedade e qualidade nos programas. São os homens que em maior proporção reivindicam essasmudanças, ao contrário das mulheres (34%) que consideram que nada precisa ser melhorado, contra 16% dos homens.

Avaliação da Qualidade das Rádios
Mosteiros FM
Instados a pronunciarem sobre a qualidade geral de cada uma das rádios, os caboverdianos mantêm praticamente a mesma opinião expressa em 2007, ou seja, avaliam-na de uma forma bastante positiva. De realçar ainda, que as alterações registadas na “tabela classificativa” foram mínimas, com a RCV pela segunda vez consecutiva a ocupar a primeira posição (83%), seguida pela RDP-África (77%). Praia FM surge logo a seguir com (76%), seguida pela Rádio Educativa e pela Rádio Nova, com 75% ex-aequo. Crioula FM com 71%, Rádio Comercial (64%) e Mosteiros FM (57%) são as rádios que seguem na classificação. Mais uma vez, a Rádio Morabeza ocupa o último lugar, com 48% de classificação boa/muito boa. Como referimos anteriormente, cerca de 57% dos cabo-verdianos classificaram como sendo boa/muito boa a qualidade da Rádio Mosteiros FM, sensivelmente a mesma performance alcançada em 2007. Consegue os melhores resultados na Praia, Santa Catarina e no Sal, com 2 em cada 3 inquiridos a atribuírem-lhe uma classificação de boa/muito boa.


Praia FM
A Praia FM é a rádio que registou maior crescimento em termos de avaliação positiva, comparativamente a 2007. Deste modo, cerca de 76% consideram-na como tendo uma qualidade boa/muito boa, um crescimento de quinze pontos percentuais, relativamente à primeira classificação, o que lhe permitiu conquistar a terceira posição nesse quesito particular. Os resultados acima da média foram registados na Praia (85%) e em Santa Catarina (82%), enquanto que em S. Vicente, pouco mais de 1/3 dos inquiridos classificaram-na como sendo boa ou muito boa. No Sal, a proporção alcançada é de 65% e no Fogo, manteve-se praticamente o mesmo, (45%).

Crioula FM
A Crioula FM cresceu em cerca de onze pontos percentuais, comparativamente a 2007, passando de 60% para 71%, a proporção dos que consideram-na como sendo boa/muito boa, principalmente devido aos resultados obtidos na Praia (83%), em Santa Catarina (81%) e no Sal (77%).

RCV
A RCV é a rádio que conquista a maior simpatia dos cabo-verdianos no que concerne à avaliação da qualidade de uma forma geral. Assim, como em 2007, continua a liderar a “tabela classificativa” com cerca de 83% de avaliação positiva, contra os 76% alcançados anteriormente. A avaliação boa/muito boa, ultrapassa os 75% em todos os domínios de estudo, sendo de destacar a Praia e Santa Catarina, onde atinge os 90% e 87%, respectivamente.

Rádio Comercial
A Rádio Comercial mantém uma boa performance com 64% de avaliação positiva, o que representa um aumento de nove pontos percentuais, comparativamente a 2007. Continua a alcançar os melhores resultados na Praia (74%) e em Santa Catarina (76%) e os mais baixos no Fogo (43%) e em S. Vicente (47%).

Rádio Morabeza
A Rádio Morabeza é a menos apreciada pelos cabo-verdianos e consequentemente aquela que conquista a menor proporção de avaliação boa/muito boa (48%). Praia e Sal, são dois domínios de estudo onde a avaliação da qualidade desta rádio é bastante satisfatória, alcançando os 65% e 55%, respectivamente de classificação boa/muito boa, ao contrário de Santa Catarina e de S. Vicente, onde mais de metade dos inquiridos consideram-na como apenas razoável. No Fogo, cerca de ¼ dos inquiridos avaliaram-na negativamente, atribuindo-lhe a classificação de má/péssima.


RDP - África
A RDP-África está classificada em segundo lugar no quesito qualidade geral, com 77% de avaliação boa/muito boa, registando assim, um crescimento de nove pontos percentuais,
Comparativamente a 2007. Os resultados acima da média foram registados na Praia (80%) e em S. Vicente (78%), enquanto que no Fogo, pouco mais de metade dos inquiridos (54%) atribuíram-na uma nota positiva.

Rádio Educativa
A Rádio Educativa continua bem posicionada na avaliação da sua qualidade geral, segurando o quarto lugar conquistado em 2007. Cerca de 75% dos inquiridos consideram-na como tendo uma boa/muito boa qualidade, contra os 61% alcançados no período anterior. As proporções acima da média foram registadas na Praia (84%), no Fogo e em Santa
Catarina, com 77% ex-aequo.


Rádio Nova
A Rádio Nova também foi avaliada como tendo uma qualidade geral boa/muito boa, por cerca de 75% dos inquiridos, conquistando assim, um lugar ao lado da Rádio Educativa na “tabela classificativa”. Este resultado, deve-se sobretudo à boa performance alcançada no Fogo (87%), em Santa Catarina (81%) e na Praia (76%).
Satisfação com os Serviços Prestados pela Rádio
O nível de satisfação com os serviços prestados pela rádio cresceu de 2007 para 2009, passando de 80%, para 86% no período em referência. A proporção dos que se declararam satisfeitos/muito satisfeitos é mais acentuada em Santa Catarina (92%) e no Sal (88%), contra os 85% registados na Praia e 84% em S. Vicente. A proporção dos que se sentem mais ou menos satisfeitos, decresceu de 18% para 13% no mesmo período.

As mulheres declaram-se mais satisfeitas do que os homens (89%, contra 83%). Os indivíduos sem nenhuma instrução são os que em maior proporção mostram-se mais satisfeitos com a qualidade dos serviços prestados pela rádio, alcançando os 94%, contra 65% entre os do nível pós-secundário. Por grupo etário, o maior nível de satisfação é registado entre aqueles que possuem a idade compreendida entre os 45 a 54 anos (93%).

quarta-feira, julho 08, 2009

NOVA EQUIPA JÁ ESTÁ A TRABALHAR


O jornalista Orlando Lima foi ontem empossado como o novo delegado da RTC na cidade do Mindelo. Imprimir uma nova dinamica à rádio e televisão na região norte do país é uma das apostas da nova equipa, que integra ainda a jornalista Astrides Lima, chefe de divisão de informação e programas da RCV, e o realizador Aristides Lima, coordenador da TCV.
A nova equipa substitui o Engº Armando Patronílio Silva, delegado, e os jornalistas, Arnaldo Borges, chefe de divisão da RCV, e Fonseca Soares, coordenador da TCV.



terça-feira, julho 07, 2009

A VOZ DAS COMUNIDADES


Na perspectiva do Projecto de Desenvolvimento dos Media da UNESCO “a rádio comunitária é aquela que é da comunidade, feita pela comunidade e para a comunidade”, definindo-se a comunidade como um grupo geograficamente baseado e/ou um grupo social ou sector publico que tem interesses comuns ou específicos.

Estamos a falar de uma rádio que presta um serviço sem fins lucrativos, gerida com a participação da comunidade; responde às necessidades da comunidade, serve e contribui para o seu desenvolvimento de uma maneira progressista, promovendo a mudança social, a democratização da comunicação através da participação da comunidade.

Assim sendo, a finalidade principal de uma rádio comunitária é contribuir para o desenvolvimento sócio-economico e cultural da comunidade, promovendo a cultura da paz, a democracia, os direitos humanos, a qualidade e o empowerment da comunidade onde está inserida. Em suam: uma rádio efectivamente comunitária deve estar na comunidade, servir a comunidade e ser da comunidade.

Para isso, a comunidade deverá organizar-se previamente, constituindo um órgão que possa cuidar interesses colectivos junto da rádio. Esse órgão pode ser, por exemplo, uma associação da rádio comunitária.

Continuamos a defender que não faz qualquer sentido proibir as rádios comunitárias de fazer publicidade. Aliás, para além da própria publicidade comercial, as pessoas singulares e colectivas podem fazer pequenos anúncios (missas, falecimentos, aniversários, baptizados, casamentos, venda de propriedades ou bens pessoais, convocatórias, etc.) ou publicar mensagens (de saudação ou felicitação a amigos e familiares), cujos impressos são vendidos pela rádio aos anunciantes.

Mas mais: devem ser capazes de estabelecer relações de colaboração com outros financiadores e doadores. Por exemplo, as igrejas e organizações não-governamentais podem estar interessadas em financiar a emissão de programas específicos das suas áreas de trabalho (água, saúde, meio ambiente, direitos humanos, educação cívica etc.).

Atenção: em vez do pessoal ligado à gestão das rádios perguntar às ONG em quê é que elas podem ajudar, devem-se desenhar projectos concretos, exequíveis e de grande impacto nas comunidades e apresentá-los a essas organizações. Acredite-se que elas estejam bastante receptivas, porque, afinal, as ONG também trabalham em prol das comunidades.

Por outro lado, através de inquéritos de opinião realizados pelos voluntários das rádios, devidamente formados num pequeno curso sobre pesquisa de audiência, as próprias comunidades, que de alguma forma já escutam as emissões radiofónicas (quase toda a gente tem um aparelho de rádio de banda FM), são convidadas a pronunciarem-se sobre os programas que mais gostariam de ouvir, horários das emissões, etc., embora corramos o risco de colher respostas que reflectem mais a programação da Rádio Nacional.

Sabido que o objectivo das rádios é o de servir as comunidades das áreas em que se encontram instaladas (obedecendo aos princípios de informar, formar, educar e recrear), a programação deve procurar reflectir, ao máximo, aos interesses e anseios dessas comunidades.

De todo o modo, é preferível que se comece com períodos de emissão relativamente curtos e, a medida que se for ganhando prática e se verifique que estão garantidas as condições materiais, técnicas e humanas, alargar-se os espaços de antena. O contrário - começar com muitas horas de emissão diária e depois ir diminuindo – é que fica mal.

Os ouvintes, de acordo com as alguns dados de pesquisa realizados em alguns países cuja realidade sócio-demografica e económica, se aproxima de Cabo Verde, preferem escutar principalmente noticiários, programas educativos (sobre temas diversos, incluindo de carácter moral) recreativos, teatro radiofónico ou programas de humor, programas sobre a mulher, crianças e jovens, agricultura, pecuária, deporto, debates radiofónicos.

As notícias sobre o que se passa à sua volta despertam sempre grande impacto no ouvinte, por causa da proximidade do que se relata. É sempre de valor acrescentado ouvir um vizinho a falar; saber o que se passa com o camponês que mora na esquina; com a escola onde o filho estuda; com a diversidade de produto e os preços do mercado onde costumamos fazer as nossas compras, etc.

Na escolha das notícias locais, será apenas preciso que os colaboradores das rádios comunitárias sejam perspicazes, activos, criem as suas próprias fontes de informação. Factos ou acontecimentos de actualidade, inéditos ou de interesse público haverá sempre. Para além dos noticiários locais, talvez seja importante retransmitir os principais jornais da Rádio de Cabo Verde, ou, eventualmente, algum programa de informação cujo tema seja de interesse específico para comunidade ou região.

É importante que a comunidade se faça ouvir nas emissões, quer através de cartas, debates em directo, entrevistas gravadas, inquéritos de rua, telefonemas, (e-mail, caso haja Internet disponível) ou outras formas que permitam ao ouvinte ouvir o nome ou a sua voz através da rádio.

Pese embora só muito recentemente a importância das rádios comunitárias tenha começado a fazer-se sentir, convém reflectir sobre os desafios que se lhes colocam e, sobretudo, descortinar de que forma poderão organizar-se para os enfrentar. Normalmente na fase de arranque, o projecto consegue o apoio financeiro e a assessoria técnica de alguma ONG ou parceiro público. Porém, a perspectiva é que gradualmente as rádios comunitárias se abram a outros doadores e aumentem as suas fontes de receitas, de modo a que possam em grande medida caminhar com os seus próprios pés.

Por conseguinte, o maior desafio que as rádios comunitárias enfretarão no futuro são, grosso modo, garantir a sua sustentabilidade financeira, técnica e editorial; em termos de recursos humanos e condições de trabalho. Não menos importante será a batalha para fazer com que as comunidades se sintam donas das rádios. Só desta maneira se poderá manter as rádios em funcionamento.

O pior é que entre nós, as rádios comunitárias nasceram defeituosas. Na maior parte dos casos (há excepções honrosas) a gestão das rádios é feita por associações de fachada que só servem para esconder a mão (in) visível das Câmaras Municipais. Isto é desvirtuar o conceito de rádios comunitárias. Cá está uma boa matéria para o gabinete de fiscalização da DGCS se ocupar.

Continua…


segunda-feira, julho 06, 2009

COBERTURA EM CIMA DO ACONTECIMENTO

O texto que se segue é da autoria do jornalista Elisângelo Ramos (foto), um dos principais impulsionadores da criação deste espaço público de reflexão crítica sobre a rádio e a comunicação social em Cabo Verde. O jornalista é neste momento o editor de Cultura da RCV, estando sob sua responsabilidade o Jornal de Cultural, emitido às segundas, quartas e sextas-feiras às 13:30 e o Magazine Cultura, transmitido aos domingos, pelas 21 horas. Apesar de considerar excelente a cobertura mediática em torno da atribuição à Cidade Velha do estatuto de Património da Humanidade, o jornalista critica a falta de visão dos responsáveis dos órgãos de Informação que ainda não aprenderam que o sucesso da actividade dos media joga-se, na maior parte das vezes, na planificação.




Cobertura mediática excelente e a pender para o patriotismo. Assim entendemos a cobertura informativa à elevação da Cidade Velha a Património da Humanidade pela UNESCO. Mal soubemos da boa nova, vários Órgãos de Comunicação Social se fizeram presentes na Cidade Velha, naquele dia 26 de Junho que terá sido, julgamos, a maior enchente jornalística na Ribeira Grande de Santiago, com repórteres de quase todos os continentes, pois que não só africanos e europeus, mas e também norte-americanos.

As gentes da Cidade Velha, pelo seu modo de manifestar alegria, pouco nos deixaram perceber da sua real percepção àquilo que se passava ao seu redor. Poucos se atreviam a falar, talvez empenhados em preservar o pouco que sabiam. É que na verdade – resumido entre o Interior e o Urbano – a população na Cidade Velha é flutuante e, a hora da notícia e, a azáfama mediática, em recolher o pulsar dos cidadãos, pegou de surpresa a comunidade, embrenhada em afazeres profissionais; a população mais escolarizada estava, nessa altura, em função: na administração local, nas escolas e, também, na Cidade da Praia. O pessoal da faina agrícola estaria, certamente, entre as ribeiras e, a pesca àquela hora era prioridade e, os meninos na escola e os pais preocupados com o almoço e a preparação dos menores para a escola.

Até o ensino secundário e superior roubou brilho juvenil às festividades no dia 26 de Junho. Perante este quadro aos Jornalistas outra solução não restava: recorrer-se às habituais vozes, aquelas que ao longo dos anos se vêm batendo para que o merecido estatuto fosse aclamado em Sevilha.

Todavia, estando lá e observado, realçamos aqui o interesse e preocupação dos Jornalistas em "pegar" não só as autoridades (locais e centrais) bem assim ouvir a voz do povo, e fizeram-no em maior estilo.

Entretanto: a forma como foi feita a cobertura deste grande evento nacional curva-nos para uma palavra aos meios técnicos, humanos e de programação. Na verdade, sabendo-se da Candidatura, deveriam os directores de programação, produção e/ou planeamento dos Órgãos ter, a partida, muito antes do em cima de joelhos, criado e montado um circuito que tornasse mais célere e mediática a cobertura do evento, não só aqui no País como na Diáspora.

Pois, aquilo que deveria ser uma festa nacional, acabou por se resumir a manifestações de alegria, mais por parte dos poderes e cientistas sociais do que propriamente do grosso dos cabo-verdianos.

Os órgãos públicos de Comunicação Social, face aos meios técnicos e humanos de que dispõem, poderiam e deveriam tê-lo feito: por exemplo, bom seria, que soubéssemos o sentir das comunidades cabo-verdianas (que muito lutaram pela Candidatura); medir o pulsar do cabo-verdiano de Santo Antão à Brava; ouvir os nossos cientistas sociais que não apenas os estabelecidos na Ilha de Santiago.

Era alargar a cobertura à Nação, feita de homens que habitam nove ilhas e cuja maioria dos filhos residente fora do país. É crível dizer-se que faltou programação à cobertura do evento e faltou por ausência de planeamento. Mesmo que a Candidatura não passasse a cobertura se impunha, pelo que não nos parece plausível como pretexto para este "desenracá" essa eventualidade para não se ter preparado o menu à mediatização formatada do certame.

Mesmo assim e, tendo em vista a fraca cobertura, normalmente dada aos eventos de teor cultural, desta vez a Comunicação Social cabo-verdiana desempenhou o papel que a Lei lhe reserva.

Alertamos, contudo, para a necessidade de os Órgãos ponderarem bem sobre o que o titulo lhes reserva. A começar pela Rádio de Cabo Verde que deverá, o quanto antes, dotar o Município da Ribeira Grande de Santiago, de um Correspondente e, num futuro próximo, estudar a possibilidade de instalação de uma delegação naquele concelho.

Esperamos que não nos venham com a desculpa de que a distância entre Cidade Velha e a Cidade da Praia não justifica tal aposta. Isso seria tentar encobrir os reais motivos para a não instalação em concelhos perto da capital de delegações. E, em termos de custo, todos sabem quanto as tecnologias vieram revolucionar as práticas outrora onerosas. Quem fala da Rádio, di-lo, indiferentemente da TCV. Referindo–se, ainda, à cobertura da Declaração da UNESCO é de se lamentar o papel desempenhado pelos órgãos comunitários que, fracos de recursos e meios, não puderam dar as suas populações locais o pulsar sentido na Cidade Velha.

Embora a avaliação seja positiva é de se esperar que esta dinâmica sirva de exemplo aos decisores: é possível fazer mais e melhor. Outrossim, a cobertura mediática colocou a nu a necessidade de os Órgãos se empenharem na especialização dos seus Jornalistas, promovendo a devida formação.

Elisângelo Ramos


sábado, julho 04, 2009

UMA RÁDIO REVOLUCIONÁRIA

A História da radiodifusão cabo-verdiana está indelevelmente associada ao processo que desembocou na Independência Nacional a 5 de Julho de 1975, cuja efeméride assinalamos no próximo domingo. No plano da informação e da formação, foi decisivo o contributo da rádio na consciencialização dos cabo-verdianos para a necessidade de “nô tma nôs terra na nôs mom”.

Por isso, o KRIOL RÁDIO, ciente da sua missão, orgulha-se de apresentar uma comunicação proferida pelo jornalista Carlos Lima, em Dezembro de 2005, no Mindelo, para assinalar os 31 anos da tomada da Rádio Barlavento. O repto é-lhe também dirigido: se conhece um pouco da história da radiodifusão cabo-verdiana, por ter trabalhado, colaborado, ou, simplesmente, se lembra de como era a rádio há alguns anos, partilhe a sua memória com os leitores deste blogue. A rádio é o património da memória colectiva.



Após o seu surgimento, a rádio conquistou, em apenas 40 anos, um lugar tão importante na vida intelectual e económica da maioria dos povos. A sua presença indiscreta insinuou-se de tal forma nos nossos hábitos que hoje o mundo sem rádio nos colocaria numa posição muito remota. Aliás, são incontestáveis os valores da rádio enquanto meio de comunicação de massas.

Trata-se de um órgão que muito mais que a televisão ou o cinema estende o seu poder e a sua magia por todas as partes do mundo e a todos os meios sociais. Posso mesmo concluir que a rádio conseguiu impor modificações profundas nos hábitos e na maneira de viver do homem moderno. Ou seja, acredita-se que a rádio pôs fim a uma espécie de isolamento no qual o homem vivia.

Muitos vivem hoje à espera das palavras e do som dos seus receptores. É esta magia que transforma a arte de fazer rádio numa forma de levar o saber, a cultura e a informação genérica a todas as casas numa das mais abertas democracias do mundo.

É na base destes conceitos de rádio que recordamos a data de 9 de Dezembro, marcada pela passagem do trigésimo primeiro aniversário da tomada a Rádio Barlavento aqui na ilha de S. Vicente, por um grupo de populares, maior parte, jovens revoltados pelos conteúdos da programação dessa estação emissora. Entre essas pessoas vamos aqui recordar o nosso amigo Carlos Évora e o saudoso Cuks que já não está entre nós, infelizmente.

Registada sob a sigla Rádio Barlavento, estação emissora de ondas curtas CR4AC, emitindo na faixa dos 75 metros, os sanvicentinos tomaram as instalações no antigo Grémio Recreativo Mindelo, na Praça Nova, e criaram uma estação do povo, para o povo e pelo povo, designada Rádio Voz de S. Vicente.

Hoje, se estamos aqui para marcar a passagem dessa data histórica é porque tivemos pessoas que se dedicaram à causa da rádio, algumas vivas, outras já falecidas, mas que também recordamos com muita saudade. Refiro-me aos Srs. Cândido Cunha, Pedro Afonso, Evandro de Matos, Teodoro Pias, Telmo Vieira, Aníbal Lopes da Silva, Francisco Tavares de Almeida, Zito Azevedo e muitos outros que poderíamos enumerar e aos quais rendemos sincera e respeitosa homenagem.

Outra estação emissora marcante na época que antecedia a Independência Nacional era a Rádio Clube Mindelo, também de ondas curtas, com a sigla CR4AB, que emitia na faixa dos 62 metros. A estação, situada na rua de Lisboa, foi uma verdadeira escola de locutores, os quais acabariam por trabalhar na Rádio Barlavento, na altura de maior expressão, devido a potência do seu emissor, 1Kw.

Voltando ao 9 de Dezembro, podemos dizer que inicialmente a funcionar com locutores e técnicos que viam na actividade radiofónica apenas um hobby, a Rádio Voz de S. Vicente permitiu uma virada na história da radiodifusão. Pode-se considerar que há 31 anos, a radiodifusão em Cabo Verde dava o seu primeiro passo no caminho do crescimento, da profissionalização e da modernização, com a contratação dos primeiros quadros a tempo inteiro e que, posteriormente, passariam à fase de formação no exterior.

Enquanto os quadros recebiam essa formação, outros carolas mantinha a estação no ar, elaborando noticiários, tanto a nível nacional como internacional através de um serviço de escuta das estações estrangeiras e também da prensa latina; produzindo programas, a maior parte sobre o processo da luta pela Independência, com as músicas de intervenção da época e poemas que clamavam pela liberdade.

Com a tomada da Rádio Barlavento, começava o processo de esclarecimento do povo quanto aos projectos da Independência, quanto ao pensamento e à obra de Amílcar Cabral, numa rádio revolucionária que acabou por ter o privilegio de noticiar a independência de Cabo Verde, a 5 de Julho de 1975.

Pode-se considerar que volvidos 31 anos, Cabo Verde tem hoje uma rádio renovada que passou por algumas fases de transformação. No início existiam a Rádio Voz de S. Vicente, no Mindelo, a Emissora Oficial, na Praia, e mais tarde, foi criada a retransmissora no Sal, que acabariam por fundir-se na Rádio Nacional de Cabo Verde, RNCV, que, por sua vez, foi extinta e criada a actual empresa RTC com a componentes rádio e televisão.

Hoje a Rádio de Cabo Verde chega a todos os cantos do país através de uma rede de emissores e retransmissores em modulação de frequência, com centros de produção na Praia, Mindelo, Espargos e Assomada, e foi materializado o sonho de estarmos no seio da nossa emigração através da Internet.

Os carolas de 1974, alguns ainda no activo, vêem agora no quadro de pessoal da rádio, técnicos licenciados em vários países, o que poderá ser considerado uma mais-valia no sentido da melhoria dos conteúdos da nossa emissão e programação.

Se hoje Cabo Verde tem uma rádio pública com expressão e com liderança de audiência é que foi dado o importante passo a 9 de Dezembro de 1974 no sentido da criação da Rádio Voz de S. Vicente. Uma data que, sem dúvida, faz parte da História do nosso país e que decerto continua a ser acarinhada pelo povo cabo-verdiano

Comunicação lida pelo jornalista Carlos Lima durante uma conferência realizada pela RTC na Biblioteca Municipal do Mindelo, a 10 de Dezembro de 2005.

sexta-feira, julho 03, 2009

PRÉMIO DE JORNALISMO CIDADE VELHA

PRÉMIO ANTÓNIO DA NOLI

A Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago institui o Prémio anual António da Noli, com o qual distingue o jornalista que, nos diferentes meios de Comunicação (imprensa, rádio, televisão ou informação digital), tenha publicado nesse ano a melhor peça jornalística sobre a Cidade Velha e/ou o Município onde a antiga capital de Cabo Verde se insere. Com este prémio, a CMRGS homenageia aquele que se supõe ter sido o navegador que, ao serviço do Infante D. Henrique, primeiro terá achado as ilhas de Cabo Verde (em 1460), em concreto a ilha de Santiago e o local que ficou conhecido como Ribeira Grande. Nascido em Noli, Itália, também designado em Génova como Antonotto Usodimare, foi o primeiro capitão donatário de Cabo Verde, por carta de doação datada de 19 de Setembro de 1462, usufruindo dessa mercê até 1496. Da Noli veio a falecer no ano seguinte, 1497, supostamente no que é hoje a Cidade Velha.
Para este Prémio António Da Noli, que se institui agora, adopta-se o seguinte Regulamento:

REGULAMENTO DO PRÉMIO ANTONIO DA NOLI

O Prémio António Da Noli é atribuído ao jornalista que, em cada ano, seja autor reconhecido da peça jornalística, editada na imprensa, rádio, televisão ou informação digital cabo-verdiana (do País ou da Diáspora) que o júri do Prémio entenda ter sido o melhor trabalho produzido sobre a Cidade Velha ou sobre o Município da Ribeira Grande de Santiago.

CANDIDATURAS

1. Os trabalhos concorrentes ao Prémio António Da Noli devem dar entrada na Sede da AJOC na Cidade da Praia, até ao dia 10 de Julho
a) os trabalhos devem ser apresentados em quatro cópias e com envelope anexo onde se referem:
b) o nome do autor, morada, contacto telefónico e/ou endereço electrónico, data da sua edição e o nome do órgão de Comunicação onde foi inserido
2. O nome do vencedor do Prémio António Da Noli é publicamente anunciado a 23 de Julho, Dia do Município da Ribeira Grande de Santiago
3. A entrega do prémio é feita em acto solene, em data a designar aquando do seu anúncio.
4. Os trabalhos não premiados ficam em arquivo da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, passando a integrar o espólio documental do Município.

VALOR DO PRÉMIO ANTONIO DA NOLI

5. O valor do Prémio António Da Noli é de 50 mil escudos.
6. O vencedor do Prémio António Da Noli, tal como o órgão de Comunicação onde o trabalho distinguido foi editado, recebe um diploma confirmador da distinção.
7. O vencedor do Prémio António Da Noli é único. Não haverá atribuição de prémios ex-aequo.
8. O júri é soberano, não havendo recurso para a sua decisão.
9. O júri pode decidir, se for esse o seu entendimento, a não atribuição do Prémio António Da Noli por falta de qualidade dos trabalhos candidatos apresentados esse ano.
10. A Câmara da Ribeira Grande de Santiago reserva-se o direito de republicar na sua revista o trabalho premiado, sem qualquer retribuição adicional.
JURI DO PRÉMIO ANTONIO DA NOLI
11. O júri será composto por três elementos: o primeiro em representação da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago; o segundo em representação da AJOC, Associação dos Jornalistas Cabo-verdianos, que para o efeito será convidada; o terceiro, uma personalidade independente, conhecedora do processo jornalístico, a designar por acordo entre os dois primeiros.
12. A presidência do júri cabe ao representante da Câmara Municipal da Ribeira Grande que, todavia, não terá direito a voto, excepto quando não haja acordo entre os dois outros elementos do júri sobre a atribuição do Prémio. Nessa circunstância, será ele o decisor entre as duas opções em presença.
13. É permitida a cada elemento do júri a declaração de voto, justificativa da sua opção.
14. A acta do Prémio António Da Noli, integrando as declarações de voto do júri, é tornada pública.


Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago

Comissão Organizadora da Festa do Santo Nome de Jesus

Cidade Velha, 6 de Janeiro de 2009

RCV LIDERÁ MAS PERDE NA CAPITAL

A Rádio de Cabo Verde é estação mais ouvida no País, alem de ser a que ostenta a maior notoriedade.

Os dados constam do segundo estudo da audiometria sobre os Órgãos de Comunicação Social, realizado pela empresa Afrosondagem e apresentado esta manha, na Praia pelo seu director Francisco Rodrigues.

Ainda no universo radiofónico, as pessoas ouvidas pela Afrosondagem exigem mais informação e uma programação mais variada.

No capitulo dos jornais impressos, o estudo aponta para um domínio claro do A Semana, embora o Jornal A Nação seja o que mais cresceu em termos de notoriedade.

A percentagem das pessoas que nunca leram um jornal está próxima dos 30 por cento.

Uma situação que, no entender de Francisco Rodrigues, é preocupante, embora esta proporção tenha baixado em relação a 2007.

No rol dos jornais on line, é O Semana que também se posiciona em primeira posição no estudo da Afrosondagem, que aponta o Liberal como sendo alvo de uma queda acentuada que viu diminuído, de forma significativa, o nível de notoridade.

No universo televisivo, a TCV é a mais vista, mas o canal que mais cresceu é a Record.
Este segundo estudo de audiometria sobre os órgãos de Comunicação Social foi realizado nos concelhos da Praia, Sal, São Vicente, Santa Catarina e São Filipe.

Foram ouvidas mais duas mil pessoas numa amostra representativa, com uma margem de erro de 5 por cento, sendo o intervalo de confiança de 95 por cento.

Fonte: RCV