quarta-feira, julho 08, 2009

NOVA EQUIPA JÁ ESTÁ A TRABALHAR


O jornalista Orlando Lima foi ontem empossado como o novo delegado da RTC na cidade do Mindelo. Imprimir uma nova dinamica à rádio e televisão na região norte do país é uma das apostas da nova equipa, que integra ainda a jornalista Astrides Lima, chefe de divisão de informação e programas da RCV, e o realizador Aristides Lima, coordenador da TCV.
A nova equipa substitui o Engº Armando Patronílio Silva, delegado, e os jornalistas, Arnaldo Borges, chefe de divisão da RCV, e Fonseca Soares, coordenador da TCV.



terça-feira, julho 07, 2009

A VOZ DAS COMUNIDADES


Na perspectiva do Projecto de Desenvolvimento dos Media da UNESCO “a rádio comunitária é aquela que é da comunidade, feita pela comunidade e para a comunidade”, definindo-se a comunidade como um grupo geograficamente baseado e/ou um grupo social ou sector publico que tem interesses comuns ou específicos.

Estamos a falar de uma rádio que presta um serviço sem fins lucrativos, gerida com a participação da comunidade; responde às necessidades da comunidade, serve e contribui para o seu desenvolvimento de uma maneira progressista, promovendo a mudança social, a democratização da comunicação através da participação da comunidade.

Assim sendo, a finalidade principal de uma rádio comunitária é contribuir para o desenvolvimento sócio-economico e cultural da comunidade, promovendo a cultura da paz, a democracia, os direitos humanos, a qualidade e o empowerment da comunidade onde está inserida. Em suam: uma rádio efectivamente comunitária deve estar na comunidade, servir a comunidade e ser da comunidade.

Para isso, a comunidade deverá organizar-se previamente, constituindo um órgão que possa cuidar interesses colectivos junto da rádio. Esse órgão pode ser, por exemplo, uma associação da rádio comunitária.

Continuamos a defender que não faz qualquer sentido proibir as rádios comunitárias de fazer publicidade. Aliás, para além da própria publicidade comercial, as pessoas singulares e colectivas podem fazer pequenos anúncios (missas, falecimentos, aniversários, baptizados, casamentos, venda de propriedades ou bens pessoais, convocatórias, etc.) ou publicar mensagens (de saudação ou felicitação a amigos e familiares), cujos impressos são vendidos pela rádio aos anunciantes.

Mas mais: devem ser capazes de estabelecer relações de colaboração com outros financiadores e doadores. Por exemplo, as igrejas e organizações não-governamentais podem estar interessadas em financiar a emissão de programas específicos das suas áreas de trabalho (água, saúde, meio ambiente, direitos humanos, educação cívica etc.).

Atenção: em vez do pessoal ligado à gestão das rádios perguntar às ONG em quê é que elas podem ajudar, devem-se desenhar projectos concretos, exequíveis e de grande impacto nas comunidades e apresentá-los a essas organizações. Acredite-se que elas estejam bastante receptivas, porque, afinal, as ONG também trabalham em prol das comunidades.

Por outro lado, através de inquéritos de opinião realizados pelos voluntários das rádios, devidamente formados num pequeno curso sobre pesquisa de audiência, as próprias comunidades, que de alguma forma já escutam as emissões radiofónicas (quase toda a gente tem um aparelho de rádio de banda FM), são convidadas a pronunciarem-se sobre os programas que mais gostariam de ouvir, horários das emissões, etc., embora corramos o risco de colher respostas que reflectem mais a programação da Rádio Nacional.

Sabido que o objectivo das rádios é o de servir as comunidades das áreas em que se encontram instaladas (obedecendo aos princípios de informar, formar, educar e recrear), a programação deve procurar reflectir, ao máximo, aos interesses e anseios dessas comunidades.

De todo o modo, é preferível que se comece com períodos de emissão relativamente curtos e, a medida que se for ganhando prática e se verifique que estão garantidas as condições materiais, técnicas e humanas, alargar-se os espaços de antena. O contrário - começar com muitas horas de emissão diária e depois ir diminuindo – é que fica mal.

Os ouvintes, de acordo com as alguns dados de pesquisa realizados em alguns países cuja realidade sócio-demografica e económica, se aproxima de Cabo Verde, preferem escutar principalmente noticiários, programas educativos (sobre temas diversos, incluindo de carácter moral) recreativos, teatro radiofónico ou programas de humor, programas sobre a mulher, crianças e jovens, agricultura, pecuária, deporto, debates radiofónicos.

As notícias sobre o que se passa à sua volta despertam sempre grande impacto no ouvinte, por causa da proximidade do que se relata. É sempre de valor acrescentado ouvir um vizinho a falar; saber o que se passa com o camponês que mora na esquina; com a escola onde o filho estuda; com a diversidade de produto e os preços do mercado onde costumamos fazer as nossas compras, etc.

Na escolha das notícias locais, será apenas preciso que os colaboradores das rádios comunitárias sejam perspicazes, activos, criem as suas próprias fontes de informação. Factos ou acontecimentos de actualidade, inéditos ou de interesse público haverá sempre. Para além dos noticiários locais, talvez seja importante retransmitir os principais jornais da Rádio de Cabo Verde, ou, eventualmente, algum programa de informação cujo tema seja de interesse específico para comunidade ou região.

É importante que a comunidade se faça ouvir nas emissões, quer através de cartas, debates em directo, entrevistas gravadas, inquéritos de rua, telefonemas, (e-mail, caso haja Internet disponível) ou outras formas que permitam ao ouvinte ouvir o nome ou a sua voz através da rádio.

Pese embora só muito recentemente a importância das rádios comunitárias tenha começado a fazer-se sentir, convém reflectir sobre os desafios que se lhes colocam e, sobretudo, descortinar de que forma poderão organizar-se para os enfrentar. Normalmente na fase de arranque, o projecto consegue o apoio financeiro e a assessoria técnica de alguma ONG ou parceiro público. Porém, a perspectiva é que gradualmente as rádios comunitárias se abram a outros doadores e aumentem as suas fontes de receitas, de modo a que possam em grande medida caminhar com os seus próprios pés.

Por conseguinte, o maior desafio que as rádios comunitárias enfretarão no futuro são, grosso modo, garantir a sua sustentabilidade financeira, técnica e editorial; em termos de recursos humanos e condições de trabalho. Não menos importante será a batalha para fazer com que as comunidades se sintam donas das rádios. Só desta maneira se poderá manter as rádios em funcionamento.

O pior é que entre nós, as rádios comunitárias nasceram defeituosas. Na maior parte dos casos (há excepções honrosas) a gestão das rádios é feita por associações de fachada que só servem para esconder a mão (in) visível das Câmaras Municipais. Isto é desvirtuar o conceito de rádios comunitárias. Cá está uma boa matéria para o gabinete de fiscalização da DGCS se ocupar.

Continua…


segunda-feira, julho 06, 2009

COBERTURA EM CIMA DO ACONTECIMENTO

O texto que se segue é da autoria do jornalista Elisângelo Ramos (foto), um dos principais impulsionadores da criação deste espaço público de reflexão crítica sobre a rádio e a comunicação social em Cabo Verde. O jornalista é neste momento o editor de Cultura da RCV, estando sob sua responsabilidade o Jornal de Cultural, emitido às segundas, quartas e sextas-feiras às 13:30 e o Magazine Cultura, transmitido aos domingos, pelas 21 horas. Apesar de considerar excelente a cobertura mediática em torno da atribuição à Cidade Velha do estatuto de Património da Humanidade, o jornalista critica a falta de visão dos responsáveis dos órgãos de Informação que ainda não aprenderam que o sucesso da actividade dos media joga-se, na maior parte das vezes, na planificação.




Cobertura mediática excelente e a pender para o patriotismo. Assim entendemos a cobertura informativa à elevação da Cidade Velha a Património da Humanidade pela UNESCO. Mal soubemos da boa nova, vários Órgãos de Comunicação Social se fizeram presentes na Cidade Velha, naquele dia 26 de Junho que terá sido, julgamos, a maior enchente jornalística na Ribeira Grande de Santiago, com repórteres de quase todos os continentes, pois que não só africanos e europeus, mas e também norte-americanos.

As gentes da Cidade Velha, pelo seu modo de manifestar alegria, pouco nos deixaram perceber da sua real percepção àquilo que se passava ao seu redor. Poucos se atreviam a falar, talvez empenhados em preservar o pouco que sabiam. É que na verdade – resumido entre o Interior e o Urbano – a população na Cidade Velha é flutuante e, a hora da notícia e, a azáfama mediática, em recolher o pulsar dos cidadãos, pegou de surpresa a comunidade, embrenhada em afazeres profissionais; a população mais escolarizada estava, nessa altura, em função: na administração local, nas escolas e, também, na Cidade da Praia. O pessoal da faina agrícola estaria, certamente, entre as ribeiras e, a pesca àquela hora era prioridade e, os meninos na escola e os pais preocupados com o almoço e a preparação dos menores para a escola.

Até o ensino secundário e superior roubou brilho juvenil às festividades no dia 26 de Junho. Perante este quadro aos Jornalistas outra solução não restava: recorrer-se às habituais vozes, aquelas que ao longo dos anos se vêm batendo para que o merecido estatuto fosse aclamado em Sevilha.

Todavia, estando lá e observado, realçamos aqui o interesse e preocupação dos Jornalistas em "pegar" não só as autoridades (locais e centrais) bem assim ouvir a voz do povo, e fizeram-no em maior estilo.

Entretanto: a forma como foi feita a cobertura deste grande evento nacional curva-nos para uma palavra aos meios técnicos, humanos e de programação. Na verdade, sabendo-se da Candidatura, deveriam os directores de programação, produção e/ou planeamento dos Órgãos ter, a partida, muito antes do em cima de joelhos, criado e montado um circuito que tornasse mais célere e mediática a cobertura do evento, não só aqui no País como na Diáspora.

Pois, aquilo que deveria ser uma festa nacional, acabou por se resumir a manifestações de alegria, mais por parte dos poderes e cientistas sociais do que propriamente do grosso dos cabo-verdianos.

Os órgãos públicos de Comunicação Social, face aos meios técnicos e humanos de que dispõem, poderiam e deveriam tê-lo feito: por exemplo, bom seria, que soubéssemos o sentir das comunidades cabo-verdianas (que muito lutaram pela Candidatura); medir o pulsar do cabo-verdiano de Santo Antão à Brava; ouvir os nossos cientistas sociais que não apenas os estabelecidos na Ilha de Santiago.

Era alargar a cobertura à Nação, feita de homens que habitam nove ilhas e cuja maioria dos filhos residente fora do país. É crível dizer-se que faltou programação à cobertura do evento e faltou por ausência de planeamento. Mesmo que a Candidatura não passasse a cobertura se impunha, pelo que não nos parece plausível como pretexto para este "desenracá" essa eventualidade para não se ter preparado o menu à mediatização formatada do certame.

Mesmo assim e, tendo em vista a fraca cobertura, normalmente dada aos eventos de teor cultural, desta vez a Comunicação Social cabo-verdiana desempenhou o papel que a Lei lhe reserva.

Alertamos, contudo, para a necessidade de os Órgãos ponderarem bem sobre o que o titulo lhes reserva. A começar pela Rádio de Cabo Verde que deverá, o quanto antes, dotar o Município da Ribeira Grande de Santiago, de um Correspondente e, num futuro próximo, estudar a possibilidade de instalação de uma delegação naquele concelho.

Esperamos que não nos venham com a desculpa de que a distância entre Cidade Velha e a Cidade da Praia não justifica tal aposta. Isso seria tentar encobrir os reais motivos para a não instalação em concelhos perto da capital de delegações. E, em termos de custo, todos sabem quanto as tecnologias vieram revolucionar as práticas outrora onerosas. Quem fala da Rádio, di-lo, indiferentemente da TCV. Referindo–se, ainda, à cobertura da Declaração da UNESCO é de se lamentar o papel desempenhado pelos órgãos comunitários que, fracos de recursos e meios, não puderam dar as suas populações locais o pulsar sentido na Cidade Velha.

Embora a avaliação seja positiva é de se esperar que esta dinâmica sirva de exemplo aos decisores: é possível fazer mais e melhor. Outrossim, a cobertura mediática colocou a nu a necessidade de os Órgãos se empenharem na especialização dos seus Jornalistas, promovendo a devida formação.

Elisângelo Ramos