Pertence ao
então secretário de Estado, Corsino Fortes, a ideia de criação de uma televisão
nacional neste arquipélago. Um órgão de comunicação que pudesse funcionar como
uma “janela para o mundo, um balcão
avançado da afirmação de Cabo Verde como povo, como Nação, como Estado, na
intermediação entre a sociedade civil e a sociedade politica.” O país
precisava romper o isolamento, abrir-se ao mundo e dar a conhecer a paisagem
humana e cultural das ilhas.
A televisão
nacional da Islândia - um país, na altura, com uma população quase idêntica a
de Cabo Verde, em torno de 250 mil habitantes – com um quadro de pessoal
diminuto (30 pessoas), que se dava ao luxo de suspender todos os anos, durante
um mês, as suas emissões, foi um caso de estudo e serviu de inspiração para a
instalação daquela que viria a ser conhecida por TEVEC.
Um
primeiro obstáculo para o arranque do projecto prende-se com a inexistência de
um espaço físico adequado às necessidades de funcionamento da televisão, de
molde a permitir a sua expansão futura. A ideia de aproveitar as instalações da
Emissora Nacional, no plateau, onde funcionara o Banco Nacional Ultramarino e a
SAGA, sociedade de abastecimento de géneros alimentícios (actual sede do BCA),
depressa foi rejeitada devido à exiguidade do espaço. A alternativa passa por se ocupar as
instalações da Marconi (correios de Portugal), na Achada de Santo António, que para
o efeito receberam obras de melhoramento com vista a adequá-las às necessidades
da futura televisão oficial. Decidida a localização, urgia começar com alguns
testes de transporte do sinal. O Engº Alírio Vicente fala de algumas
experiências de campo. “Por exemplo,
houve uma primeira experiência de envio de sinal para S. Vicente com um emissor
de 10 Watts através do Monte Bidela, sobranceiro a S. Domingos, no dia 26 de
Agosto de 1983. Portanto já era possível fazer a televisão.”
Como
principais financiadores do projecto, França e Portugal impõem à TEVEC a
adopção do sistema misto PALL/SECAM, exigência que Cabo Verde não estava em
condições de recusar. No entanto, a A TEVEC viria a uniformizar o sistema, que
se revelava bastante dispendioso, obrigando a um desgaste dos equipamentos e
cassetes, para além da perda de tempo com transcodificação dos programas que
recebia. A partir de 1988, a produção passou a ser em PAL até à mesa de mistura,
continuando a difusão a fazer-se em SECAM.
É de justiça reconhecer que a insuficiência de equipamentos limitava
sobremaneira o trabalho dos técnicos que, ainda assim, contornavam os
constrangimentos com uma profunda entrega e dedicação, num verdadeiro espírito
de missão e de “amor à camisola”.
Os
testes de emissão, destinados a avaliar
a qualidade da imagem, começaram em Fevereiro de 1984. As pessoas que se
aperceberam da novidade mostraram-se bastante satisfeitas e ansiosas pelo
início regular das transmissões, o que iria acontecer a 14 de Março do mesmo ano.
Nesse dia de expectativa, emoção e nervosismo para muita gente, a transmissão foi
basicamente constituída pela apresentação do logótipo da TEVEC, seguido de
imagens de cabo-verdianos residentes em Portugal, cedidas pela RTP, um espaço de informações locais e fecho de
emissão.
Inicialmente
a emissão da televisão experimental tinha a duração de apenas duas horas (das
seis às oito da noite), acontecia duas vezes por semana, às terças e
quintas-feiras, e a cobertura limitava-se à cidade da Praia e algumas
localidade do interior de Santiago, graças a um retransmissor colocado no Monte
Chota. No final desse ano, que marca a história audiovisual do país, a TEVEC
aumenta para quatro o número de emissões, incluindo aos domingos, sendo que uma
delas era dedicada a uma noite de cinema, resultado de uma parceria com
Instituto Cabo-Verdiano do Cinema. A oferta de conteúdos é ainda bastante pobre
e a programação resume-se a desenhos animados, documentários (com destaque para
os da Transtel, da Alemanha), o telejornal e a telenovela da Globo (Bem Amado).
A emissão era toda ela gravada e enviada para S. Vicente e Sal, onde seria
transmitida com um dia de atraso.
A
história da televisão a nível mundial mostra-nos que ela nasce como um apêndice
da rádio: herda-lhe os profissionais, aproveita parte dos seus recursos
técnicos, adapta os seus conteúdos e adopta o seu modelo de funcionamento. Por
estas bandas, a estratégia parece ter sido a mesma. Não havendo profissionais
especializados na área televisiva, nomeadamente, técnicos, produtores,
realizadores e operadores de imagem, a comissão encarregada de pôr a funcionar a TEVEC, vai buscar à
rádio, em 1983, um total de 13 pessoas, num claro sinal de aposta na prata da
casa. Mas houve também gente que transitou da imprensa escrita para a
televisão. Depois de oito anos no semanário “Voz di Povo”, a jornalista Gunga
Tolentino viria a ser a primeira apresentadora da novel televisão. “ A televisão era uma sala, com dois ou três
ecrãs e um monitor para fazer montagem. As imagens eram trazidas dos correios,
as notícias vinham em francês ou em inglês. Às vezes nem se ouvia a voz, era só imagem. Tínhamos
que pegar nas notícias de telexes de algumas fontes, ajustá-las às imagens e
fazer a tradução para o português.”
Depois
de ter transmitido a Copa do Mundo de 86, realizada no México, cobrindo quase todo
o território nacional, a televisão oficial iria conhecer a sua primeira
paralisação, dois dias após ter comemorado
com uma programação especial mais um aniversário da independência nacional. A
direcção do órgão justificava a suspensão da emissão com a necessidade de
manutenção, avaliação e reforço dos equipamentos. Prometia igualmente
aproveitar a pausa para definir uma nova programação, “mais adequada ao momento
actual e mais inserida na realidade
nacional” e reflectir sobre o caminho percorrido, bem como os desafios que
não se adivinhavam fáceis.
Oportunidade
que seria aproveitada para a formação e estágio dos recursos humanos. Em
entrevista ao “Voz di Povo”, o director da TEVEC, João Pires, anuncia que
alguns profissionais se encontravam em formação na RTP/Lisboa e RTP/Porto, na
TVGlobo, no Brasil, e em França, nas áreas de apresentação do telejornal, continuidade,
reportagens especializadas em questões rurais, produção, programação, gestão
administrativa e financeira, cenografia, montagem, som, régie, montagem e
manutenção de televisores a cores, etc. O investimento na capacitação dos
quadros tinha como propósito o aumento da produção de conteúdos nacionais, uma
obrigação da televisão pública que continua ainda aquém das expectativas dos
cidadãos.
Sendo
um serviço personalizado do Estado, sob a tutela directa do Governo, a
informação, longe de espelhar as preocupações do quotidiano das pessoas,
centrava-se na agenda do Governo que, em traços gerais, visava afirmar e
consolidar a independência nacional. No fundo, a comunicação social e,
especialmente a televisão, devido à carga simbólica de que se reveste a sua
narrativa, era uma “caixa de ressonância ideológica” do partido-Estado. A
censura estrangulava qualquer veleidade de se fazer um jornalismo crítico e
rigoroso. “Lembro-me que depois de o
telejornal estar preparado e de irmos para o estúdio, o nosso director recebia
uma chamada do secretário de Estado ou
do ministro da Informação, onde ele tinha que ler ao telefone a ordem e as
notícias que íamos apresentar e algumas vezes vinha com propostas de alteração
que raramente aceitávamos, como era natural” (Entrevista:Gunga, 2009). E assim iria manter-se a TEVEC, até se transformar na Televisão Nacional de Cabo Verde, em 1990.
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