sábado, novembro 24, 2012

Câmara Municipal ameaça assaltar a rádio Sodade


A Associação Comunitária do Tarrafal (ACAT), através da coordenadora da Rádio Sodade FM, vai processar o presidente da Câmara do Tarrafal de São Nicolau, José Freitas, bem como o seu assessor de imprensa, Alírio Cabral Gomes, e o vereador de Infra-estruturas, Elton Sequeira. Manuela Gomes acusa estes responsáveis camarários de “invasão” do espaço com a desculpa de que este pertence ao executivo camarário, tentativa de subtracção dos equipamentos e ameaça de troca da fechadura. Esta celeuma atraiu a atenção dos tarrafalenses que se uniram para obrigar a comitiva de José Freitas Brito a recuar. Mas a Câmara do Tarrafal não desiste e garante que vai retirar os seus equipamentos de qualquer forma porque a “rádio comunitária está a ser instrumentalizada pelo PAICV".

É a segunda vez que a actual equipa da Câmara do Tarrafal ganhou as eleições tenta “apropriar-se” da Rádio Sodade FM, denuncia Manuela Gomes. Mas desta vez, diz, foram mais agressivos. “Há algum tempo enviam cartas à coordenação da Rádio exigindo a feitura de um inventário. Mas a direcção decidiu que só atenderá esta exigência da CM mediante uma ordem do Tribunal de S. Nicolau. Chateados, sobretudo depois de fracassada a primeira tentativa de invasão, tentaram por força levar os equipamentos da Rádio”, denuncia Manuela Gomes.
A coordenadora da rádio comunitária Sodade FM conta que o edil José Freitas e comitiva chegaram à Rádio Comunitária, situada no Centro da Cidade e pediram para falar com a responsável. “O assessor do presidente foi logo avisando que tinham ido buscar os equipamentos da rádio e mudar a fechadura da porta. Respondi-lhe que a palavra ´buscar` era forte, porque os equipamentos pertencem à Rádio, que é propriedade de uma associação autónoma”, relata.
De imediato, prossegue a nossa entrevistada, o assessor corrigiu-se e respondeu que estavam lá para pedir emprestado os equipamentos, sem explicar a que propósito, e trocar a fechadura, alegadamente porque o espaço onde funciona a rádio pertence à Câmara Municipal. “Proibi qualquer acção do grupo. Houve uma acalorada discussão, envolvendo o coordenador do Centro da Juventude, João David Gomes, e o vereador de Infra-estruturas, Elton Sequeira, que por pouco não chegou a vias de facto, porquanto o primeiro alegou que o espaço foi cedido pela CM ao Ministério da Juventude, através de um protocolo, pelo que terá de ser a tutela a solicitar que desocupem o centro”.
Envolvida na celeuma, a secretária da Rádio Sodade, Marlene Conceição, foi atingida por uma chave de fenda. Ferida, Conceição dirigiu-se ao Centro de Saúde, para fazer um curativo, e foi depois à PN apresentar uma queixa contra o vereador Sequeira, por agressão. “Toda esta confusão aconteceu na hora do jornal das 12 horas e os factos foram relatados para os nossos ouvintes, que se amontoaram à porta da Rádio. Muitos deles envolveram-se na contenda. Por causa da presença dos populares, o presidente e os seus pares optaram por se retirar. Mas sabemos que vão regressar pelo que decidimos recorrer ao tribunal para resolver de vez esta questão. Não vamos aceitar que assaltem a rádio apenas porque querem impedir o seu funcionamento. Estão a tentar silenciar-nos para não denunciarmos a má gestão da Câmara”.
Câmara quer os equipamentos
A CM reage dizendo que os equipamentos da rádio são património autárquico tarrafalense. O assessor de imprensa do presidente, Alírio Cabral Gomes, lembra que na sua primeira sessão extraordinária a CM revogou a doação dos equipamentos à ACAT, por esta ter sido feita num prazo ilegal pela anterior gestão, nas vésperas das eleições autárquicas. “A doação foi feita a 9 de Maio. Este processo carece de um despacho a autorizar a doação, como recomendam as boas práticas da Administração Pública. A actual gestão camarária não encontrou nada. Entretanto, no mesmo despacho em que se revogou a doação, foi deliberado a elaboração de um inventário dos equipamentos, que são património do município, ficando estes em uso na Rádio Sodade FM”, diz.
O assessor do presidente admite que o alvará de funcionamento da rádio é da ACAT, mas lembra que os equipamentos são da CM. Na busca de um equilíbrio, o assessor diz que Brito propôs à ACAT que criassem uma Comissão de Gestão da Rádio, – com representantes das partes e um membro da sociedade civil – que seria responsável por definir a política de gestão e funcionamento da “Sodade FM”. “A CM decidiu também assumir a formação dos profissionais da rádio porque sabemos que as associações comunitárias enfrentam dificuldades. Mas a ACAT negou a assinar um protocolo com a CM. Então, à revelia da ACAT, decidimos fazer o inventário dos equipamentos. Na primeira tentativa, fecharam-nos a porta”, informa.
Inconformada, segundo Alírio Cabral Gomes, a CM apelou à Polícia Nacional, mas esta negou ajuda alegando não ter autorização para acompanhar a equipa autárquica. A Procuradoria também recusou ajuda, argumentando que não tinha legitimidade para escoltar o autarca na missão de inventariar os equipamentos da rádio à revelia. “O MP tem a obrigação de proteger os interesses da CM, mas recusou. Sem alternativa, decidimos então avançar porque o edifício pertence à CM e os equipamentos também. A rádio está instrumentalizada. Vamos recuperar os equipamentos de qualquer forma. Só não fizemos isso porque juntou muita gente e a CM entendeu recuar”, finaliza Cabral Gomes.
Constança de Pina

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