Permita-nos, antes de mais, agradecer-lhe por este gesto simbólico, mas de transcendente importância. Quis V. Excia no momento em que se prepara para deixar o cargo de mais alto Magistrado da Nação, distinguir os jornalistas e a imprensa cabo-verdiana. Um reconhecimento que é a um tempo motivo de regozijo e de orgulho, mas igualmente um factor de estímulo e de motivação para continuarmos a cada dia que passa a exercer com rigor, honestidade profissional e responsabilidade social a missão de informar.
Com efeito, é através de uma imprensa séria, livre e independente que o cidadão materializa a garantia constitucional de informar, de se informar e de ser informado.
Ao contrário daqueles que procuram em vão obnubilar, apoucar o contributo que os meios da comunicação social deram (e vem emprestando) para o reforço da coesão nacional, dos valores identitários, e para processo de desenvolvimento, V. Excia na justa expressão da experiência e da sabedoria a que já nos habituou achou por bem reconhecer à imprensa e aos jornalistas o seu lugar na marcha impagável da história.
Com este gesto, o Sr. Presidente da Republica, faz também justiça a uma plêiade de homens e mulheres que através do poder da imprensa ergueram bem alto o seu grito de revolta procurando afirmar os traços e os valores que nos distinguem como Nação. É consabido que é através da imprensa que a elite cabo-verdiana decidiu “posicionar-se de forma inequívoca contra o facto de estar a ser preterido nas tomadas de decisão locais e contra o que considerava ser o completo abandono dos filhos da terra.
Parece-nos oportuno evocar a memória de grandes nomes das letras e do jornalismo cabo-verdiano que ficaram indelevelmente marcados na gesta da formação da cabo-verdianidade. Embora não tenham chegado a ser profissionais do jornalismo, por várias razões de entre as quais a pobreza do meio e sobretudo os caprichos da política, orgulhamo-nos de ser os herdeiros do legado de Eugénio Tavares, Luís Loff de Vasconcelos, José Lopes, Pedro Cardoso, Abílio de Macedo, Jaime de Figueiredo, Felix Monteiro, Bento Levy e muitos outros…
A informação – dizia V. Excia ao Jornal Voz di Povo, em 1979, “ não deve ser inocente, quer dizer apartidária, não tomar nenhuma posição, não ter nenhum objectivo (…) o jornal, se tem alguma função – acrescentava – é a de ajudar o governo de Cabo Verde, ajudando os nossos compatriotas a compreender melhor os nossos problemas, as nossas dificuldades, o que vai pelo mundo e o valor das nossas decisões. Se não formos capazes disso, na velará a pena informar, porque o jornal será um jornal estrangeiro”.
Esta visão está em sintonia com o contexto em que mundo se mergulhava, de um profundo desequilíbrio na circulação de notícias entre o Norte e o Sul. A Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação, nascida sob a égide da UNESCO visava tornar bidireccional o fluxo de informação. Vivia-se o tempo do jornalismo de desenvolvimento que encerrava uma outra concepção da notícia: a imprensa devia cooperar com os esforços de desenvolvimento nas jovens nações surgidas após a descolonização, utilizando a informação como recurso nacional e meio de educação.
É nesta visão pedagógica, positiva e militante da imprensa que irão trabalhar muitos jornalistas, alguns dos quais se encontram hoje nesta sala.
Nem de propósito, no seu livro de memórias recentemente dado a estampa, o jornalista Fernando Carrilho lembra o contexto social e politico em que se inseria a comunicação social, destacando o papel de mobilização e de consciencialização para a grande jornada política ideológica com vista à independência.
Apesar do tempo, o pensamento de Eugénio Tavares sobre o papel da imprensa continua actual. Hoje – dizia – ela (a imprensa) é um dique ao despotismo dos governos e das autoridades quando pretendem sair da orbita da lei; o sustentáculo das liberdades adquiridas à custa de tantos trabalhos e sacrifícios e um baluarte de abrigo para os perseguidos.
Da geração a que pertenço, e que se afirmou na profissão na década de 90, espera-se o exercício de um jornalismo moderno; que estimule os níveis de participação dos cidadãos na rés pública; que coloque no centro da agenda mediática os temas e os assuntos que preocupam o dia a dia dos cabo-verdianos; que não seja simples “pé de microfone”, mas crítico e acutilante, sem ser cínico; que não seja “mera correia de transmissão ou caixa de ressonância”, mas sim agressivo na boa acepção da palavra, investigativo e vigilante… nunca é de mais lembrar que não existe democracia sem uma imprensa livre, forte e independente. Seremos, pois, os novos “cães de guarda” da democracia e do Estado de Direito.
Terminamos agradecendo uma vez mais a amabilidade de V. Excia em reconhecer o desempenho de Homens e Mulheres do jornalismo e da imprensa na afirmação deste Cabo Verde independente. Auguramos-lhe a si, à sua família e a todos quantos estiveram ao seu lado ao longo destes 10 anos na liderança da Nação Cabo Verde, as maiores felicidades.
Carlos Alberto dos Santos
- Jornalista -
- Jornalista -
Pelo que me é dado a perceber, o Presidente Pedro Pires sempre procurou - desde a luta pela Independência - dizia, sempre procurou nos Jornalistas um aliado (entenda-se para o desenvolvimento). Calcorreamos juntos este país e foi imenso prazer tê-lo por perto. Fartamo-nos de rir e de saudar. Parabéns pelo Prêmio com que agora é agraciado e obrigada pelo carinho de longa data. Bem haja!!!
ResponderEliminarParabéns pelo prémio e pelo discurso. Também gostei da carta anónima que escreveste ao PCA da RTC, pena que tenha sido anónima, porque o pessoal da Rádio não se cansa de dizer em todos cafés desta Achada de Santo António que o texto é teu. Porque nã publicar a carta aqui????
ResponderEliminarDasaev