Ao que tudo indica, os debates eleitorais vieram para ficar. Será porventura um sinal de que o espaço público mediatizado começa a despontar. Com efeito, o debate político assume uma importância acrescida em períodos eleitorais, sempre que estão em causa pessoas e programas.
Os debates, tal como as entrevistas, são peças essenciais da comunicação e do marketing políticos. De tal modo assim é que, de há muitos anos a esta parte, os políticos com ambição e sentido da realidade fazem-se acompanhar de especialistas em imagens e comunicação, os chamados spin doctors, a que normalmente reconhecem os seus êxitos ou responsabilizam pelos fracassos.
No entanto, o facto de a maioria dos candidatos presidenciais ter alegado imperativos de agenda para não participar nos debates dois a dois, frente a frente, na rádio e na televisão, o que daria pelo menos umas seis rondas, significa que os actores políticos ainda não se renderam ao poder cada vez crescente dos meios de comunicação social enquanto instâncias, por excelência, de formação de opinião. Condição imprescíndivel para que os cidadãos exerçam o seu direito de voto de forma esclarecida.
Para além de ser pouco esclarecedor, o modelo de todos contra todos, que assistimos no dia 6 de Julho, é cansativo e pouco atractivo para os telespectadores e ouvintes. É, infelizmente, o formato possível a que se terá chegado depois de várias sessões negociais, sempre complexas, entre os candidatos e as direcções da rádio e televisão públicas. De todo modo penso que o direito à informação deve prevalecer sempre em qualquer circunstância.
Ademais, é sabido que quando existem dois candidatos próximos um do outro nas sondagens, como parece ser o caso, o formato de um debate alargado a quatro candidatos é, em princípio, desfavorável ao candidato que num determinado momento mais tem que lutar pela vitória. Aquilo que lhe interessa é fixar o diálogo com o seu adversário mais forte. Mas isso não é possível porque uma mesma pergunta, que pode ser formulada de diferentes maneiras, tem forçosamente de circular pelos vários intervenientes no programa. Isso significa que entre a resposta do primeiro candidato chamado a pronunciar-se e a resposta do último decorrem, em média, dez minutos. É muito tempo que gera impaciência e nervosismo.
Ora, nas sociedades modernas, mais do que nunca, é na televisão que a classe política procura afirmar a sua credibilidade, fazer passar as suas mensagens, atrair votos e derrubar adversários. É a televisão que lhe dá visibilidade e protagonismo. É muitas vezes na televisão que se decide o desfecho eleitoral ou que se determina o fim de uma carreira.
Pode-se dizer que, salvaguardando a especificidade de Cabo Verde, os políticos encontram-se reféns dos media. Os eleitos passaram a viver sob a vigilância permanente da opinião. Por estas bandas, porém, a sobranceria com que por vezes alguns políticos e outros actores que intervêm na esfera pública olham para a comunicação social, continua a fazer escola. Na maior parte das vezes, quando chamados pelos jornalistas para reagirem ou se pronunciarem sobre um determinado assunto de interesse público, declinam o convite ou nos remetem para as famigeradas conferências de imprensam do dia seguinte. Quantas pessoas com responsabilidades na gestão da coisa pública e, por isso, obrigadas a prestar informações e contas aos cidadãos não se recusam a falar para a comunicação social? Quantas não se mostram indisponíveis, em cima da hora, depois de já terem reconfirmado a sua participação, em participar em programas de entrevistas e debates? Entre nós ainda são os media que vão a reboque dos objectivos, estratégias e caprichos dos políticos. Até quando?
Mas não nos iludamos, cada vez mais é na televisão que a classe política procura afirmar a sua credibilidade, fazer passar as suas mensagens, atrair votos e derrubar adversários. É a televisão que lhe dá visibilidade e protagonismo. É muitas vezes na televisão que se decide o desfecho eleitoral ou que se determina o fim de uma carreira. A necessidade que os políticos têm de aparecer na televisão alterou radicalmente a natureza do capital necessário para terem êxito na política.
Na verdade, a televisão introduziu velocidade ao discurso político porque o tempo é nela um bem raro. A pressão do tempo sobre os jornalistas e políticos é constante. O tempo condiciona perguntas e respostas. A televisão impôs, por isso, a frase curta, as palavras curtas e a voz activa, porque é esse o registo da oralidade. Determinou que a uma frase correspondesse a apenas uma ideia para melhor e mais fácil inteligibilidade da mensagem, dada a heterogeneidade do público. A televisão obrigou assim os políticos a reavaliarem a utilização das palavras e a agirem em função da semântica da imagem.
continua…
Não é bem assim! A pré-campanha é marcada por uma entrevista da RFI do jornalista João Matos a Manuel Inocêncio, entrevista retomada e citada por todos.
ResponderEliminarO jornalista voltou a repetir a dose com entrevista a Jorge Carlos Fonseca também largamente citada e agora com Aristides Lima:
http://www.portugues.rfi.fr/africa/20110711-aristides-lima-fala-em-paris-da-sua-candidatura-presidenciais