quinta-feira, maio 21, 2009

Troca de Galhardetes

“Troca de Galhardetes” é um "encontro" de dois profissionais de rádio com o mesmo horário de antena, mas de estações "concorrentes". Cada um aceita o desafio para fazer duas perguntas ao outro e mostrar a sua disponibilidade para responder às questões que lhe colocaram.

Assim, o encontro deste mês é entre João Paulo Meneses da “TSF” e Carina Costa da “M80”. Trata-se de uma iniciativa inédita a que o KRIOL RÁDIO adere, devendo apostar nos próximos tempos numa versão mais adaptada à realidade cabo-verdiana.



João Paulo Meneses: Tens noção de que a rádio que é basicamente um giradiscos de «playlists» está progressivamente ameaçada pela concorrência digital (desde os iPods aos «cotonetes»)? De que forma achas que podes fazer melhor do que os meus canais no Cotonete?

Carina Costa: Sim, a rádio gira-discos, está francamente ameaçada pela concorrência digital e acho que a médio prazo, será mesmo esmagada.

Há sempre quem prefira ouvir rádio, é certo, em vez usar o leitor mp3, ou iPod, mas acho que se uma rádio não tiver mais para oferecer ao ouvinte do que umas quantas músicas boas, então não faz melhor que os teus canais do cotonete, onde garantidamente, sabes que encontras todas as músicas que gostas, até porque foste tu que as escolheste.:)

Como animadora\ locutora\ comunicadora, posso fazer melhor que as “tuas músicas”, sim. Ao acrescentar a parte humana, posso potenciar as tuas músicas, fazer-te sonhar, vibrar, acompanhar-te no teu dia-a-dia, indo ao encontro da tua vida, das coisas comuns, das coisas que te fazem feliz e as que te entristecem, e se calhar, no final da semana, ou do dia, quem sabe?! Encontraste, ali naquela rádio, alguém que, mesmo que não conheças pessoalmente, se torna mais uma amiga, alguém que tem uma música boa para partilhar contigo, uma notícia de última hora, um desabafo sobre o tempo, enfim, alguém que sente e vive como tu, alguém com quem tens vontade de estar e de conhecer melhor.

Podes até nem gostar de mim, daquilo que te transmito ou dou a conhecer, mas se te irrito, se tenho um sentido de humor muito ácido, se mexo contigo, acredito também que terás vontade de voltar a ligar o rádio no dia seguinte.

Carina Costa: Há quem defenda que os profissionais de rádio, não ouvem rádio da mesma maneira que o ouvinte comum. Como jornalista, quando ouve notícias na rádio consegue pôr de lado o seu ouvido clínico?


João Paulo Meneses: Impossível. Deformação profissional. Nas férias opto, até, por não ouvir, para tentar afastar-me da vertente profissional. Porque ouvir notícias em rádio é ouvir as notícias em si próprias mas também a rádio, a sua linguagem, a sua maneira de fazer, etc (e este lado critico é muito acentuado)


João Paulo Meneses: Achas que a rádio musical está, genericamente, nas mãos das editoras?

Carina Costa: Quando estive numa rádio local, lembro-me de nos queixarmos da negligência das editoras. Enviavam-nos os singles que bem entendiam, e que nem sempre tinham alguma coisa a ver com o perfil musical da estação. “Nas rádios grandes é que era!!” Dizia-se até que algumas editoras tinham listas pagas que, dependendo do contrato e do dinheiro envolvido, determinavam quais as músicas e os artistas que deviam passar naquela rádio e até quantas vezes por semana.

Nunca vi, nem tive conhecimento de tal coisa. Há reuniões, sim. A editora aconselha novas músicas e artistas, as supostas melhores músicas, mas é a rádio que decide, tendo sempre em conta o seu formato musical e o público-alvo.

Com a revolução tecnológica, o aparecimento da Internet, e as novas plataformas de partilha de música, myspace e afins, e até mesmo através de anúncios, conhecemos mais música, mais artistas, alguns amadores que nem têm contrato com uma editora, e que de repente passam a ser um sucesso, um fenómeno, que toda a gente começa a conhecer, cantar e quer ouvir mais e mais… neste sentido, acho que hoje em dia podemos dizer que a rádio musical está, cada vez mais, na mão dos ouvintes.

A rádio está (tem de estar!) atenta a estes fenómenos. Vivemos tempos de mudança…


Carina Costa: Com o aparecimento da Internet, e com a vertiginosa velocidade com que a informação circula hoje em dia, considera que a rádio passou para segundo plano ou tem conseguido tirar partido da situação e com a sua constante adaptação será um meio ainda mais forte no futuro?


João Paulo Meneses: A rádio está com alguma dificuldade em se adaptar aos novos tempos, sobretudo a rádio musical, ameaçada, entre outros, pelos iPods e «cotonetes»; não acredito que seja um meio ainda mais forte mas acredito que a rádio musical pode sobreviver. Depende também de vocês, que fazem a rádio musical, todos os dias, adaptarem-se aos novos tempos que estão a chegar.

1 comentário:

  1. CV deixou de ser uma província portuguesa; interessa mais dar a palavra à prata da casa.

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