quarta-feira, junho 10, 2009

A Rádio em 2018


A rádio do futuro vai ter novos conteúdos mas também novas ferramentas que visam potenciar o interesse/desejo dos utilizadores pelo controlo da emissão (emissão, tal como hoje conhecemos, eis outro conceito em profunda crise no futuro). Ou seja, dar mais poder aos receptores. A de palavra manter-se-á no limite sob o controlo dos editores, na de música esse poder será sucessivamente alienado.

Poder para quê? Para escolherem esta ou aquela música, para decidirem em que dia e a que hora ouvem, para manipularem determinado programa (seleccionando apenas o que lhes interessa), para recusarem uma notícia/assunto em concreto, para participarem na decisão dos temas (editoriais ou musicais), para apresentarem as suas próprias produções, para se recomendarem e partilharem uns com os outros, para se fazerem ouvir, em suma.

«Os jovens não querem depender de uma figura divina e superior que lhes diga o que é importante. (…) Querem controlar os seus próprios meios de comunicação, em vez de serem controlados por eles». Quem disse isto? Rupert Murdoch em 2005!

Aos actuais arquivos e podcasts (sobretudo à actual ferramenta das «tags»), associaremos inúmeras propostas de interactividade (em fóruns, votações online, perguntas a fazer, convidados a sugerir, comentários a enviar) que tornarão o ex-ouvinte, agora utilizador, um elemento muito mais activo. Dir-se-á que a Internet já potencia, neste momento, essas ferramentas e que nem por isso elas são visíveis.
Na verdade ainda estamos na fase em que há mais conteúdos online que interessam a quem trabalha na rádio do que propriamente a quem a ouve. Não significa isto que uma biografia ou uma foto de determinado animador não possam satisfazer a curiosidade de alguns, mas limitar as potencialidades da Internet a esse tipo de informação é como ter um F1 mas não passar dos 40 quilómetros por hora.

Isto resulta de uma conjugação perigosa, o receio do que pode significar a Internet com a resistência geracional de quem tem o poder de decidir (e não estou a referir-me apenas aos gestores, mas também aos próprios operacionais, jornalistas e animadores, que continuam a resistir).

De acordo com dados da consultora JPMorgan relativos a Dezembro de 2007, 21 milhões usaram o serviço de música da Yahoo e quatro milhões de norte-americanos consultaram o serviço Pandora (ambos permitem a personalização das escolhas musicais, sendo que este último é só para residentes nos EUA), com crescimentos mês após mês. Enquanto isso, a rádio convencional teve um ano de estagnação.

Ou seja, é só uma questão de tempo até que se perceba que os ouvintes querem participar, querem fazer, querem decidir. Quando isso estiver assimilado, assistir-se-á à generalização dessas ferramentas que se revelarão tão importantes quanto os próprios (novos) conteúdos e será a própria industria a pedir/exigir que os ouvintes se envolvam cada vez mais.

Outra tendência: perante tanta oferta online, será importante perceber que uma coisa é ter o controlo, outra a escolha (ou o excesso, que pode provocar o paradoxo da escolha, como escreveu Barry Schwartz). Demasiadas opções significam confusão, incomodidade e distracção. O Google ou o iPod são bons exemplos de como as coisas não se devem confundir.

Se sempre se aceitou que são os conteúdos que fazem a diferença, há que juntar algo para um novo paradigma. E como se lia num artigo de 2006 da Billboard Radio Monitor, «temos de dar ao ouvinte oportunidades para sentirem que têm algum controlo sobre o que nós fazemos. Os ouvintes precisam de saber que são eles que fazem a diferença». Antes ganhava quem tinha os conteúdos (a indústria); no futuro irá ganhar quem tiver o controlo - os consumidores. As pessoas são a mensagem…

Mais interactividade mas menos comunicação, como defende Dominque Wolton («Não é por se passar a vida em interactividade na rede que se comunica mais, ou melhor»)?
Por: João Paulo Meneses
blogouve.se@gmail.com


Fonte:Casa Dos Jornalistas

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