segunda-feira, novembro 16, 2009

Os Integrados

Tenho recebido, com insistência inusitada, apelos de alguns colegas e amigos para que continue a partilhar as minhas reflexões sobre a comunicação social cabo-verdiana através do meu blogue.

É claro que estes sinais de encorajamento não me deixam indiferentes, por os reconhecer verdadeiros, porquanto – e digo-o sem quaisquer veleidades - os media cabo-verdianos não são (nunca foram) terreno apetecível para críticos, académicos, investigadores e muito menos para opinion makers. Quanto aos políticos, com raríssimas excepções, quando se dão ao trabalho de vir ao espaço público, na maior parte das vezes, fazem-no com o estrito propósito de criticar, do tipo deitar a baixo e meter todos os órgãos e jornalistas no “saco de larau” da mediocridade.

Quando criei o KRIOL RÁDIO, com as especificidades de um blogue temático virado, não apenas para a rádio, mas para a análise da paisagem mediática cabo-verdiana (quanta pretensão!!!) não me dei conta de que estava a entrar num debate que ainda permanece aceso e que se prende com o papel e a importância das novas tecnologias de comunicação e informação, de um modo geral, na consolidação da democracia dos nossos dias.

De momento não me parece oportuna entrar na liça, em que se perfilam, de um lado, aqueles que ostentam posições mais convencionais, os “apologistas da sociedade de informação” e do extremo oposto, os cépticos, com os seus cenários mais ou menos catastróficos sobre o futuro tecnológico das nossas sociedades.

Se tivesse que clarear a minha posição nesta contenda, teria que me alinhar ao lado dos integrados, para utilizar a expressão do italiano Umberto Eco. E isso por considerar a Internet um instrumento democrático altamente idealizado, em detrimento dessa visão redutora que vê nas novas tecnologias uma força demoníaca, capaz de destruir a cultura democrática profundamente enraizada na nossa actual experiência politica e social.

Igualmente não me parece sensato neste post embrenhar-me nos desafios que a Internet veio colocar aos jornalistas e aos media. Nem pretendo, com ligeireza, discorrer sobre o jornalismo cidadão ou participativo, uma corrente hoje muito em voga, e que tem nas novas tecnologias uma ferramenta altamente eficaz.

Há quem considere que há possibilidades para todos neste processo: para o jornalista, para o produtor de informação (fonte) e para o activo “consumidor” de notícias que não está satisfeito com o produto actual – ou que deseja produzir algumas notícias, também.

É verdade que a vulnerável profissão de jornalista encontra-se num momento raro da sua história de séculos, no qual, pela primeira vez, a sua hegemonia como gatekeeper de notícias está ameaçada, não apenas por novas tecnologias e novos concorrentes, mas, potencialmente, pela própria audiência que serve. Armada com ferramentas da Web fáceis de usar, conexões permanentes e equipamentos portáteis cada vez mais eficientes, a audiência online tem os meios para se tornar um activo participante na criação e disseminação de notícias e informações. O problema é que está a fazê-lo justamente na Internet.

Pois bem, estamos de novo na estrada. No entanto, lembro que o KRIOL RÁDIO não pretende ser um projecto pessoal, uma espécie de bloco de notas ou agenda (porque fica refém da minha disponibilidade), mas sim um espaço público para a análise e o debate do fenómeno da comunicação social em Cabo Verde. A imprensa, no seu sentido lato, é um assunto demasiado importante para estar apenas nas mãos dos políticos!


2 comentários:

  1. O problema é que apesar desses incentivos a pergunta que se impoe é: porque nao vêm esses jornalistas expor e reagir também? SE os proprios jornalistas nao conseguem sequer utilizar pseudonimos quem sao entao os seus putativos interlocutores, debatedores?!

    Kakói

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  2. Eu acho que o conceito de integrados de Umberto Eco tem outro contexto; não se enquadra no desenho deste texto. Mas bom por que não se na maior parte das vezes temos a tendência para confundirmos o bico da obra com a obra do bico?!

    Por exemplo tento participar neste espaço público no sentido que Habermas deu a este conceito mas oiço brasileiro de um palestrante brasileiro falando (eu diria a falar) na Radio nacional de Cabo Verde. De repente questiono o entusiasmo do brasileiro a querer que o caboverdiano fale brasileiro.

    Digo brasileiro porque é mesmo brasileira a lingua inventada pelos brasileiros; é uma lingua com uma cultura propria diferente da lingua portuguesa, do português europeu, mais proximo do português falado pelo caboverdiano que foi para a escola. Descubro que me meti noutro beco, porque também ouvi na mesma Radio Nacional crioula um português que fala assiduamente vendendo o seu português ao meu povo crioulo que ainda nao conseguiu inventar a sua propria lingua.

    Pergunta-se entao: para quê um espaço publico sem uma lingua propria, sem conceitos proprios? Tudo o que temos nesta terra nao é nosso; é tudo copiado; o português do português, o brasileiro do brasileiro, o crioulo do badiu, do alupec, do sampadjudu. O espaço publico é nosso ou importado? E' integrado ou desintegrado?

    Somos definitivamente uns eternos colonizados! Pelo menos aqueles (que sao a esmagadora maioria) que foram escolarizados citando e recitando autores e conceitos de colonialistas. Repetimos tudo de povos colonialisas. Todos, sobretudo brancos, querem-nos colonizar; querem esmagar os nossos lóbulos cerebrais, tornando-nos seres inanimados!

    Ninaja

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