terça-feira, julho 21, 2009

OS DIAS DA RÁDIO

Nuno Sardinha (RDP-África) e Carlos Santos (RCV)
O último inquérito à satisfação e audimentria dos órgãos de comunicação social traz alguns dados que nos interpelam a uma reflexão crítica aturada. Tarefa que cabe a todos, profissionais, ouvintes, leitores e telespectadores mas, sobretudo, aos responsáveis pela gestão dos órgãos.

Não é minha intenção fazê-lo neste blogue. De todo o modo, apraz-me tecer alguns comentários, tendo, desde logo, como ponto de partida, os resultados da pesquisa sobre as rádios.

Uma vez que a pesquisa se realizou em Março deste ano, não se percebe por que não existem, em todo o estudo, quaisquer referências à RCV+, o canal jovem da Rádio de Cabo Verde. Espera-se que a direcção da RCV tenha já requerido explicações plausíveis à Direcção Geral da Comunicação Social, promotora do estudo, e que esteja em condições de no-las apresentar.

A RCV+ está no ar desde os finais de Dezembro de 2007, tem uma programação própria, de 24 horas non stop, dirigida preferencialmente ao segmento jovem do público. Tem frequência própria, 95.5, a mesma que é também sintonizada em S. Vicente e arredores.

A não inclusão da RCV+ na medição do grau de satisfação dos ouvintes e de audimetria beneficia directamente a Praia FM, estação que aliás consolidou a sua posição de liderança na capital e alargou a sua notoriedade dirigida a nível nacional. Aliás, diga-se em abono da verdade, a jovem estação é a que, de acordo com os dados, mais subiu, apesar de a RCV ter mantido a sua posição de líder de audiência a nível nacional.

Ora, acreditamos que caso a RCV+ fosse tida em conta no questionário, a Praia FM não teria os resultados que alcançou. Convém não esquecer que em Cabo Verde o efeito novidade conta muito. A Praia FM está há dez anos no ar e já apresenta alguma saturação em termos do formato. Isso não significa que a RCV+ não precisa reavaliar a sua estratégia, aproximando-se mais das expectativas do seu público.

Não deixa contudo de ser estranho que a RCV+ não apareça sequer na “notoriedade espontânea”. Ou seja, quando se pede ao ouvinte que indique os nomes (aqueles de que se recorda) de algumas rádios que costuma ouvir. Ninguém se ter lembrado da RCV+, é obra!

Muito estranho. A RCV+ é silenciada e inclui-se no estudo uma rádio que há um ano está fora do ar: a Mosteiros FM. Como é possível que se peça aos inquiridos que se pronunciem sobre a programação de uma rádio que, no momento da realização do inquérito, está fechada devido ao acumular de constrangimentos técnicos e financeiros?

Quando é que em Portugal se ia meter num estudo da audiência apenas a RDP, esquecendo-se que ela se divide em canais: Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP-Africa, etc? A própria RR tem também o seu canal jovem, a RFM que é, aliás, líder de audiências. Bom, deixemos este descaso para os responsáveis.

O estudo mostra que há ainda em Cabo Verde um número considerável de pessoas que ouvem a rádio mais de 6 horas por dia, mas há, contudo indicações de que esse cenário está a mudar. Com o passar dos anos, com a massificação da Internet, com uma oferta televisiva cada vez mais de qualidade, a rádio irá gradualmente perder audiência, embora jamais deixará de ser ouvida. O que é certo que as audiências não serão tão astronómicas como as que se registam hoje.

O estudo faz uma divisão de águas em relação a audiência das várias rádios. Mostra que a RCV e, em menor grau, a Rádio Nova, têm a preferência dos adultos (mais homens) e sobretudo daqueles que possuem o pós-secundário. A Praia FM e a Crioula FM são mais apreciadas pelos jovens, o que não surpreende, uma vez que são estações temáticas (música e publicidade) direccionadas à faixa dos 14 aos 25 anos.

Falemos dos conteúdos. Os inquiridos pedem programas variados e de qualidade. As notícias devem ser melhoradas dizem os ouvintes que, para já, dão preferência à música. Os programas de debate, culturais e educativos merecem a preferência de apenas (pasme-se) 7% dos inquiridos. Isto dá que pensar, por isso deixo-o para o próximo post.

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