terça-feira, maio 26, 2009

Gambôa: entre o elogio e a crítica


Mais um festival de música passou à história. Perduram ainda os comentários sobre o certame, sobretudo no que diz respeito à organização e ao cartaz apresentado este ano pela Câmara Municipal. Analisando as opiniões recolhidas pelos órgãos de comunicação social que fizeram a cobertura do festival, conclui-se que, no geral, a festa foi boa, mas podia ter sido melhor.

As pessoas ouvidas pelos media dão nota positiva aos aspectos ligados à organização (o cumprimento dos horários de actuação das bandas, reduzido tempo de intervalo, etc.), ao saneamento (brigadas de limpeza em permanência durante o show, colocação de contentores e sanitários ao longo do areal, etc.), à segurança (postos de acesso ao local do espectáculo, revistas para a detecção de armas brancas e de fogo), à localização das barracas de comes e bebes, que este ano ocuparam um dos lados da Avenida dos Combatentes, separando fisicamente o álcool da música.

As críticas mais ouvidas prendem-se com o reduzido tempo dos concertos (das 21 às 2 da manhã) e à pouca diversificação das bandas e artistas convidados para a edição deste ano. Isso já para não falarmos da redução dos dias de actuação, de três para dois.

Do meu ponto de vista, se o festival da Gambôa quer continuar a trilhar os caminhos que o hão-de integrar no circuito dos festivais do mundo, podendo ser uma referência para o continente africano, deve-se apostar na qualidade do cartaz dos espectáculos.

O Gambôa não pode transformar-se numa sessão de apresentação de finalistas do “Todo o Mundo Canta”, por mais simpatia que mereça a descoberta de talentos. Por que é que não se montou um palco alternativo para a actuação dos novos talentos, o que para já seria uma alternativa para as milhares de pessoas que estiveram durante toda a tarde/inicio de noite a deambular pela areia ou de barraca em barraca para matar o tempo?

Por que é que não se aposta também nos muitos e bons Djs que a cidade da Praia possui. Ninguém questiona a qualidade da Lura, do Tito Paris, do Boss AC, dos Ferro Gaita, do Jay (um dos momentos altos do festival) … mas apostar também em grandes nomes da música internacional só engrandece o Gambôa, que não pode descambar num provincianismo. O próprio Estatuto Especial que a cidade da Praia exige (e merece) obriga a que ela esteja de facto à altura das grandes capitais, pelo menos em termos de uma agenda cultural.

Está demonstrado que as Câmaras Municipais não têm competência técnica, nem tão-pouco vocação para organizar festivais, carnavais e quejandos. Por que não se avança para a exploração privada dessas actividades, apostando no profissionalismo daqueles que nessas lides?

Em relação ao horário de fecho do festival, a Câmara Municipal lá tem os seus motivos para acabar com o festival de forma tão abrupta, deixando os milhares de pessoas que acorreram ao Gambôa com o sentimento de um “recolher obrigatório”.

Para não variar, há sempre críticas por parte da comunicação social, sobretudo da rádio e da televisão, em relação às condições de trabalho e de liberdade de acesso ao espaço reservado aos artistas para entrevistas, antes e depois das actuações. Há quem fale mesmo em limitação da liberdade de informação. Da minha parte tenho sérias dúvidas.

Segundo o Estatuto do Jornalista, este goza, no exercício da sua função, do acesso às fontes oficiais de informação, com os limites previstos na lei; não ser detido afastado ou, por qualquer forma impedido de desempenhar a respectiva missão no local onde seja necessária a sua presença como profissional de comunicação social, nos limites previstos na lei; livre-trânsito e permanência em lugares públicos onde se torne necessário o exercício da profissão, etc.

Lá por nos ser vedado a entrada no camarim dos artistas para entrevistas depois da sua actuação em palco, não prefigura uma limitação ao direito de informação. Apesar de estarmos num local que se pode considerar público, a praia, a organização do evento é privada (esteve à cargo da empresa Everything is New), tendo, aliás, Super Bock entrado com 15 mil contos em forma de patrocínio). Os próprios artistas são pagos pela actuação. Uma coisa é recolher sons e imagens para a informação do público (peças para os jornais), outra coisa, bem diferente, é a transmissão em directo e integral do espectáculo (inclui entrevistas promocionais com os artistas) para a qual torna-se necessário assegurar os competentes direitos. Não me parece que tenha sido o caso. Talvez para a próxima seja bom negociar com a organização todos estes aspectos.

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