quarta-feira, abril 29, 2009

A TOMADA DA RÁDIO BARLAVENTO



Dada a importância desta comunicação do jornalista João Augusto Santos Nascimento para o conhecimento da história da radiodifusão cabo-verdiana, o KRIOL RÁDIO orgulha-se de a publicar na íntegra, não obstante ter sido proferida há mais 3 anos no âmbito de uma conferência realizada pela Delegação da RTC no Mindelo.

Estamos hoje a comemorar uma data que ficou marcadamente nos anais da História deste país e das suas gentes e que nunca sairá da nossa mente: o dia 9 de Dezembro de 1974. Éramos ainda jovens, mas com responsabilidades porque inserimos cedo no mundo de trabalho precisamente onde ainda nos encontramos. Na altura, recordo o ano de 1971, quando entramos como assistente de estúdio, ou como o homem da cabine das máquinas – como dizia o locutor/comunicador Zito Azevedo – no programa “Encontro às Dez” , embora tanto o locutor como o seu assistente ficava num mesmo espaço sem divisão alguma.

Ficava o locutor na sua mesa à frente da consola, um equipamento onde convergiam todos os canais para microfones, gravadores e gira-discos. Estes dois da responsabilidade do operador de estúdio, o que se convenciona chamar hoje Técnico-Operador de Som.

Pois é são estes Técnicos-Operadores de Som que, na sua juventude, abraçaram esta causa nobre de fazer Rádio, participando activamente também no desenvolvimento deste país. Muitos passaram a locutores na então criada Voz de São Vicente, o Fernando Carrilho, o Fonseca Soares e, mais tarde, eu mesmo. Outros já o eram na então Rádio Clube do grande Evandrita, Evandro de Matos, que tinha sido fechada por razões (?)

O António Pedro Rocha, que de Director da Voz de São Vicente, com a saída do Rolando Vera-Cruz Martins para Praia, para assumir as funções de Director da Rádio e do Jornal “Voz di Povo”, herdeira do Arquipélago (que lhe provocou sérios problemas de saúde), passou para Director da Rádio Nacional, na fusão das duas estruturas de São Vicente e Praia. Hoje está na Deutsche Welle, onde chefia a Redacção portuguesa.

O João Matos, depois de São Vicente, seguiu para à Praia, mais tarde pioneiro na Deutsche Welle, o Carlos Lima (já foi Director da RTC-FM) e o Carlos Afonso, o Rito Melo. Vozes femininas que me lembro e com quem trabalhámos como Assistente, a Maria Helena Ferro, esposa na altura do bem conhecido e saudoso Francisco Lopes da Silva, Armanda Fonseca e Maria Manuela Fonseca. Eram vozes sonantes… eram locutores que tinham credibilidade.

Mas, dizíamos nós, foram esses pioneiros, tarimbeiros, que passaram por pequenos estágios para transmissão dos conhecimentos pelos veteranos na altura do seu ingresso, é que faz as pessoas apanharem o gosto (se é que podemos falar disso!), sentirem-se atraídos pela profissão… transformada em profissão na sequência da tomada da Rádio Barlavento, 3.955/60 kilociclos por/segundo, onda dos 75 metros.

Com a Independência – a tomada da Rádio Barlavento faz parte desse processo nacionalista do então PAIGC – os nossos comunicadores e demais funcionários passam por estágios de formação na RDP, em Portugal, no Instituto Internacional Werner Lamberz, em Berlim-Leste, na ex-RDA, no tempo da guerra fria… cursos superiores em França, INA, Cuba, União Soviética. Cursos de Engenharia Electrónica e de Som, Produção Rádio e Jornalismo.

Hoje, são muitos (centenas) os profissionais da tão falada, com a modernidade, Comunicação Social, Rádios, Jornais, TV, Revistas, e, actualmente, na era da digitilização, Jornais electrónicos, graças as novas tecnologias de informação e comunicação, as chamadas TIC’s. E, cada dia mais, estão a ser formados mais quadros. No Brasil…

Este longo preâmbulo – pedimos desculpas, se estamos a maçar os presentes e tele-ouvintes, mas vamos já terminar - para chegar aos tempos actuais e dizer aos nossos profissionais da Comunicação Social que este nosso métier, é difícil, é stressante – palavra na moda – e requer muito poder de encaixe por que somos pressionados pelo tempo e pelos utentes, pressionados mais pelos que vêm o poder do chamado “Quarto Poder”… principalmente os políticos.

Mas é e continuará a ser uma nobre profissão que muito tem contribuído e continuará a dar a sua valiosa contribuição, veiculando a formação e informação em notícias, grandes entrevistas, reportagens, mesas-redondas e debates, para o desenvolvimento desta jovem nação que vai nos seus 31 anos, por que entrou já desde o dia o dia 5 de Julho de 2005, Trigésimo Aniversário da Independência Nacional.

Pergunta-se na era da digitalização, qual o futuro da Rádio Pública no meio desta onda de órgãos privados de comunicação social. No recente workshop sobre medias electróniques de Tunis, no quadro da Cimeira Mundial da Sociedade de Informação, foram introduzidos vários painéis, entre os quais o Impacto dos Mídias na Sociedade. Fez-se uma reflexão sobre o futuro da Rádio Pública nesta era das TIC’s e sua influência no surgimento de outras rádios, privadas e comerciais.

Os conferencistas foram unânimes que a Rádio Pública é uma necessidade e que vai perdura ao longo dos próximos tempos. Rádio e TV mantêm o seu lugar importante que tem na Sociedade, com o aparecimento dessas novas tecnologias de informação e comunicação, como a Internet. Para Veina Viedmann da ARD, Radiodifusão Alemã, há um enriquecimento mútuo entre a NET e a Rádio e TV. Há uma complementaridade, segundo Gulla Thiam, do Senegal, porque a Internet alarga o serviço prestado pelos mídias convencionais. Você pode ouvir a qualquer momento fora do seu espaço, casa ou trabalho, as emissões no seu telemóvel.

O mais importante agora é a produção de programas com mais e melhor qualidade, no profissionalismo dos jornalistas, respeitando as normas da ética e o código deontológico. Enfim, por uma cultura de mais e melhor trabalho.

É o que se quer implementando acções de formação, melhorando os meios e equipamentos, por que quando se avança há outras exigências. E, o nosso público utente é, e com razão, exigente. Devemos trabalhar nesse sentido e se não eliminar pelo menos reduzir grandemente algumas dificuldades e constrangimentos que a nossa Rádio atravessa.

Com tudo isto para dizer que Afinal Valeu a Pena: a TOMADA DA RÁDIO BARLAVENTO E CRIAÇÃO DA VOZ DE SÃO VICENTE!

E, a nossa proposta vai no sentido de se criar o Dia Nacional da Rádio, investigar se outras datas para além deste Dia Histórico e Memorável 9 de Dezembro, buscar se possível consensos à volta.

Aqui, nos Estúdios do Mindelo, à semelhança do que aconteceu no Sal, com a atribuição do nome Adelino Ramos, porque não noutros Estúdios atribuir o nome de célebres “guerreiros” da Rádio. Aqueles que deram a luta, o máximo de si, não olhando a sacrifícios à família e ao seu tempo de lazer. Nomes como Telmo Bárrio Vieira, mais do que Director Técnico da ex-Rádio Barlavento, durante décadas e décadas, ou Francisco Faria, Chico Escuta, que rabiscava as notícias sob escuta das outras rádios.

Pedimos desculpas se fomos demasiado ousados.
A Rádio de Cabo Verde, instituição estatal de utilidade pública, é um órgão de comunicação áudio, mais antigo em Cabo Verde, com responsabilidades no desenvolvimento do país, através da formação e informação, no debate de ideias e na procura de sinergias.

7 comentários:

  1. onde estão outras comunicações de outros jornalistas que se fez no mesmo evento?

    oi viv

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  2. Acabo de ouvir o senhor Dix com mais uma enésima lista de nomes de efemérides. Esse formato de Rádio está ultrpassado. Não há mais Rádios modernas que fazem esse género de emissões.

    Dizer a mesma coisa ao Luis Carlos Vasconcelos. E ainda por cima, fazem efemérides, onde nunca vem um nome ou algum acontecimento que tenha a ver com Cabo Verde. Só FALAM de estrangeiros. Pensam que as Radios estrangeiras, se tivessem que fazer uma tal rubrica de efemérides iriam falar de nomes de Cabo Verde em vez dos seus? Hoje a Radio Moderna faz-se com multiplas vozes, reportagens diversas, com varios actores, e não nesse estilo de um locutor na cabine a ler efemérides e trechos de revistas brasileiras.

    Al Binda

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  3. Afinal qual é o legado desses decanos? Estão a terminar a carreira enveredando-se pela propaganda institucional do Governo. Veja-se a peça sobre o ministério da Justiça feita por um desses veteranos. Ora, ora!!!

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  4. Viva Carlos. Bem vindo ao convivio da blogsfera. Desejo-te muito estofo e persistencia. Que nao te doam os dedos. De Mocambique, o amigo ndapassoa.

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  5. Acho que o Anonimo nao está a ser justo com os chamados "decanos". A simples historia da radio, e no caso a peça aqui escrita por Dix, ja é uma imensa contribuiçao à Historia politica e cultural deste paíS. Ou nao saberá o Anonimo o que é Historia?

    Alguém aqui ha-de de fornecer ao Anonimo os grandes nomes que criaram e desenvolveram a Radio em Cabo Verde! Espero que assim seja para o bem da informaçao do nosso Anonimo para nao falar de cor dessa maneira! Alias, Dix, avança alguns nomes no seu estudo. Isso nao chega para a compreensao do senhor Anonimo?

    Al Binda

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  6. O corte da emissão em 1974 teve um efeito marcante na incerteza que os tempos do Spínola nos proporcionava. Houve "meninos malcriados"- sim senhor - que foram ao Sal dizer "NÃO"ao ditador e ouviram um chorrilho de asneiras da boca do generalão. Entretanto, os "donos" da emissora, indignos PÉS DE GALO,vinham utilizando naquela estação abusivamente a morna 'Maria Bárbara canta mais uma morna'como um nojento hino contra-revolucionário. Que é isso,senhores? Entretanto,nos arredores da Praça Nova a voz potente de um tenor (não sei se era o Ildo...não sei...) numa morna de Bubista cuja sonoridade ficou muito ligada ao período spinolista.combatia a má propaganda. A tomada do Rádio aos Filhos de Nassa foi sem dúvida um acto necessário e heroico.

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  7. Ah moche, quonde bocês falá de côsa bedge de nôs terra, bocês tmá um guesinha más d'atençon pa ka ilugiá xugeza de mute gente. Por exp. no estatuto do R.C.Mindelo lê o seguinte: Os técnicos estão isentos de prestar contas aos orgãos administrativos do Clube. Bem diz o povo, "Quem anda no convento é que sabe o que lá vai dentro!"
    Bocês dezê quel jornalista que escrevê tcheu cosa desse assunto que O título de "Utilidade Pública" foi entendido como louvor pessoal de um certo gajo que por isso fez das suas. Nô pintcha! OK?
    assinado Alguém ta tchmódo LAU BUDES

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