segunda-feira, abril 25, 2011

As Incertezas da Rádio Digital

Se Cabo Verde vai adoptar, em paralelo com a televisão, as emissões de rádio digital terrestres, no verão de 2015, como depreendo de conversas informais, importa explicar qual o sistema tecnológico de transmissão, pelo menos, dos já testados noutros países, que iremos usar nestas ilhas arquipelágicas.

Em Portugal, país que nos tem servido de modelo em vários aspectos ligados ao broadcasting, o DAB começou a ocupar o espaço radioeléctrico desde 1998, após concurso público de grande complexidade técnica, financeira e jurídica, tendo a RDP ganho a licença de operador da rede nacional DAB terrestre. Desde então, segundo os responsáveis da rádio pública portuguesa, a empresa tem cumprido o plano de investimentos a que se obrigou tendo já neste momento alguns emissores que cobrem a quase totalidade do território.

No entanto, na opinião de Prata (2006), a RDP, não obstante desde Março de 1999 realizar transmissões digitais de rádio, foi incapaz de impor esse serviço no mercado pelo que, na prática, a rádio digital não faz parte da vida da população portuguesa.

No dizer de Pedro Portela, cuja tese de mestrado “A Rádio na Internet em Portugal, acaba de ser publicada pela Universidade do Minho, existem de momento três sistemas tecnológicos de transmissão de rádio digital concorrentes, todos ainda à procura de maturidade técnica e de uma maior utilização efectiva, tanto do ponto de vista da emissão como da recepção: O DAB (Digital Áudio Broadcast), o IBOC (In-Band O Channel) e o ISDB (Integrated Services Digital Broadcast).

O DAB foi desenvolvido em 1980 pela União Europeia de Radiodifusão, e fazendo o paralelo com o sistema actual de transmissão analógica, corresponde à emissão FM, existindo uma variante correspondente à AM, designada DRM (Digital Rádio Mundial). Há ainda uma distinção no que toca à via de difusão, sendo que T-DAB (Terrestrial – Digital Áudio Broadcasting) se refere à transmissão do sinal digital de rádio usando uma infra-estrutura emissora constituída por antenas terrestres, enquanto que o S-DAB (Satélite – Digital Áudio Broadcast) também designada por DSR (Digital Satélite Rádio) faz uma transmissão com recurso a satélites de telecomunicações, ampliando desse modo a sua cobertura.

O principal problema apresentado por este sistema, explica Del Bianco (2003) relaciona-se com a necessidade de lhe ser atribuído um leque de frequências exclusivo diferente do que é actualmente usado pelas emissões FM, o que dificulta o processo de migração para a transmissão digital das estações actualmente existentes.

Ao contrário de Cabo Verde, onde existe ainda uma indefinição em relação à rádio digital, existe uma determinação da União Europeia para o sector audiovisual que impõe a implantação até 2012 de emissões de rádio e televisão obrigatoriamente digitais, colocando um ponto final nas transmissões analógicas, sendo o DAB o sistema tecnológico que reúne as preferências políticas europeias. Ora, pela lógica da convergência normativa e tecnológica a que estamos vinculados por causa da parceria especial com a União Europeia, pode-se depreender que a nossa escolha recairá também sobre o DAB.

A maior dificuldade na implantação do DAB, segundo Pedro Portela, é o maior triunfo para o IBOC. O facto de poder usar o mesmo leque de frequências actualmente usado pelas bandas AM e FM permite as emissoras em actividade um processo mais pacífico de migração para o sistema digital, pois não obriga os ouvintes a comprarem um novo receptor.

Ou seja, os actuais aparelhos continuarão a captar o sinal rádio quando a transmissão passar a digital e a implantação de novos receptores, os únicos capazes de tirarem partido das funcionalidades acrescidas nas novas emissões, pode ser feita de um modo gradual, à medida do interesse gradual de cada ouvinte.

Tal como no DAB, também o IBOC conhece a via terrestre e por satélite para a emissão do seu sinal digital. Contudo, uma vez que a vontade politica da União Europeia determinou o DAB como sistema de transmissão de rádio digital, dificilmente se assistirá à adopção do IBOC no território europeu, a menos que se assista a uma grande inversão das actuais políticas para o sector.

O mesmo se poderá dizer do ISDB, uma vez que é um sistema desenvolvido é já adoptado no Japão. Tecnologicamente, é já uma implementação da desejada convergência, porquanto no mesmo canal são transmitidos digitalmente os sinais de rádio e televisão, o que acaba por levantar entreves relatórios adicionais em países a regulação de rádio e TV está repartida por entidades distintas.

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