terça-feira, novembro 23, 2010

Sindicato, já!

A proposta de criação de um sindicato de jornalistas foi lançada pela direcção da AJOC há vários meses, mas parece que agora este repto se coloca com mais acutilância. Caso não é para menos, uma vez que a associação da classe se prepara para ir a votos antes do fim de ano.

Nessa altura os jornalistas cabo-verdianos serão chamados a dizer se querem ou não transformar a AJOC numa associação sindical. Convenhamos que não se trata de uma decisão fácil a avaliar pelo desinteresse que muitos jornalistas têm demonstrado quando o assunto é a união para a defesa dos direitos e interesses da classe.

Não tenhamos dúvidas, é chegado o momento. Os desafios que se colocam ao jornalismo cabo-verdiano são de monta e a lógica de funcionamento da associação mostra-se desajustada e incapaz de os enfrentar e vencer. Lembro-me de em artigos anteriores ter defendido a continuação da AJOC, enquanto associação dos jornalistas em paralelo com um sindicato que trataria dos problemas profissionais e laborais da classe. Hoje duvido que isso vá resultar.

Como já dizia Alexis de Tocqueville na sua lendária obra “Da Democracia na América" que "não existe nenhum país onde as associações sejam mais necessárias do que naquelas onde o estado social é o democrático”. Pelo mesmo diapasão alinha a União dos Jornalistas da África Ocidental que assegura que o direito sindical está (…) no centro da liberdade de imprensa.

A liberdade de informar e o direito de informar são realidades que se devem conquistar e defender permanentemente. Daí ser indispensável que os jornalistas se agrupem em associações capazes de defender estes direitos.

A questão que se nos coloca é simples: será que necessitamos de um sindicato? Da nossa parte a resposta só pode ser afirmativa, pois os interesses da nossa profissão só poderão ser defendidos pelos jornalistas activos que constituam sindicatos fortes, de maneira a que nem os empregadores, nem os políticos se apoderem do controlo dos media.

Apesar de as associações desempenharem um papel-chave na defesa profissional dos jornalistas (claro que a AJOC poderia estar a fazer muito mais…) não pode defender directamente os interesses laborais dos seus membros. Torna-se por isso imprescindível o papel dos sindicatos, sobretudo se considerarmos que é precisamente a deterioração do mercado de trabalho que mais afecta a actividade do jornalista.

Há vários e bons exemplos de sindicatos a seguir. Nalguns países europeus, os representantes sindicais têm, com frequência, ultrapassado as reivindicações puramente salariais e laborais e assumido um protagonismo destacado na defesa da liberdade e da pluralidade informativas, assim como no estabelecimento de mecanismos para promover a independência dos profissionais, como por exemplo, os estatutos de redacção.

Como forma de representar o conjunto da profissão jornalística (tenho reservas quanto a englobar todos os profissionais da comunicação no mesmo sindicato... quando muito os equiparados a jornalista, como são os casos dos correspondentes e os repórteres de imagem), será importante que o futuro sindicato seja uma organização sem perfil ideológico e de carácter exclusivamente profissional, o que significa abster-se de integrar as duas centrais sindicais, nossas conhecidas.

Para além das reivindicações salariais e laborais, igualmente fundamentais para a melhoria do jornalismo, há outras batalhas que o futuro sindicato deve perseguir. As questões próprias de uma actividade qualificada, com um protagonismo social, cultural e político que coloca problemas específicos e com um compromisso iniludível para com os valores e as normas deontológicas, constituem outras tantas prioridades.

Continua…

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