sábado, setembro 18, 2010

FIABILIDADE DAS SONDAGENS

A recente sondagem realizada pela empresa Afrosondagem continua a suscitar amplas reacções, as mais díspares, sobretudo, dos actores políticos e dos observadores da política doméstica, o que também nos serve de pretexto para continuar, do ponto de vista teórico, a analisar este importante instrumento científico.

Um dado que perpassa as análises dos resultados que têm sido produzidas prende-se, não tanto com a desvalorização das sondagens, mas com a interpretação que elas se faz, a modos de são o que são e que apenas representam a fotografia do momento, embora ninguém ignore o que predizem.

Na verdade, a fiabilidade das sondagens tem sido questionada ao longo da década de 90, em virtude de os resultados previstos não terem coincidido com os votos validamente expressos nos pleitos eleitorais. Por outro lado, é sabido que em certas ocasiões as pesquisas são utilizadas politicamente como medida de pressão sobre a opinião pública ou como argumentação técnica na hora de defender determinados interesses. Igualmente, há casos em que chegam a ser produzidas filtragens, inclusive das manchetes dos jornais, como se fossem pesquisas rigorosas.

O pior é que o jornalismo de precisão não sai incólume dessas montagens. Como explica o professor Minguel Tuñes (1999, 49), a filtragem precisa de uma conhecimento mútuo entre o meio de comunicação e a fonte com o compromisso de verificar a veracidade da informação prestada pela fonte e manter, em qualquer caso, o seu anonimato, tudo travestido de jornalismo de investigação. Há casos ainda em que se ocultam os resultados de uma sondagem realizada na maior parte das vezes por razões de suposta oportunidade política.

É evidente que quando as sondagens falham, abundam as explicações para os desaires, quer por parte daqueles que estão directamente interessados nos resultados, como pelo lado dos especialistas e dos responsáveis das empresas e instituições de prospecção social.

Os argumentos são vários: são uma medição que ocorre no momento da colheita da informação o que, com as técnicas que existem, têm de constar dentro de uma margem de erro. Convém recordar que o tempo pode variar a intenção de voto e que a margem de erro, quando a amostra não é suficientemente grande, é maior que o número de votos necessários para conseguir os últimos assentos. Esta limitação é também assinalada por Francisco Llera, catedrático em Ciência Politica: “A fiabilidade é maior, se se oferecerem percentagens referidas ao conjunto da amostra e menor se assinalarmos uma projecção de assento”.

Uma coisa parece certa: as sondagens eleitorais são mais fiáveis na medida em que os cidadãos têm as suas opiniões mais bem definidas. Elas medem as tendências e não realidades objectivas e as tendências fazem-se para o momento em que se realiza a sondagem. A aparição de novas condições pode fazer com que a parte dos indecisos reformulem os resultados das pesquisas. José Ignácio Wert é mais peremptório: “as sondagens eleitorais costumam aproximar-se, com bastante precisão, dos resultados reais.

Ainda sobre a credibilidade das sondagens, importa sublinhar que existem muitos factores que influenciam os dados, pois a tarefa de reproduzir em miniatura as características de uma comunidade é árdua. Assim, pode ocorrer que as avaliações positivas registadas numa sondagem estejam mais representadas por causa do seu maior grau de aceitação que outras posturas, pois os que opinam de forma mais crítica também estão menos dispostos a responder. De qualquer forma, quase todas as análises sobre a credibilidade das sondagens parecem convergir para um ponto: elas, as sondagens, não podem ser vistas como um artigo de fé. Além do mais, às vezes são imprecisas, porém, ajudam, como poucas coisas, a descrever e a analisar uma realidade social.

Na hora de analisar as limitações das sondagens, torna-se importante ter em conta os factores já enumerados, entre os quais não se pode olvidar o papel fundamental da profissão de jornalista na hora da leitura, interpretação e transmissão dos resultados. Isso será tema para um próximo artigo.

… continua.

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