segunda-feira, setembro 13, 2010

SONDAGENS

Com o aproximar do ciclo eleitoral, a comunicação política em Cabo Verde tem adoptado instrumentos científicos modernos, com destaque para as sondagens, para apurar a percepção dos cidadãos em relação ao desempenho dos partidos e dos respectivos lideres.

Num espaço de três meses já foi dado à estampa um total de três sondagens, todas com o principal objectivo de medir a intenção de voto dos cidadãos eleitores tendo em vista as eleições legislativas que deverão realizar-se entre Fevereiro e Março do próximo ano.

Mais do que analisar os resultados – tarefa a que se entregam com denodo os especialistas da comunicação politica, os jornalistas, os partidos e os actores políticos com interesses atendíveis – importa-nos perceber o tratamento jornalístico que é normalmente dispensado a este tipo de estudo de opinião. Por isso, os próximos posts serão dedicados ao tema.

Convém ressalvar, como nota introdutória, que as sondagens pré-eleitores, como as que se têm publicado entre nós, não servem apenas para prever o voto, porquanto numa sociedade democrática qualquer período pode ser considerado estritamente como pré-eleitoral, e por isso, a previsão de voto não tem de ser o único objectivo desses inquéritos.

A opinião social, mais ou menos generalizada, relativamente às sondagens pré-eleitorais ponta para uma barreira entre a funcionalidade cientifica e a sua instrumentalidade técnica. Ou seja, os actores que intervêm no âmbito da confrontação política (partidos, meios, empresas de marketing…) costumam ter interesses contrapostos e todos eles convergem na opinião pública com a sua bateria de dados.

Habitualmente costuma-se diferenciar entre os estudos de previsão do voto (poolling), aos quais se costuma dar o máximo de interesse informativo, e os estudos que visam compreender tudo o que diz respeito ao comportamento do voto (research). Estes inquéritos servem para estruturar o eleitorado, conhecer a sua composição interna e observar a percepção social dos diferentes líderes e partidos num determinado momento político.

Nestes casos, o resultado das últimas sondagens convertem-se de forma automática em notícia de capa dos jornais, procurando a máxima divulgação e se transformam manchetes nos restantes meios. Daí a relevância social que este fenómeno alcança quando os resultados reais se distanciam das previsões.

Para o sociólogo Jorge Fernández Santana (1994, 22), a proliferação e o desenvolvimento das sondagens eleitorais obedece a diferentes causas, de entre as quais se destacam, a consolidação e os avanços dos processos de democratização, o aumento de temas/assuntos que alimentam o debate político, a importância crescente do marketing político e em especial o maior poder e competência dos meios de comunicação social, que se entregam a uma luta desenfreada pelos últimos e surpreendentes resultados.

O autor evidencia também algumas consequências advenientes da exponencial utilização das sondagens. As mais importantes: a racionalização das campanhas eleitorais; a aparição de novos actores influentes na vida politica; os jornalistas, verdadeiros intermediários da informação entre o estudo e o eleitor, os especialistas em marketing político, assessores de imagem, etc. Considera ainda Santana que a repetição sistemática dos resultados das sondagens leva a percepção de uma campanha eleitoral permanente, bem como o possível cansaço e repúdio dos sujeitos entrevistados, fenómeno conhecido por “população sobre entrevistada”.

Convém dizer que nem todos os especialistas corroboram desta posição. É o caso de José Ignácio Wert (1996, 16) que defende que a cidadania colabora activamente nas sondagens e o repúdio social é bastante baixo, até porque as sondagens políticas, explica, não representam mais do que 5% do total dos estudos demoscópicos. “Uma sondagem não é uma conversa convencional. De facto desafia todas as convenções de uma conversa educada. Pergunta a todos por igual (não faz excepção a pessoas), não evita os temas conflituosos ou delicados, salta de tema em tema na conversa, não respeita o que interessa o entrevistado e o que leva ao seu desinteresse… apesar disso, o índice de repudio às entrevistas não é excessivo”.

Em resumo, pode-se afirmar que a experiência democrática do último quarto de século supõe uma larga aprendizagem na aceitação e uso de sondagens eleitorais, pese embora a incerteza politica de actos eleitorais (exemplo das eleições presidenciais de 2000 nos EUA) ponha em relevo as limitações predictivas e estimativas das sondagens eleitorais. É pena que no nosso caso elas só aparecem por altura da pré-campanha e, estranhe-se, sempre na capa de um único jornal.

… continua.


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