quinta-feira, junho 17, 2010

RÁDIO E CIDADANIA

Joana Olinda, Orlando Lima, Júlio Rodrigues, Dina Ferreira

Por que a ideia hoje é dar sentido a uma comunicação bilateral… em vez de UM PARA TODOS, preferimos uma fórmula mais interactiva, quiçá mais atraente, de UM PARA UM… por isso não me alongarei neste intróito em jeito de boas-vindas.

Hoje faz todo o sentido utilizar a estafada expressão, que debitamos ao microfone, quando idealizamos esse ouvinte solitário sentado em frente à telefonia: “você é a razão de ser da nossa existência”.

Com efeito, o ouvinte deixa de ser o anónimo entre a massa. Passa a ser o único. De tal maneira privilegiado que ele não é apenas o destinatário da mensagem. Ele torna-se ao mesmo tempo, querendo, o produtor da mensagem. Ocupa, enquanto tal, o lugar do emissor.

Cumpre-se assim a visão utópica de Brecht que já em 1927 apontou, enquanto possibilidade real de participação dos cidadãos na vida pública, através da rádio: “emitir mas também receber, fazer falar o ouvinte, pondo-o em relação com os outros.

É chegado o momento de perscrutarmos os sinais dos tempos que colocam a rádio perante desafios de monta, a começar pelas novas tecnologias.

A Internet e as suas virtualidades não mataram a rádio, como muitos já prognosticavam também nos anos 40 quando apareceu a televisão… é verdade que diante do fascínio da imagem, a rádio teve que reposicionar-se… abandonou o centro da atenção da sala de estar e refugiou-se no aconchego do quarto de dormir… a rádio foi mais longe, segmentou a sua oferta de conteúdos de acordo com a vivência do quotidiano e a expectativa dos ouvintes.

A revolução tecnológica que vimos assistindo significa outras tantas conquistas para a rádio:

As “vozes sem corpo”, como se dizia do fonógrafo e da rádio, encontram-se no espaço infinito da Internet, ultrapassando os velhos constrangimentos da Onda Curta; a rádio colou-se-nos na pele através do mais portátil dos artefactos, os telemóveis; oferece-se-nos no ipod, 24 horas por dia, numa imensa livraria de sons que nos permite procurar e ouvir os sons dos programas que mais nos apetece a qualquer hora, em qualquer lugar.

Entre nós, como se sabe, não existe ainda uma tradição de ouvir através de estudos audiométricos a opinião dos cidadãos em relação à programação dos canais de rádio… esporadicamente mede-se o grau de satisfação da audiência quanto à oferta de conteúdos;

Os cidadãos não dispõem ainda do serviço de um provedor que faça chegar as suas queixas, reclamações, críticas e sugestões aos responsáveis da estação; no caso da RCV não existe um concelho de opinião que possa apreciar as propostas de grelha de programas, fazendo valer o interesse dos ouvintes na formatação dos conteúdos; não existe uma associação de ouvintes que exija mais e melhor da estação pública e não existe uma cultura cívica de critica fundamentada ao desempenho dos meios de comunicação social, mormente da rádio e televisão.

É sobre estes e outros motivos que assenta esta iniciativa de auscultar o que tem a dizer a sociedade civil e representantes de instituições de variada índole no que concerne à programação da Rádio de Cabo Verde…

Entendemos que o serviço público de rádio (e por que não dizê-lo também de televisão) se diferencia como realidade especifica, quando e na medida em que se assume como uma instituição da sociedade, agindo em estreita relação com outras instituições, vocacionada para lhes dar vez e voz, sem estar condicionada pelas exigências do sucesso, embora também não as enjeitando.

Acreditamos que a rádio de Serviço Público deve destacar-se pelo seu carácter de referência e de exemplaridade. Ao invés de nivelar por baixo, imitando a concorrência, deve pôr a fasquia cada vez mais alta no que toca ao profissionalismo, ao discurso e à estética radiofónicos, à capacidade de despertar interesse e de alargar horizontes. Não se limita às obrigações que a lei prevê. A excelência deve ser um ideal a perseguir; deve cultivar o entretenimento com bom gosto, conjugando de forma equilibrada com emissões de pendor informativo e formativo.

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