Adorei ter ouvido anteontem uma entrevista, aliás, para ser mais rigoroso uma conversa entre o Carlos Lima e o Fernando Carrilho. Sem dúvida, duas referências incontornáveis do panorama radiofónico cabo-verdiano. O pretexto do “Conversas ao Café” era mergulhar na poeira do tempo e trazer à tona as diversas facetas da vida do homem e jornalista Fernando Carrilho.
No entanto, ao invés de uma mera uma sessão de perguntas e respostas, assistimos a um contar de “estórias” de um percurso praticamente comum. Carlos Lima, contemporâneo do Carrilho na rádio – os dois terão começado a carreira quase na mesma altura, embora o Lima, salvo erro, ter-se-á estreado ligeiramente mais cedo na Rádio Clube do Mindelo – não se coibiu de partilhar também com os ouvintes algumas etapas da sua carreira de quase 40 anos.
Um excelente momento de rádio, como há muito não se ouvia. O Carrilho, não obstante ter-se retirado das lides da rádio, por motivos de saúde (esperamos não por muito tempo, pois o bichinho da rádio não se conforma com afastamentos tão prolongados e ainda para mais de forma abrupta, como foi o caso), continua um excelente comunicador, um radialista na verdadeira acepção da palavra, um exímio contador de “estórias”. E hoje a rádio pertence àqueles que sabem fazer rir e emocionar os públicos. É espantosa a forma como Carrilho conta “pirraças” no seu português, ora arrevesado, ora misturando com bom gosto algumas expressões em crioulo.
Como não podia deixar de ser, a conversa se deteve durante alguns minutos sobre a façanha da tomada da Rádio Barlavento. Quanto mais se conta este episódio que marca de forma indelével a história recente da radiodifusão e de Cabo Verde, mais me parece pertinente uma investigação (académica ou jornalística) que faça luz sobre assunto. Penso que volvidos quase 35 anos desse acontecimento, é tempo de conhecermos um pouco mais, não apenas o assalto à rádio (um rádio privada, lembre-se) mas os motivos, os actores, os mandantes, e as consequências, politicas e sociais, que isso terá tido no processo de independência de Cabo Verde e, quiçá o mais importante, até que ponto esse acto revolucionário terá condicionado a evolução da paisagem radiofónica em Cabo Verde.
Se se aponta como o principal motivo para o assalto à Rádio Barlavento a sua atitude colaboracionista com o regime colonial, isso tem que ser demonstrado com recurso a casos concretos, quer através da análise da oferta em termos dos conteúdos (a grelha de programas), como da estratégia e linha editorial da Rádio Barlavento.
Pergunta-se: a tomada da Rádio Barlavento era mesmo inevitável para o processo de formatação de consciências, visando granjear o apoio incondicional ao PAIGC e do processo de reconstrução nacional, ou esse trabalho ideológico poderia fazer-se utilizando uma outra rádio expressamente criada para o efeito, replicando, aliás, a experiência da Rádio Libertação?
Continuo a defender que ainda não se analisaram de forma aturada as consequências da tomada da Rádio Barlavento, trabalho imprescindível se quisermos entender o estádio de desenvolvimento da radiodifusão em Cabo Verde. Acredito que, caso a RB não tivesse sido nacionalizada, neste momento Cabo Verde teria uma oferta radiofónica muito mais rica e diversificada, fruto de uma concorrência que é hoje francamente incipiente, para não dizer inexistente.
S. Vicente teria a sua voz autónoma que lhe foi cerceada. Em vez de janelas na programação da Rádio Nacional – solução encontrada para o espelho das realidades regionais – S. Vicente teria uma rádio à altura da ambição, das expectativas das suas gentes, da sua idiossincrasia e multiculturalidade. Isso, se prejuízo de uma Rádio Nacional de serviço público que aposte na universalidade, na promoção da cultura e identidade nacionais e da coesão social.
No entanto, ao invés de uma mera uma sessão de perguntas e respostas, assistimos a um contar de “estórias” de um percurso praticamente comum. Carlos Lima, contemporâneo do Carrilho na rádio – os dois terão começado a carreira quase na mesma altura, embora o Lima, salvo erro, ter-se-á estreado ligeiramente mais cedo na Rádio Clube do Mindelo – não se coibiu de partilhar também com os ouvintes algumas etapas da sua carreira de quase 40 anos.
Um excelente momento de rádio, como há muito não se ouvia. O Carrilho, não obstante ter-se retirado das lides da rádio, por motivos de saúde (esperamos não por muito tempo, pois o bichinho da rádio não se conforma com afastamentos tão prolongados e ainda para mais de forma abrupta, como foi o caso), continua um excelente comunicador, um radialista na verdadeira acepção da palavra, um exímio contador de “estórias”. E hoje a rádio pertence àqueles que sabem fazer rir e emocionar os públicos. É espantosa a forma como Carrilho conta “pirraças” no seu português, ora arrevesado, ora misturando com bom gosto algumas expressões em crioulo.
Como não podia deixar de ser, a conversa se deteve durante alguns minutos sobre a façanha da tomada da Rádio Barlavento. Quanto mais se conta este episódio que marca de forma indelével a história recente da radiodifusão e de Cabo Verde, mais me parece pertinente uma investigação (académica ou jornalística) que faça luz sobre assunto. Penso que volvidos quase 35 anos desse acontecimento, é tempo de conhecermos um pouco mais, não apenas o assalto à rádio (um rádio privada, lembre-se) mas os motivos, os actores, os mandantes, e as consequências, politicas e sociais, que isso terá tido no processo de independência de Cabo Verde e, quiçá o mais importante, até que ponto esse acto revolucionário terá condicionado a evolução da paisagem radiofónica em Cabo Verde.
Se se aponta como o principal motivo para o assalto à Rádio Barlavento a sua atitude colaboracionista com o regime colonial, isso tem que ser demonstrado com recurso a casos concretos, quer através da análise da oferta em termos dos conteúdos (a grelha de programas), como da estratégia e linha editorial da Rádio Barlavento.
Pergunta-se: a tomada da Rádio Barlavento era mesmo inevitável para o processo de formatação de consciências, visando granjear o apoio incondicional ao PAIGC e do processo de reconstrução nacional, ou esse trabalho ideológico poderia fazer-se utilizando uma outra rádio expressamente criada para o efeito, replicando, aliás, a experiência da Rádio Libertação?
Continuo a defender que ainda não se analisaram de forma aturada as consequências da tomada da Rádio Barlavento, trabalho imprescindível se quisermos entender o estádio de desenvolvimento da radiodifusão em Cabo Verde. Acredito que, caso a RB não tivesse sido nacionalizada, neste momento Cabo Verde teria uma oferta radiofónica muito mais rica e diversificada, fruto de uma concorrência que é hoje francamente incipiente, para não dizer inexistente.
S. Vicente teria a sua voz autónoma que lhe foi cerceada. Em vez de janelas na programação da Rádio Nacional – solução encontrada para o espelho das realidades regionais – S. Vicente teria uma rádio à altura da ambição, das expectativas das suas gentes, da sua idiossincrasia e multiculturalidade. Isso, se prejuízo de uma Rádio Nacional de serviço público que aposte na universalidade, na promoção da cultura e identidade nacionais e da coesão social.
O nosso Freddy Mercury, não canta mas é (tem) voz de Rádio; e os outros quem são. Foto precisa de legenda.
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