segunda-feira, junho 29, 2009

QUEM DÁ PÃO DÁ CASTIGO


Li com preocupação a informação sobre o corte de publicidade da TACV e da Sociedade Cabo-Verdiana de Tabacos ao jornal A Semana. É evidente que os gestores das empresas, quer sejam elas públicas ou privadas, têm toda a legitimidade de desenhar e implementar a sua política de marketing, utilizando neste caso a publicidade através da imprensa.

Preocupa-me, isso sim, quando o rompimento do contrato de publicidade soa a revanchismo, a vingança, pelo facto de o jornal ter publicado alguma matéria (notícia ou reportagem) que eventualmente não tenha caído no agrado dos gestores das empresas. Na verdade, desde que a imprensa se tornou uma indústria existe sempre esta relação de “amor e ódio” com o mundo dos negócios e da publicidade.

Desde logo, os meios de comunicação social têm uma característica que quase os torna únicos no mercado: a maior parte das suas receitas não é obtida junto dos seus públicos, a quem prestam um serviço, mas sim dos anunciantes. A percentagem da publicidade no montante de receita dos media confere-lhe um protagonismo chave. Pelo contrário, o público que consome os media tem muito pouca margem de influência sobre os mesmos.

Esta peculiaridade dos meios de comunicação social gera, com alguma frequência, exigências opostas entre os interesses do público e os interesses dos consumidores. Como bem explicam Chomsky e Hermam “com a publicidade o mercado livre não oferece um sistema neutro no qual, finalmente, é o comprador que decide. As escolhas dos anunciantes são as que influenciam a prosperidade e a sobrevivência dos media”.

A importância da publicidade remonta ao aparecimento da imprensa de massas nas grandes metrópoles modernas, que foi substituindo, a partir da década de 1830, a imprensa vendida por assinatura, a qual mantinha uma relação muito mais estreita com o seu público. Sucedeu isto em finais do sec XIX, quando se consolidou e difundiu este modelo de imprensa industrial, considerada, como o nome indica, como mais uma indústria capaz de gerar grandes volumes de negócio através das receitas publicitárias.

A influência da publicidade pode assumir duas formas: em algumas ocasiões (embora menos frequentes) adopta a forma de uma pressão directa sobre os media ou sobre aqueles que neles trabalham. Os anunciantes com grandes volumes de investimento publicitário reclamam um certo direito a interferir na actividade dos media, pretendendo alterar o seu conteúdo, assim, a neutralidade e a independência dos jornalistas;

A publicidade gera um segundo tipo de influência, mais difusa, mas, simultaneamente, mais persistente e efectiva. Como principal fonte de receitas dos media, a publicidade gera um “deslizamento” mais ou menos permanente nos conteúdos.

Dado que o alcance da mensagem publicitária cresce com o valor de audiência do meio de comunicação social que lhe serve de suporte, a publicidade recompensa, com as suas receitas, os media e os conteúdos com maior difusão no mercado. Este efeito da publicidade favorece a homogeneização da oferta e é tão poderoso que costuma condenar ao desaparecimento os media que não seguem estes critérios generalizados.

Esperemos que isso não venha a acontecer com o jornal A Semana, pois, é inegável o seu papel no reforço do espaço público mediático em Cabo Verde, condição indispensável para o debate entre as diversas correntes de opinião, e, logo, para uma informação livre. Se a moda pega, pode estar em risco a imprensa privada no país, uma vez que o subsídio do Estado é insignificante e se mantém inalterável há vários anos… a não ser se existe alguma “mão invisível” a injectar capital, emenda que será pior que o soneto.

KRIOL RÁDIO

8 comentários:

  1. Mas Carlos Santos trabalha no privado ou no público? Quanto é que a Semana pagou ao jornalista Carlos Santos para escrever esta crítica? O jornal a Semana não é um jornal privado? Carlos Santos não trabalha na Rádio Nacional? A propósito, este site chama-se Kriolrádio, mas no momento em que os próprios jornais já têm as suas próprias rádios não se compreende que este site continue a não dispor de rádio on-line próprio! Aliás vejo também que Carlos Santos elenca uma lista de Radios-on line onde curiosamente não figura a sua própria Rádio que lhe paga o salário. Bizarro as escolhas de Carlos Santos. Ou será que já está a caminho do jornal a Semana?

    Underdôglas

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  2. É "mau perder" e falta de juízo dessas empresas, por sinal mal aconselhadas, e uma delas até é pública.

    Esse é um comportamento delinquente e espero que o jornal consiga outros patrocinadores bem mais conscientes das leis do país.

    Não perceberam os conceitos do exercício da liberdade de expressão e opinião. Coisa, aliás, que o comentador anónimo "Underdôglas" também não percebeu.

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  3. Oh Amilcar, na Net toda a gente é anónima! O seu nome não me diz rigorosamente nada; tão pouco a foto que vi no seu site. Quando não se conhece uma pessoa, a sua foto não nos diz rigorosamente nada; não sei situá-lo no meu ambiente vivencial. Emita a sua opinião, e deixe os outros fazerem a mesma coisa; mas quando é que gente como você vai aprender a decifrar esta nova linguagem da Net, este novo Mundo? E ainda por cima querem ter forçosamente razão. Repito: para mim você também é um comentador anónimo. Se eu tivesse assinado Manuel Ferreira, deixaria de ser um anónimo ou colar-me-ia um outro post-it?

    Underdôglas

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  4. Jornalista é jornalista quer esteja no público ou no privado. É claro que aos jornalistas que trabalham num órgão com obrigações de serviço público é lhe exigido maior rigor no cumprimento da ética e da deontologia. Mas isso não quer dizer que o jornalista deva pavonear ou deitar foguetes só porque um órgão privado vê a sua situação financeira pôr em prigo a sua sobrevivência.

    De resto já hora de se começar a questionar o financiamento da RTC. Estamos muito claramente perante uma concorrência desleal. A RTC para além do subsidio do estado, recebe a taxa dos cidadãos e não tem qualquer limitação na arrecadação de receitas publicitárias... isto é justo? Como ficam os privados?

    Mas nem com todo este dinheiro a RTC pesta aos cabo-verdianos um serviço público de qualidade. O under devia estar mais preocupado com isso, pois, pela garra com que defende a RTC, só pode ter responsabilidades por este estado de coisas.

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  5. Anonimo, eu não defendi com garra nenhuma a RTC! Apenas questionei a postura do jornalista Carlos que trabalho no serviço público estranhando que ele esteja a defender a Semana que como se sabe é privado. Ou será que Semana é privado mas do PAICV? E para a tua informação Anonimo, eu até defendo a mesma análise que tu fizeste e estou plenamente de acordo que o serviço público devia deixar a grande parte da publicidade para o privado. Estás a ver que as coisas não assim tão lineares, que não são assim tão ou branco ou preto?

    Underdôglas

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  6. Assim fico mais descansado

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  7. Anonimo, fazer Radio é uma Arte! Por isso convido-te a ler este pensamento da Arte em CV:

    Se existo, se existo mesmo no meu ser e nas minhas entranhas, se tenho consciência dessa existência do meu ser, entao existe um pensamento artístico em Cabo Verde. E como tenho a absoluta certeza de que existo e de que tenho controlo do meu Ser, entao ha um pensamento da Arte em Cabo Verde. Digo isto porque li em tempos que nao havia um pensamento de arte em CV. Mas como se existo? Mas como se o objecto da minha analise, do meu olhar existe também? Se existe Cidade Velha, se existe Monte Cara, se existe o Mar e o Homem crioulos, porque é que nao existiria um pensamento dessa Arte? O Homem Monte Cara deitado de costas sobre uma montanha de pedra fitando o firmamento num olhar perdido e eterno nao é a prova evidente de que ha Arte em CV? Se Lionel Madeira esculpiu em pedra e em madeira lascada os Montes Cara e Verde, se Toy Firmino pintou o seu Monte Cara, se os irmaos Levy sonharam as montanhas de Sintanton nas suas telas mindelenses e lisboetas, por que diabo havemos de dizer que nao temos uma Arte? Se temos uma arte, temos também um pensamento, porque foi um pensamento é que pensou as obras dos citados. Será arte moderna, contemporânea ou arte pop? Ou arte post war? Eu nao quero debruçar-me sobre os outros mas sobre o que é meu. Eu nunca mijei no bidé de Duchamp e o grito de Munch diz-me mais do que a arte de Picasso. Nao gosto de Matisse, nem de Warhol, mas mamaria as mamas de Sophie Calle e dormiria anos a fio com as telas de Klee, Miró, Dali e Brancusi. Decididamente nao amo as pinturas de Cézanne mas adoro os quadros de Kandinsky e penso afincadamente as artes todas dos nossos crioulos acima citados; penso de tanto pensar que ando a inventar uma linguagem espiritual para essa arte ainda sem a sua escrita...mas existe!

    Underdôglas

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